Brasil: produtores do PR ainda preferem soja convencional
"A soja transgênica é apenas uma ferramenta usada para o controle de ervas daninhas, mas na nossa região não tem nenhuma vantagem do ponto de vista econômico em relação a soja convencional, nem todas as ervas daninhas que temos na região serão resolvidas com o glifosato, provavelmente o produtor terá que usar outros herbicidas"
Convencional ou transgênica? Essa pergunta está tirando o sono de vários produtores de soja no Paraná. Pela primeira vez na história da agricultura brasileira, o plantio da soja geneticamente modificada será permitido legalmente em todo o país com base na nova lei de Biossegurança, aprovada pelo Congresso Nacional em março deste ano, mas o cenário que se desenha indica que as lavouras transgênicas levarão um certo tempo para ganhar os campos da região.
Se por um lado a nova legislação criou uma opção a mais para o agricultor, por outro, a falta de uma definição sobre a cobrança dos royalties pela multinacional Monsanto, que detém o direito de propriedade industrial sobre a semente, e a posição contrária do governo do Estado ao plantio estão atuando para que o Paraná tenha uma pequena participação na safra brasileira do grão geneticamente modificado.
A Secretaria de Estado da Agricultora e Abastecimento (SEAB) não tem uma estimativa, mas especialistas e agricultores ouvidos pela reportagem de O DIÁRIO calculam que a área destinada ao organismo transgênico fique entre 15% e 30% da destinada à soja convencional na região de Maringá (260 mil hectares na safra 2005/2006).
"Não sou contra o plantio do transgênico, mas este ano não vou plantar, vou esperar pra ver como o mercado vai reagir", diz o produtor Eliandro Brambila. Segundo ele, a posição política do governador Roberto Requião, que no ano passado proibiu o embarque de soja transgênica no Porto de Paranaguá, e a indefinição sobre os royalties, pesaram na sua decisão. "Por enquanto, a cobrança dos royalties só está na semente, mas estão dizendo que também serão cobrados na comercialização", desconfia.
Outro ponto que está pesando na decisão dos agricultores é o benefício que a planta oferece. Para Antônio Sacoman, coordenador técnico de grãos e arenito da Cocamar, a grande vantagem da soja transgênica é a utilização do herbicida glifosato, usado no combate às plantas daninhas, mas, por causa da característica do solo da região, em algumas lavouras, ele não surtiria efeito e obrigaria o agricultor a usar outro defensivo, o que aumentaria o custo de produção.
"A soja transgênica é apenas uma ferramenta usada para o controle de ervas daninhas, mas na nossa região não tem nenhuma vantagem do ponto de vista econômico em relação a soja convencional, nem todas as ervas daninhas que temos na região serão resolvidas com o glifosato, provavelmente o produtor terá que usar outros herbicidas", acredita Sacoman.
O comportamento dos grãos transgênicos no solo da região adiou os planos do agricultor Osmar Benedito de Oliveira de plantá-los nesta safra. "É uma variedade desconhecida que a gente não sabe como vai se comportar na nossa região", disse Oliveira. Porém, ele ainda não definiu se plantará uma pequena área para fazer um experimento. "Eu queria plantar algumas variedades para acompanhar a produtividade, as doenças, a resistência às pragas, mas ainda não me decidi", comentou o agricultor.
Na contra mão da maioria de seus companheiros de profissão, o agricultor Marco Bruschi Neto decidiu apostar na soja transgênica. Para isso, já encomendou 250 sacas de sementes e vai semear mais da metade da área destinada ao grão convencional (360 hectares) com o transgênico. O produtor calcula que irá gastar R$ 30 reais a mais por hectare plantado a soja modificada e disse que o investimento vale a pena.
Segundo Bruschi, na soja convencional, o custo de duas aplicações de herbicida é de R$ 300 por 2,4 hectares, enquanto que na transgênica o gasto cai para R$ 70. Levando em consideração que ele vai plantar 200 hectares, a economia será de quase R$ 20 mil [R$11 mil na verdade]. "Não tenho a mínima dúvida que vale a pena. Mesmo que eu gaste R$ 50 a mais por hectare, eu vou ganhar dinheiro, porque vou economizar na aplicação do herbicida", justificou.
Para o agricultor, a área de soja transgênica na região só não será maior em razão da disponibilidade de sementes. Como a lei entrou em vigor recentemente, as empresas e instituições que reproduzem as sementes, como a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e a Cooperativa Central de Pesquisa Agrícola (Coodetec), não tiveram tempo suficiente para reproduzi-las em quantidade para atender um número maior de produtores. (Diário de Maringá, 06/09/05.)
Campanha Por um Brasil Livre de Transgênicos
Boletim Número 269
E-mail: rb.gro.atpsa@socinegsnartedervil