Menos de 100 empresas responderiam por 66% das emissões
Um novo estudo do Instituto de Responsabilidade Climática do Colorado sugere que apenas 90 empresas são responsáveis por causar dois terços, ou 66%, das emissões de gases do efeito estufa (GEEs) ligadas ao aquecimento global e às mudanças climáticas recentes.
A reportagem é de Jéssica Lipinski, publicada pelo Instituto Carbono Brasil, 21-11-2013.
Segundo o levantamento, publicado no periódico Climatic Change, entre essas companhias estão 50 empresas privadas, como a Chevron, a Exxon e a BP, 31 estatais, como a árabe Saudi Aramco, a russa Gazprom e a norueguesa Statoil, e nove governamentais, localizadas principalmente na China, União Soviética, Coreia do Norte e Polônia.
Os autores afirmam que a grande maioria das companhias presentes nessa lista está em setores ligados à produção de combustíveis fósseis, como petróleo, gás e carvão. “Há milhares de produtores de petróleo, gás e carvão no mundo. Mas os tomadores de decisão, os CEOs ou os ministros de carvão e petróleo [...] poderiam todos caber em um ônibus ou dois”, colocou Richard Heede, cientista climático e principal autor da pesquisa, ao jornal The Guardian.
De acordo com a análise, muitas das firmas listadas possuem enormes reservas de combustível fóssil que, se consumidas, exporiam o mundo a riscos ainda maiores de mudanças climáticas. O ex-vice-presidente dos EUA e ambientalista Al Gore elogiou o documento.
“Esse estudo é um passo à frente essencial em nosso entendimento da evolução da crise climática. Os setores público e privado devem fazer o que é necessário para parar o aquecimento global. Os que são historicamente responsáveis por poluir nossa atmosfera têm uma obrigação clara de ser parte da solução”, observou Gore.
A pesquisa aponta que metade dessas emissões foi produzida desde 1986, isto é, depois que os governos e empresas se tornaram cientes do aumento da liberação de GEEs proveniente da queima de combustíveis fósseis, e de que estes GEEs ajudam a potencializar as mudanças climáticas.
O estudo indica também que as 90 companhias da lista produziram as emissões entre 1854 e 2010, somando cerca de 914 gigatoneladas de emissões de CO2, ou 63% das emissões globais cumulativas de dióxido de carbono industrial e metano . Foram 315 gigatoneladas produzidas pelas empresas privadas, 288 pelas estatais e 312 pelas governamentais. Além disso, 30% de toda a liberação de CO2 foi produzida por apenas 20 das maiores poluidoras.
Os dados mostram que as firmas governamentais de petróleo e carvão na ex-União Soviética produziram mais emissões de gases do efeito estufa do que as de qualquer outro país, com 8,9%. Em segundo lugar vêm as empresas governamentais da China, com 8,6% da liberação.
Já a Chevron foi a maior emissora no quesito de companhias privadas, com 3,5% da liberação de GEEs, seguida pela Exxon, com 3,2%, e pela BP, com 2,5%. Os dados de emissões históricas foram coletados do Centro de Informação e Análise de Dióxido de Carbono, que leva em conta a liberação de CO2 de toda a cadeia de suprimentos.
Naomi Oreskes, professora de história da ciência de Harvard, comentou que é interessante notar que muitos dois maiores emissores pertencem a movimentos de ceticismo climático. “Para mim, uma das coisas mais interessantes para se pensar é coincidência entre produtores de grande escala e o financiamento de campanhas de desinformação, e como isso tem atrasado a ação.”
Especialistas acreditam que as descobertas são importantes para identificar de que países vêm as emissões. “Parece que talvez isso possa acabar om o impasse. Há todos os tipos de países que produziram uma grande quantidade de emissões históricas que normalmente não falamos. Normalmente não falamos do México ou Polônia ou Venezuela. Então não é apenas rico versus pobre, é também produtores versus consumidores, e rico em recursos versus pobre em recursos”, acrescentou Oreskes.
Emissões, uma ameaça à segurança alimentar
"No ritmo que estamos consumindo, no longo prazo vamos culminar na exaustão dos recursos naturais. Já estamos colocando nossa qualidade de vida, dos nossos descendentes e o nosso futuro em risco.", escreve Fernanda Pinheiro Monteiro, consultora de sustentabilidade da Keyassociados, em artigo publicado por Envolverde, 21-11-2013.
Eis o artigo.
Desde agosto estamos consumindo mais do que a Terra poderia nos fornecer para o ano; também passamos dos 400 ppm de CO2 (partes por milhão), nível considerado limite pelos cientistas para evitar os piores cenários do clima, e agora a temperatura média do planeta poderá subir entre 2 e 6 graus centígrados até o final deste século.
No ritmo que estamos consumindo, no longo prazo vamos culminar na exaustão dos recursos naturais. Já estamos colocando nossa qualidade de vida, dos nossos descendentes e o nosso futuro em risco. Todos esses fatores relacionados às atividades humanas (queima de gases de combustíveis fósseis, como petróleo, carvão mineral e gás natural) são as principais causas do aquecimento global que intensifica o efeito estufa e ameaça a segurança alimentar global, já que aumenta o surgimento e a disseminação de pragas e doenças, sugere um novo estudo publicado no periódico científico Nature Climate Change.
