Brajeiradas quer jornada justa também no campo: Uma reflexão sobre valorização e sustentabilidade
Num contexto em que a discussão sobre a jornada de trabalho vem ganhando força, surge uma questão importante: é possível pensar em uma jornada reduzida para quem trabalha no campo? Tanto os operários agrícolas quanto os camponeses enfrentam longas horas de trabalho pesado e expostos ao rigor do clima, frequentemente sem a valorização ou condições adequadas para uma vida digna.
O debate sobre a redução da escala 6×1, que visa oferecer mais tempo de descanso semanal aos trabalhadores, precisa também ser estendido para incluir uma reflexão sobre melhoria na renda, valorização da produção local e reconhecimento dos serviços ambientais prestados pela preservação da biodiversidade levando a uma redução da jornada de trabalho também no campo.
O trabalho rural exige dedicação diária: a ordenha das vacas, a irrigação das plantações e a alimentação dos animais são cuidados que não podem ser interrompidos e que mantêm o ciclo produtivo. No entanto, com uma renda limitada, muitas famílias camponesas não conseguem contratar mão de obra para implementar uma escala de trabalho adequada, o que as leva a uma rotina intensa e ininterrupta, à qual se submetem para garantir a própria sobrevivência.
Os impactos dessa rotina são percebidos nas condições de saúde da população rural, no envelhecimento precoce e nas dificuldades para a sucessão familiar no campo.
Diante desse cenário, alguns princípios podem orientar o debate sobre a implementação de uma jornada de trabalho mais justa para quem vive e trabalha no campo. Entre eles estão:
Qualidade de vida como direito: Reduzir a jornada de trabalho é um passo importante para proporcionar aos trabalhadores uma vida mais equilibrada, com tempo para o lazer, o descanso e a saúde. Esta redução é especialmente necessária em áreas rurais, onde as condições de trabalho são historicamente mais exigentes.
Justiça social e valorização do trabalho rural: A valorização do trabalho rural passa pelo reconhecimento da importância social e econômica do campo e leva a uma remuneração justa e a garantia de condições dignas de trabalho e de vida.
Sustentabilidade e reconhecimento do serviço ambiental: Camponeses desempenham papéis fundamentais na preservação do meio ambiente, seja na conservação da biodiversidade ou na produção de alimentos e de água. Reconhecer esses serviços prestados à humanidade e ao planeta é um princípio fundamental para permitir o avanço na remuneração justa e, consequentemente, para a redução da jornada de trabalho no campo.
Incentivos econômicos e melhoria da renda: É necessário criar condições econômicas que permitam aos trabalhadores uma remuneração digna sem precisar estender suas jornadas além do necessário. Incentivos à produção sustentável e apoio às práticas agroecológicas podem fortalecer a renda dos trabalhadores rurais, tornando a redução da jornada uma possibilidade real.
Desenvolvimento local e valorização das culturas regionais: A identidade rural muitas vezes carrega uma importância cultural significativa para a região. Apoiar o desenvolvimento local e os produtos regionais ajuda a fortalecer as comunidades e a garantir que o trabalho no campo seja economicamente viável.
Solidariedade e justiça intergeracional: Uma jornada sustentável pode tornar o campo um espaço mais atraente para as novas gerações, possibilitando uma renovação saudável e sustentável do trabalho rural. Esse princípio facilita a adaptação às demandas e aspirações dos jovens, promovendo a sucessão familiar no campo.
Para que esses princípios se traduzam em realidade, algumas estratégias são fundamentais:
Valorização da produção camponesa com melhoria da renda: Políticas públicas podem reconhecer o valor da produção camponesa e apoiar a diversificação e a produção sustentável. O incentivo ao consumo de produtos locais é uma forma de fortalecer a economia rural e aumentar o reconhecimento do trabalho desses produtores.
Reconhecimento do serviço ambiental: Criar políticas de pagamento por serviços ambientais para os produtores que preservam áreas naturais e praticam a agroecologia é uma maneira de reconhecer e promover o papel do campo na sustentabilidade do planeta.
Integração campo-cidade: A cidade depende do campo para manter a sustentabilidade do seu abastecimento. Ao apoiar uma jornada justa no campo, a sociedade urbana fortalece o campo e promove um desenvolvimento mais equilibrado e solidário.
A redução da jornada de trabalho no campo é mais do que uma questão de direitos trabalhistas — é um caminho para uma sociedade mais justa, sustentável e conectada com a natureza. Um campo valorizado e respeitado beneficia não apenas os trabalhadores rurais e camponeses, mas também a sociedade como um todo, que depende de sua produção e de seu cuidado com o meio ambiente.
De que forma a nossa sociedade pode refletir e apoiar aqueles que trabalham para alimentar o país e preservar nossa biodiversidade? Pense nisso!