Samarco modifica acordo e prejudica pescadores afetados por crime ambiental

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País Brasil

"A bacia do Vale do Rio Doce tem mais de 900 km de extensão. Por conta do crime ambiental que despejou toneladas de lama tóxica nos rios de Minas Gerais e do Espírito Santo, 19 pessoas morreram. Segundo o Movimento de Atingidos por Barragens mais de 1 milhão de moradores da bacia do rio Doce não foram reconhecidos como atingidos".

- Foto por Leonardo Mercon/ONG Último Refúgio.

Os pescadores que estão recebendo a indenização emergencial da mineradora Samarco, responsável pelo maior crime ambiental do país que contaminou toda a bacia do rio Doce, foram surpreendidos com uma decisão judicial liminar alterando o acordo de reparação.

O vazamento da barragem de rejeitos da mineradora Samarco aconteceu no final de 2015 e até agora a Fundação Renova, instituição criada para coordenar as ações de reparação, não completou o cadastro de todos os atingidos. Nove mil pescadores foram cadastrados, sendo que cerca de mil efetivamente recebem a compensação emergencial, pois o rio não tem mais peixes há três anos.

“A situação ainda é crítica, já que muitos ainda não receberam nada. Não receberam basicamente por duas razões: desorganização da Renova e o não reconhecimento da Renova de algumas áreas como áreas impactadas”, disse o advogado Leonardo Amarante, advogado das organizações Colônias e Federação de Pescadores que reúnem ambas cerca de 9 mil pescadores afetados no Espírito Santo e em Minas Gerais, por onde passa o rio Doce.

O acordo de indenização foi firmado entre a Samarco, a Justiça e os governos estaduais e federal. Para acompanhar e fiscalizar as ações foi criado o CIF (Conselho Interfederativo). No entanto, a mineradora manobrou na Justiça para alterar o acordo. A decisão, em favor da empresa, saiu no dia 27 de dezembro, em pleno recesso do Judiciário e foi concedida pelo juiz Mário de Paula Franco Júnior.

“Essa liminar foi dada sem ouvir nenhum dos impactados ou suas entidades representativas e, se mantida (pois haverá recurso), esvaziará e modificará, de forma absurda, os acordos já realizados. Ela permite que a Samarco desconte o auxílio financeiro dos lucros cessantes”, disse o advogado. Ou seja, os valores das indenizações por perdas e danos aos atingidos (lucros cessantes), seriam reduzidos ao descontar o valor dos auxílios financeiros emergenciais já pagos. Esta possibilidade não constava no acordo assinado entre a empresa e os atingidos.

Mudança de regras

A proposta de acordo feito entre a Samarco e os atingidos contemplava o ressarcimento por lucros cessantes, dano material e dano moral, além da continuidade do pagamento do auxílio emergencial.

“Num acordo as partes fazem concessões mútuas, e cada um abre mão de uma parte. No caso, por exemplo, o dano moral foi baixo, cerca de R$ 10 mil reais, o que seria compensado pelo valor dos danos materiais e lucros cessantes. Ou seja, a Samarco quer fatiar o acordo, depois dele ter sido feito. Melar o jogo depois de terminado”, disse o advogado.

Outro lado

Em nota, a Fundação Renova informou que “analisa a operacionalização” da liminar que permite o corte no valor total das indenizações, com o desconto do que já foi pago. Ainda segundo a fundação, até novembro de 2018, foram pagos R$ 1,3 bilhão em auxílios financeiros e indenizações.

No estado do Espírito Santo, onde segundo o advogado Leonardo Amarante muitos pescadores ainda não foram cadastrados, a Renova informou que cerca de 3,8 mil pescadores foram reconhecidos como atingidos, tendo direito ao Auxílio Financeiro Emergencial (AFE) e/ou ao Programa de Indenização Mediada (PIM). Ao todo, foram desembolsados R$ 380 milhões entre indenizações e auxílios financeiros emergenciais para esta categoria.

A bacia do Vale do Rio Doce tem mais de 900 km de extensão. Por conta do crime ambiental que despejou toneladas de lama tóxica nos rios de Minas Gerais e do Espírito Santo, 19 pessoas morreram. Segundo o Movimento de Atingidos por Barragens mais de 1 milhão de moradores da bacia do rio Doce não foram reconhecidos como atingidos. 

- Edição por Mauro Ramos.

Fonte: Brasil de Fato

Temas: Minería

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