Monsanto admite inseto resistente pelo uso de algodão Bt
Não é de hoje que organizações indianas de agricultores e de assessoria denunciam o desastre das lavouras de algodão Bt (tóxico a insetos) no país. São inúmeros os relatos de problemas, que vão desde o não controle das lagartas que atacam a planta, até baixa performance produtiva e má formação das maçãs (frutos onde se forma a fibra).
Número 483 - 01 de abril de 2010
Car@s Amig@s,
As sementes são caríssimas e o fracasso das colheitas tem levado muitos agricultores à completa ruína. Este fenômeno tem sido associado também aos altíssimos índices de suicídio entre agricultores nas regiões produtivas. A Monsanto investiu pesadamente em propaganda e, apesar de todos esses problemas, conseguiu espalhar as lavouras de algodão Bt (conhecidas como Bollgard) por todo o país.
A novidade agora é que a própria Monsanto declarou que um inseto praga do algodão desenvolveu resistência ao seu Bollgard na Índia. A empresa disse que “detectou sobrevivência incomum” de lagartas alimentadas com o algodão modificado que contém o gene Cry1Ac, que codifica a produção de uma proteína tóxica a alguns insetos. A informação está publicada na revista Science de 19 de março ( www.sciencemag.org, vol 327 - Hardy Cotton-Munching Pests Are Latest Blow to GM Crops).
A empresa alega ser o “primeiro caso no mundo de resistência relevante a campo aos produtos Cry1Ac”. Mas nós sabemos que isto não é verdade, e a própria Science menciona que “Bruce Tabashnik, da Universidade do Arizona em Tucson (EUA), diz que cientistas já haviam relatado resistência a lavouras Bt na África do Sul e nos Estados Unidos.”
Pushpa M. Bhargava, ex-diretor do Centro de Biologia Celular e Molecular, em Hyderabad, que colaborou com o governo indiano no processo que levou à proibição da berinjela transgênica na Índia, declarou à Science que “Isto deve ser um alerta. A Índia deveria estabelecer imediatamente uma moratória de dez anos sobre o uso e o cultivo de organismos transgênicos”.
Mas a suposta rendição da múlti estadunidense às evidências científicas tem no fundo motivação comercial. O próprio artigo da Science dá a pista: “muitos dizem que o objetivo da empresa é induzir os clientes a comprar a semente Bollgard II, que é mais cara”. Os híbridos Bollgard II produzem duas proteínas Bt, ao invés de apenas uma como as sementes Bollgard.
A Índia é o segundo maior produtor de algodão, depois da China. O algodão transgênico foi introduzido no país em 2002 e, segundo estimativas do Instituto Central de Pesquisa sobre o Algodão, de Nagpur, alcançou 83% da área plantada com algodão no ano passado.
O Brasil já saiu na frente abrindo mercado para a Monsanto e outras. Aqui já foram liberados comercialmente 6 tipos de algodão transgênico, entre eles os Bollgard I e II. Ou seja, segue-se apostando em soluções “mais do mesmo”. Quanto mais veneno se aplica numa lavoura, mas pragas aparecem. Da mesma forma, quanto mais transgênico se usa, mais pragas aparecem. As empresas, claro, estão sempre a postos para de pronto oferecer novidades tecnológicas: mais agrotóxicos e mais transgênicos.
Confira trecho do vídeo O desastre do algodão transgênico na Índia, produzido pela Deccan Development Society e pela Andra Pradesh Coalition in Defense of Diversity: Em Pratos Limpos
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Neste número:
1. Colômbia: Instituto multa Monsanto por sementes fajutas de algodão
2. China autorizou arroz transgênico, mas omitiu a informação
3. Sinal amarelo para a soja transgênica
4. Defensivo irregular
5. Rio ganha lei que bane sacola plástica
A alternativa agroecológica
Articulação no Semiárido: a vida humana no centro das experiências
Dicas de fontes de informação:
- Transgênicos no programa Roda Viva:
Jeffrey Smith será o entrevistado do Roda Viva que irá ao ar na próxima segunda 5 às 22h pela TV Cultura. O americano é jornalista e há anos dedica-se a pesquisar e documentar os impactos dos transgênicos à saúde. Smith é autor dos livros Seeds of Deception e Roleta Genética, este editado no Brasil. É também diretor executivo do Institute for Responsible Technology.
- O Nead (Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural / Ministério do Desenvolvimento Agrário) acaba de lançar o documento “ Seminário sobre Proteção da Agrobiodiversidade e Direito dos Agricultores - propostas para enfrentar a contaminação transgênica do milho”, uma sistematização das apresentações e dos encaminhamentos do encontro realizado em Curitiba em agosto de 2009.
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Campanha Brasil Ecológico, Livre de Transgênicos e Agrotóxicos
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