Recursos genéticos do trigo em perigo

A revista “The Scientist”, conhecida por reportagens e noticias com impacto na mídia americana e internacional, reagiu positivamente à campanha lançada pelo cientista brasileiro Nagib Nassar, professor da UnB

Nagib, há um ano, apela, em site da sua sociedade, “International Society of Food Agriculture and Environment: http://www.ISFAE.org”, para que as autoridades mundiais interfiram e cancelem uma lei que permite introduzir e plantar trigo transgênico no Iraque.

Segue a reportagem publicada pela revista nesta semana:

Trigo transgênico pode acabar com a diversidade gênica da cultura em seu centro de origem

Lei recente, que permite que agricultores iraquianos plantem trigo transgênico, é criticada, pois ela pode acabar com a diversidade genética da cultura em seu centro de origem.

"Trigo transgênico significa substituir a diversidade genética dessa cultura, em seu centro de origem, e levá-la à extinção", adverte Nagib Nassar professor de Genética da Universidade de Brasília:

“Essa diversidade será substituída por monocultura de base genética muito restrita. Isto é um problema grave, uma catástrofe!”.

A Lei nº. 81 é uma dentre as 100 leis lançadas pela autoridade de coalizão provisória em 2004. Essa lei autoriza, pela primeira vez, a introdução de culturas transgênicas no Iraque e estabelece direitos intelectuais para desenvolver novas variedades.

Não foi a primeira vez que os agricultores iraquianos enfrentaram modificações genéticas.

Há mais de quatro mil anos eles as conheceram de modo diferente, selecionando suas variedades e as modificando geneticamente a partir de aproveitamento de hibridações genéticas, que acontece na natureza.

A Lei nº. 81 proíbe aos iraquianos o uso de sementes de qualquer cultura patenteada e os obriga a comprar essas sementes das empresas produtoras.

Há ainda críticas de outras organizações não governamentais como Grain e Focus.

Essas ONGs dizem que donos de agronegócios americanos criaram a Lei nº. 81 para mudar a agricultura iraquiana a culturas de dinheiro, porque eles têm medo de uma revolução verde que surge a partir desses ricos recursos genéticos do Iraque.

As autoridades oficiais, que trabalham no Iraque, dizem que essa preocupação não tem base. Assim argumenta funcionário das nações unidas Tekeste Tekie. Ele adiciona: “Não acredito que exista alguém que tente empurrar transgenicos aos iraquianos”.

O Iraque ainda necessita de uma ajuda para reconstituir sua capacidade agrícola. Em 2003, antes da invasão americana, ele plantava 5 milhões acres do trigo. Agora são somente 1 milhão.

Considerando as condições atuais daquele país, alguns experts acham que o Iraque não está em posição para adotar culturas transgênicas.

Qualquer introdução de trigo transgênico à região deve receber extrema cautela e estudos muito cuidadosos. O Iraque não tem infra-estrutura para esse tipo de cautelas e cuidados.

A maior ameaça ao trigo como patrimônio da humanidade no Iraque ocorre quando os agricultores deixam de usar suas sementes nativas, ricas pela diversidade genética, em favor das novas variedades transgênicas.

Além disso, as áreas onde crescem as espécies silvestres vão ficar povoadas e essas espécies vão extinguir. Essas áreas devem ser protegidas.

Links para o artigo

Nagib Nassar: http://www.geneconserve.pro.br
Focus on the Global South: http://www.focusweb.org
Grain: http://www.grain.org
The Scientist: http://www.The-Scientist.com
International Society of Food, Agriculture and Environment: http://www.ISFAE.org

Fuente: Jornal da Ciência e-mail 2907, de 02 de Dezembro de 2005.