Privatização dos recursos genéticos
A privatização dos recursos genéticos pelas multinacionais foi o principal receio dos pioneiros do movimento de conservação da biodiversidade na década 1970
O eminente cientista da genética e melhoramento Warwick kerr me escreveu essa semana: “Concordo plenamente com o que você disse quanto aos transgênicos como mutações artificiais e prejudicais, pois elas não têm como perpetuar a espécie, nem produzem organismo apto”.
Acrescentou ainda: “Descobri recentemente uma mutação natural da cor verde escura em Alface que aumentou a vitamina A nessa cultura em até 20 vezes”.
E mais: “Por ser uma mutação natural com menor efeito morfológico e fisiológico sobre a planta, o organismo sobreviveu, perpetuou-se e produziu sementes abundantes, permitindo propagá-la sexualmente. Consegui produzir uma das melhores variedades conhecida até agora”.
“A minha preocupação agora” – continua Warwick – “é com o risco da entrada em cena de uma corporação comercial multinacional ou nacional e que venha tomar conta dessa descoberta, privatizando-a e impedindo o povo de se beneficiar livremente da descoberta.”
Warwick tem plena razão.
A privatização dos recursos genéticos pelas multinacionais foi o principal receio dos pioneiros do movimento de conservação da biodiversidade na década 1970, que levou à demissão, da FAO, das Nações Unidas, em 1975, de uma das líderes do movimento. (veja Erna Bennett: A Lifetime of Conservation, no site http://www.geneconserve.pro.br/biography)
A corrida das corporações multinacionais para maior enriquecimento de seus acionistas faz com que elas tomem conta dos recursos genéticos públicos, criando transgênicos venenosos e manipulando agentes comerciais que torcem pelas falsas teorias, sem base experimental alguma.
Essas corporações impõem as suas idéias a força sobre nós, através de seus gigantes e influentes meios de propaganda e comunicações.
O que um jornal nacional publicou nesta semana em seu editorial dizendo que a oposição aos transgênicos é motivada por razoes ideológica está totalmente errada.
Jean Marc Weid explicou no mesmo dia o contrário, usando em seu argumento relatório da própria comissão da OMS (Organização Mundial da Saúde).
Com base no artigo de Jean Marc, vemos como foram ignoradas pelo referido editorial as tentativas das multinacionais de esconder os resultados de pesquisa sobre o efeito mortal de transgênicos.
Vale lembrar, também, os milhares de casos de alergia ao consumo de certas variedades de milho bt. Há, ainda, a contaminação do meio ambiente por ervas monstros e a extinção dos polinizadores.
Nagib Nassar ( http://www.geneconserve.pro.br ) é professor titular de Genética da UnB. Artigo enviado pelo autor ao "JC e-mail".