Riscos associados à produção de plantas transgênicas e de cultivos resistentes a herbicidas
Pouco mais de três de cada quatro hectares que são cultivados com plantas transgênicas no mundo são de plantas resistentes a herbicidas, notadamente a produtos à base de glifosato
Um estudo recente de dois pesquisadores da Universidade de Iowa, nos EUA, publicado na revista Pest Management Science, levanta uma série de riscos associados à produção de plantas transgênicas e de cultivos resistentes a herbicidas.
Embora eles tratem das dificuldades de segregação e da rejeição de mercados a produtos transgênicos, o objeto do estudo é o impacto que a adoção de sementes resistentes a herbicidas vem causando sobre as plantas espontâneas (também chamadas de ervas daninhas). Estas plantas, sob uso continuado de um mesmo produto, alteram seu comportamento e acabam por tornar seu o controle mais difícil. Além do desenvolvimento de resistência ao herbicida (o estudo cita a Conyza canadensis L.), algumas espécies alteram sua época de emergência. Estes pesquisadores relatam também que a pressão de seleção exercida pelo herbicida sobre as plantas espontâneas tem levado a um aumento populacional de algumas espécies, como trapoeraba (Commelina cumminus L.), erva-de-são-joão (Chenopodium album L.) e cipó-de-veado (Polygonum convolvulus L.).
Uma pesquisa anterior, de 2003 (Duke et al. J. Agric. Food Chem. 51:340-344), encontrou resíduo de glifosato e de seus metabólitos em sementes produzidas por plantas de soja transgênica que haviam sido tratadas com as dosagens do produto recomendadas no rótulo, sugerindo que o herbicida pode afetar o crescimento e a produtividade da soja transgênica. Apesar da ausência total de dados oficiais sobre o desempenho da soja transgênica no Brasil, no Rio Grande do Sul os agricultures comentam que a soja RR produz cerca de 10 a 25% menos que a soja não-transgênica. Há relação entre o que apontou o estudo e o que acontece no Rio Grande do Sul? Não se pode afirmar nem que sim nem que não. Está aí uma boa linha de pesquisa a ser desenvolvida.
Há também o caso, relatado no Boletim 236, em que as próprias culturas transgênicas passam a aparecer nos campos como plantas indesejadas. Isso acontece, por exemplo, em rotações de milho e soja Roundup Ready onde as sementes que ficam no solo após a colheita brotam no meio do cultivo subseqüente e não podem ser controladas pelo Roundup, já que são resistentes.
Os autores de Iowa levantam estas preocupações sobre o rumo que está tomando o manejo de plantas espontâneas e se perguntam se as alterações provocadas pelo uso de sementes transgênicas não serão um problema de significativa importância econômica para o futuro da agricultura.
Dificilmente deixarão de ser, ainda mais considerando-se que as regiões onde se cultivam as sementes RR há mais tempo revelam que o uso do Roundup e de outros herbicidas cresce -- justamente pelos problemas apontados pelo estudo. Ou seja, quanto mais herbicida, mais mato resistente. Mais mato resistente, mais herbicida. E por aí segue-se com esse espiral de insustentabilidade.
Aqui no Brasil isso foi vendido à sociedade como modernidade, avanço tecnológico e um progresso necessário para o país "não perder o bonde da história". Acreditam inclusive que as multinacinais da agroquímica fariam o gesto altruísta de lançar no mercado produtos que eliminariam o uso daquilo que há décadas são suas principais fontes de receita.
Campanha Por um Brasil Livre de Transgênicos
Boletim Número 252 - 06 de maio de 2005