Brasil vai à China por soja da Monsanto
O Valor Econômico publicou esta semana um encarte especial sobre soja. As matérias ali reunidas são resultado do seminário Caminhos da Soja no Brasil, promovido pelo jornal no último dia 11 com patrocínio da Monsanto.
Há quem avalie que a edição saiu defasada, já que boa parte de seu conteúdo apresenta as benesses da nova soja da Monsanto e as vantagens que o Brasil deixa de alcançar por ter seu plantio obstruído pelo mercado Chinês. A consultoria MB Associados, por exemplo, projeta com a nova soja ganhos extras de 5,84 sacas por hectare.
Também esta semana o ministro da Agricultura Antonio Andrade esteve pela segunda vez desde maio na China pedindo a abertura do país à soja da Monsanto. O chanceler Antonio Patriota entrou pessoalmente nas conversas. O anúncio da vitória brasileira veio nesta terça, dois dias antes da publicação do encarte, e ainda inclui uma semente da Bayer e outra da Basf/Embrapa.
“O desafio brasileiro é produzir 6 mil [sic] toneladas de soja por hectare com baixo custo, disse Rodrigo Santos, presidente da Monsanto do Brasil na abertura do evento. Segundo ele, o emprego massivo de tecnologia e a evolução do setor permitem prever que tal marca será alcançada no futuro. Hoje o Mato Grosso, principal produtor nacional da oleaginosa, tem produtividade média de 3,3 mil [sic] toneladas por hectare”.
A série histórica da Conab para soja no Mato Grosso revela que desde 1996/97 a produtividade do grão no estado tem variado entre 2,7 e 3,19 ton./ha.
Baixar custos é de fato desafio permanente dos produtores. Mas o que se vê na produção de soja é o oposto. O custo médio de produção subiu 21%, o preço das sementes subiu 53% e os agrotóxicos subiram 20%, de acordo com levantamento recente do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária. Na ponta do lápis, o agricultor que produzir as esperadas 3 toneladas por hectare gastará o equivalente a 2,4 ton./ha, ficando apenas com 600 kg/ha. Do ponto de vista macro, vê-se que boa parte dos R$ 136 bi que o governo anunciou para o Plano Safra 2013/14 vai para as empresas de insumos e agroquímicos.
As patentes da soja RR da Monsanto não têm mais validade no Brasil, apesar das tentativas judiciais impetradas pela empresa. Com a soja RR2, a Monsanto lança novas promessas tecnológicas, mas ganha mesmo é novo prazo para cobrança de royalties. Em 2012, manifestara a intenção de cobrar R$ 115/ha pelo uso de sua nova semente.
A soja RR2 vem sendo chamada por alguns de “segunda geração de transgênicos de soja”. Entenda-se pelo termo o mero cruzamento da soja Roundup Ready com uma soja que leva o Bt, toxina que mata alguns tipos de lagarta. RR e Bt respondem por 100% dos transgênicos cultivados desde sua introdução na agricultura em meados da década de 1990. Portanto, para além da marquetagem, onde está de fato a inovação?
Nos documentos apresentados à CTNBio consta que esta soja seria para controle prioritário da lagarta da soja e, em segundo plano, da falsa medideira e da broca das axilas. Um surto da lagarta Helicoverpa causou prejuízo bilionário em lavouras transgênicas. Agora anuncia-se que a praga está também no espectro de controle da soja RR2.
Ainda no encarte do Valor, um entrevistado disse que a semente “É uma nova geração biotecnológica, a primeira soja com inseticida natural, que requer muito menos inseticida”. Ou ele não sabe o que é inseticida, ou o que é natural.
Fuente: AS-PTA