Brasil: transgênicos: contra a vontade da população
O lobby pró-transgênico conta com os mais diferentes meios e recursos para promover a transgenia. Mas tem uma coisa que eles não têm e dificilmente chegarão a ter, que é apoio da sociedade
Jamais foi visto, em qualquer lugar do mundo, um movimento de consumidores exigindo a liberação de transgênicos por estarem ansiosos para desfrutar dos "avanços da moderna biotecnologia" e saborear a soja resistente a herbicida ou então o milho inseticida. Tampouco foi visto um movimento contra a rotulagem por acreditarem os consumidores que os produtos transgênicos são equivalentes aos demais e que a informação no rótulo seria, portanto, desnecessária.
Se essa rejeição acontece em produtos cujo consumo se dá principalmente de forma indireta, através de alimentos industrializados, no caso de alimentos para consumo direto a rejeição é ainda mais forte. Foi assim com o tomate em 1995. Primeiro produto transgênico a ser lançado no mercado, o tomate modificado para agüentar mais tempo nas prateleiras apenas pingou nos supermercados norte-americanos. A rejeição ao que na época foi batizado de "frankenfood" foi imediata.
Com a autorização da CTNBio para a entrada de milho transgênico para ração vindo da Argentina e certos de que a rejeição aos produtos transgênicos no País também é grande, os setores da produção animal debatem se e como deverão usar o produto modificado. A Sadia, por exemplo, admitiu, extra-oficialmente, que não pretende alimentar aves e suínos com soja ou milho transgênico para evitar problemas com importadores europeus e asiáticos. A Coopercentral Aurora disse que seguirá a mesma linha, pensando também no consumo interno. Já a Associação Gaúcha de Avicultura e a Câmara Setorial de Milho, Sorgo, Aves e Suínos, com apoio de representantes do Ministério da Agricultura, pressionam para não rotular produtos derivados de animais alimentados com transgênicos.
Simplista o raciocínio e desleal a conduta: se os consumidores não querem transgênicos, podemos usá-los e basta não informar no rótulo, que eles ficarão sem opção. Contra a vontade da população, os promotores dos transgênicos precisam de atitudes como essa e de "fatos consumados" para espalharem estes produtos e fazê-los adentrar na cadeia alimentar. No Brasil, o direito do consumidor à informação está consolidado em seu código de defesa e a rotulagem é obrigatória por lei - embora não esteja sendo cumprida. Na democracia norte-americana a população come transgênicos há dez anos sem saber quais, nem onde, nem quanto.
Mas, provando do próprio veneno, os americanos começam a ser afetados por essa imposição, chamada pela Associação dos Produtores de Milho dos EUA de "arrogância das companhias de biotecnologia". Eles atribuem a essas empresas o fato de terem perdido importantes fatias do mercado europeu e japonês. Em 1999-00 as exportações de glúten de milho para a União Européia foram da ordem de 5 milhões de toneladas. Já neste ano as vendas continuaram sua tendência de queda, chegando a 1,2 milhão de toneladas.
Com um pouco mais de esperteza o Brasil poderia adotar medidas de precaução em relação aos transgênicos e evitar que o "efeito arrogância" deixe suas marcas por aqui.
Através dos Serviços de Atendimento ao Consumidor você pode saber das indústrias se elas estão ou não usando transgênicos para alimentar os animais, cobrar que elas não usem e, no caso de usarem, que rotulem os produtos. Participe! As ligações são gratuitas.
Sadia -- tel. 0800 70 28 800
Perdigão -- tel. 0800 701 77 82
Aurora -- tel. 0800 11 35 00
Campanha Por um Brasil Livre de Transgênicos
Boletim Número 253 - 13 de maio de 2005
E-mail: rb.gro.atpsa@socinegsnartedervil