Nos últimos seis anos foram realizados estudos do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas para projetar como o Brasil sofrerá com os impactos do aumento das temperaturas provocadas pelo aquecimento global. Os resultados mostram que o país ficará mais quente e terá uma mudança no regime de chuvas afetando muito a agricultura, parte fundamental do PIB brasileiro. No Sul e no Sudeste do Brasil, regiões que costumam sofrer com enchentes e deslizamentos, poderão sofrer ainda mais já que as chuvas se tornarão mais fortes e frequentes. Já no Nordeste, tende a ocorrer o oposto: mais diminuição no regime de chuvas e secas mais frequentes.
E afirmando o que outros estudos apontavam, nossa maior preocupação é com a Amazônia, onde a área mais ameaçada pelas mudanças será na parte mais suscetível à expansão da fronteira agrícola. Outra ameaça à Amazônia é a continuidade do desmatamento pela alteração na temperatura. Caso a Amazônia perca cerca de 40% da cobertura florestal, poderá existir uma mudança drástica na temperatura e um aquecimento regional de até 4ºC.
Quanto à agricultura, as previsões científicas apontam que se as emissões continuarem no mesmo patamar, nos próximos sete anos o plantio de soja perderia 20% de sua produtividade e 24% até 2050. Pragas e doenças estariam aliadas às mudanças climáticas já que se tornariam presentes em locais que antes não existiam. Hoje em dia é comum países altamente desenvolvidos na área agrícola serem capazes de monitorar e administrar pragas e doenças emergentes. O problema é que com o aumento da temperatura da Terra se as pragas forem em direção aos polos (onde estão os países que possuem os melhores rendimentos em suas plantações) o efeito seria o aumento na perda de colheitas, o que representaria uma ameaça à segurança alimentar devido ao crescente aumento da população global.
O setor agrícola é o que tem se preparado melhor para as mudanças climáticas, tem planos de adaptação e mitigação mais avançados até o momento. Algumas das soluções passam pela adaptação, como manejo diferenciado e consorciado, modificações genéticas e adubação correta. O cuidado com novas infestações e o controle para minimizar a disseminação de doenças devem ter esforços renovados e maior monitoramento já que as mudanças climáticas facilitam a disseminação de pragas. O governo deve estar atento às mudanças climáticas, alertar que os impactos não ocorrem só fora do Brasil e para o fato de que os danos podem ser sociais, ambientais e econômicos.
Sustentabilidade, muito além da questão ambiental, artigo de Gelma Reis
"A ideia de planejamento de política ambiental surge do principio de sustentabilidade, que compreendemos como o que fornece as bases sólidas para um estilo de desenvolvimento humano que preserve a qualidade de vida da espécie do planeta. A sustentabilidade política é uma forma de fazer política sem degradar os outros meios, ou seja, é uma ideia de equilíbrio em todos os campos, seja ele social, econômico, político ou ambiental", escreve Gelma Reis, mestre em Tecnologia Ambiental, em artigo publicado por EcoDebate, 22-11-2013.
Eis o artigo.
Para um empreendimento humano ser sustentável, tem de ter em vista quatro requisitos básicos: Ecologicamente correto, Economicamente viável, Socialmente justo e Culturalmente aceito pela sociedade. A sustentabilidade abrange vários níveis de organização, desde a vizinhança local até o planeta inteiro.
Colocando em termos simples, a sustentabilidade é prover o melhor para as pessoas e para o ambiente tanto agora como para um futuro indefinido. E através de um desenvolvimento sustentável identificar as dimensões e escalas definindo a amplitude de sua atuação.
Enquanto na dimensão política a sustentabilidade é construída através de agentes sociais, que atuam no ambiente sócio-econômico-cultural, recebendo do poder público possibilidades no controle de recursos para decisões políticas. Na escala local, o desenvolvimento encontra na forma participativa de gestão o instrumento de consenso necessário para atuação desses agentes. Tendo como objeto principal a dimensão política da sustentabilidade na escala local, especificamente na elaboração de políticas públicas com o objetivo de uma gestão mais participativa e popular.
É possível afirmar que “não” existe sustentabilidade política e o correto a dizer é política de sustentabilidade. Do contrário a referência feita seria sobre políticos limpos, e não à criação de regras e atitudes como medidas para criação de políticas ambientais. Nesse contexto a ideia de responsabilidade social atrelada à sustentabilidade visa consolidar valores, práticas e comportamento social, com o objetivo de promover a cidadania e contribuir com um melhor meio ambiente.
A política ambiental brasileira não foi abordada, na prática, sob uma visão integrada às demais áreas com elas relacionadas, como por exemplo, saúde e saneamento. No país, a política ambiental teve desenvolvimento nos últimos anos como resultado da ação dos movimentos sociais locais e pressões vindas do exterior.
Fuente: Instituto Humanitas Unisinos