"Retomadas quilombolas" transformam monocultivos em produção agroecológica no ES
Desde os anos 60, a paisagem do norte do estado do Espírito Santo passou a ser dominada, em grande parte, pelo monocultivo de eucalipto para uso industrial, que, junto com as pastagens, vêm aumentando o processo de desertificação da região.
Com a expansão do eucalipto também veio a expulsão da população do campo. Nos quilombos localizados no Sapê do Norte, região dos municípios de Conceição da Barra e São Mateus, mais de 90% da população quilombola migrou para as cidades desde os anos 60.
Um desses casos foi o de Antônio de Oliveira, conhecido como Antônio Sapezero, que chegou a viver com a família na periferia de VIla Velha, na Grande Vitória. Mas decidiu voltar e lutar pela terra. "Os homens estão presos nas periferias, se matando. Sangue. Os capitalistas trancam o povo lá sem perspectiva de vida, quantos milhões de desempregados nós temos? Então o homem quando retoma a terra, por que ele tá retomando? Por que eu retomei? Eu sou um jovem quilombola, nasci excluído desse processo, sem dinheiro. Então como vou voltar pra terra sabendo que o meu foi roubado, que uma companhia me roubou?"
Mas nas terras onde antes predominava o eucalipto e que pertenciam historicamente aos quilombos foram recuperadas a partir da mobilização popular. Hoje, são cerca de 15 áreas de retomadas entre os quilombos da região.
Uma das primeiras aconteceu há mais de 10 anos na comunidade de Linharinho, onde vive Sapezero. A produção de alimentos por meio da agroecologia é a grande aposta de muitas deles. "Quando a gente chegou aqui isso aqui tava no eucalipto em 2007. Uma área devoluta que por 40 anos a empresa usou para plantio de eucalipto. Aqui existiam as plantas nativas, aqui existia uma mulher, Dona Senhorinha, que teve a casa queimada para esses grileiros chegarem. A gente sabia que esse lugar tinha uma pedida de justiça muito grande. 0:49 Então por essa região estar dentro de um quilombo onde tá sendo pleiteado e por a gente conhecer todo esse histórico foi por isso que eu vim para aqui para refazer o que nossos antepassados já fez aqui e que outrora foi perdido".
Agora uma casa de pau a pique dá abrigo à família. No local da retomada foi cavado um poço, construído viveiro, estufa, galinheiro, sistema de irrigação. O cuidado com a água foi fundamental para conseguir produzir alimentos. "Isso aqui estava devastado pelo eucalipto e hoje a água voltou. Lá embaixo temos um processo de agrofloresta. A nossa volta para a terra é com um objetivo, de produzir dentro da agroecologia, que é essa caminhada que nos reforçou a voltar para terra. Porque eu estou criticando a empresa, e tenho que criticar mesmo esse modelo de agronegócio que tá destruindo. Então agora tenho que fazer minha parte".
Antonio Sapezero relata que as retomadas tiraram várias famílias da fome, além de conseguir abastecer a cidade. E enquanto trabalha na agricultura, compõe canções para encantar a vida.
Edição: Daniela Stefano
Fuente: Brasil de Fato