Transgênicos: a convivência impossível
Para produtor cumprir isolamento entre lavouras, milho de agricultor familiar foi destruído duas vezes. O caso se passou em São Mateus do Sul, Paraná, em janeiro de 2010. Essa convivência impossível cerceia a liberdade das famílias agricultoras e o pleno exercício de seus direitos.
POR UM BRASIL ECOLÓGICO
LIVRE DE TRANSGÊNICOS E AGROTÓXICOS
19 de fevereiro de 2010
Car@s Amig@s,
Para produtor cumprir isolamento entre lavouras, milho de agricultor familiar foi destruído duas vezes
O caso se passou em São Mateus do Sul, Paraná, em janeiro de 2010
Um produtor da região resolveu adotar as sementes de milho transgênico em sua lavoura de mais de 240 hectares. Plantou a área toda mas não isolou sua lavoura da área do vizinho. Uma regra federal diz que o produtor que usar milho transgênico deve manter sua plantação a pelo menos cem metros de distância de outros plantios de milho. Ou então ele deve fazer uma bordadura de dez fileiras de milho comum e deixar além disso 20 metros de distância das outras lavouras.
A área de cerca de 1 hectare de milho convencional de Mário Macuco estava na divisa das suas propriedades, separada apenas por uma faixa de mato de não mais de 1 metro. Esse milho seria ensilado para alimentar as vacas de leite do casal durante o inverno.
A fiscalização do Ministério da Agricultura recebeu denúncia e foi ao local. Após a visita, o produtor propôs comprar o milho de Mário para poder destruí-lo. A medida sairia muito mais barato do que pagar a multa ou destruir uma faixa de 100 metros de sua lavoura ao longo da divisa com a área de Mário. Num gesto de boa vontade com o vizinho, Mário concordou e assinou um contrato de venda de seu milho que ainda crescia. Poucas horas depois que um trator picou e gradeou o milho comum, os fiscais voltaram à área e não viram mais nenhuma irregularidade.
Terminada a vigência do contrato, o casal plantou novamente milho na área, já que precisavam dele para encher os silos. Para a surpresa de todos, quando o milho já estava com um metro de altura, novamente o produtor propôs a Mário a destruição da lavoura. A essa altura, a lavoura transgênica já formava espiga e não havia mais risco de cruzamento. Mesmo assim o produtor pressionou e ofereceu um cheque de R$ 2 mil e uma outra lavoura sua para que fosse feita a silagem.
Novamente ele pôde contar com a boa vontade e resignação do casal. Depois que o milho foi novamente para o chão, os fiscais visitaram a área. Em nenhuma dessas vistorias a família prejudicada foi procurada.
A área de milho oferecida para que Mário fizesse a silagem que necessitam fica a alguns quilômetros de sua propriedade, o que inviabiliza a picagem do milho e seu transporte. A promessa era que o milho fosse deixado em sua propriedade, mas após cortar o segundo plantio, o produtor disse apenas que o milho estava lá à disposição, e que se quisesse ele poderia ir lá buscá-lo.
O produtor escapou da multa e se livrou de destruir parte de sua lavoura. Os fiscais coincidentemente visitaram a área momentos após a situação ter sido resolvida. O casal ficou sem a silagem e ainda não sabe como fará para alimentar seus animais durante o inverno.
Mas para aqueles que acreditam que um raio não cai duas vezes no mesmo lugar, a história ainda não acabou. Enquanto crescia o segundo plantio do milho, no início de janeiro, um avião sobrevoou a lavoura transgênica para aplicar algum produto químico. Suas manobras foram feitas sobre uma lavoura de feijão que Mário e sua família colhiam manualmente naquele momento, atingindo também uma área de pasto e uma lavoura de mandioca, tudo isso sem o piloto fechar o tanque. Vacas, curral, lavouras, floresta (com erva mate e pasto sombreado) e pasto foram banhados por um produto de cheiro forte, mas que não foi identificado. Dona Alberta, esposa de Mário, tentou acionar IAP (Instituto Ambiental do Paraná) e SEAB (Secretária Estadual de Agricultura), mas os técnicos responsáveis estavam de férias. Conseguiu contato com o Sindicato de Trabalhadores Rurais e com a Polícia Militar. O avião parou de voar. Um técnico da cooperativa local que fornecera os insumos correu para o local e disse que as vacas deveriam ficar fechadas uma semana no curral em função do período de carência do veneno usado. O casal recebeu alguns sacos de farelo de trigo para compensar a semana sem pasto.
Apesar do cheiro forte, disseram que o milho transgênico recebia fertilizante foliar. Depois, disseram tratar-se de fungicida. Mas como o produto foi aplicado na fase final do ciclo da lavoura, a questão permanece em aberto. Uma doença nessa fase não causaria prejuízo que pudesse justificar sua pulverização. Muito menos uma aplicação de adubo foliar! A SEAB finalmente foi ao local e abriu procedimento para investigar o caso. Enquanto isso a família segue sem saber a que tipo de contaminação eles e toda a sua propriedade foram submetidos.
Mas, mesmo se as investigações avançarem, o caso deixa mais que evidente como essa convivência impossível cerceia a liberdade das famílias agricultoras e o pleno exercício de seus direitos. O casal tinha um planejamento da propriedade que vinha sendo executado há vários anos, sendo que nos últimos 3 começaram a comprar as vacas, adquiriram um tanque refrigerador de maior capacidade para o leite e vinham organizando a propriedade para esta atividade e todas as demais que integram sua estratégia de desenvolvimento.
Ao falar com a família agora é perceptível a dúvida que paira sobre eles. Com sua área pequena, ao lado de um grande produtor, eles consideram que estarão sempre em risco, pois com o avanço dos transgênicos sempre virão mais venenos e cada vez piores.
E agora? Como se paga o sonho destruído?
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Campanha Brasil Ecológico, Livre de Transgênicos e Agrotóxicos
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