Brasil: prisões de sem-terra em PE são meramente políticas, afirma Jaime Amorim

Idioma Portugués
País Brasil

Depois de libertado provisoriamente pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) no último dia 29, Jaime Amorim, membro da Coordenação Nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) criticou as ações da polícia e do Poder Judiciário na tentativa de criminalização dos movimentos sociais no estado de Pernambuco

TERRA EM DEBATE

ENTREVISTA

O STJ considerou ilegal a prisão preventiva de Amorim e concedeu a liminar de "habeas corpus".

Ele estava preso desde o dia 21, quando - ao sair do velório de um dos dois dirigentes estaduais assassinados no dia anterior - foi abordado pelas Polícias Civil e Militar. A ordem de prisão foi dada pelo juiz da 5º Vara Criminal do Tribunal de Justiça, Joaquim Pereira Lafayete sob a alegação de mau comportamento durante um protesto em frente ao Consulado dos Estados Unidos, em Recife, em 2005. Depois de Amorim, outros dois trabalhadores sem-terra foram presos em Pernambuco, no município de Sertânia.

Em entrevista à Agência Notícias do Planalto, Jaime Amorim diz que as prisões tiveram um caráter meramente político. Ouça agora.

Agência Notícias do Planalto: A violência em Pernambuco é bem presente no campo, sendo ele o segundo estado com maior número de conflitos agrários, de acordo com a Comissão Pastoral da Terra (CPT). Como está a luta pela reforma agrária diante desse cenário?

Jaime Amorim: Em Pernambuco nós temos 340 mil famílias sem-terra. Só o MST hoje, tem 163 acampamentos espalhados pelo estado. São 19 mil famílias acampadas. E já faz muitos anos que existe a permanente agressão e violência contra os trabalhadores. Ora, a agressão é dos grupos armados, ora é do Estado através da polícia, e ora é do Poder Judiciário. Mas neste ano praticamente a violência tomou conta. A situação da violência principal é desmobilizar. Somado a isso tudo, nós temos em Pernambuco, o pior Incra [Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária] do país. Este ano infelizmente, ainda não teve nenhuma área desapropriada, nenhuma família assentada, nenhum crédito liberado.

ANP: O que significa para o MST a sua prisão?

JA: Nós temos bastante clareza que a prisão teve apenas um caráter de cunho político. Foi pedida pela embaixada norte-americana, em função de uma atividade que foi feita no Consulado em novembro do ano passado e a prisão foi decretada no dia da independência dos EUA, no dia 04 de julho. E o governo ficou com este poder de barganha na mão, com este instrumento. A prisão poderia ser feita no momento que interessasse para o Estado afastar a direção. Ou seja, em um momento mais crítico. Infelizmente o momento que eles encontraram para fazer a prisão foi o dia do enterro dos dois companheiros que foram assassinados. A questão da prisão também foi importante porque clareou para nós esta idéia dos presídios no Brasil. O governo fica falando de fazer presídios de segurança máxima enquanto nesses presídios está uma amontoada de gente, infelizmente sem alternativa nenhuma. Então, acho que também vai ser tarefa do MST daqui a diante aproveitar e discutir com a sociedade como nós vamos propor para o futuro dos cidadãos brasileiros que por diversos fatores estão cumprindo pena e tem que cumprir a pena com dignidade.

ANP: E quais as perspectivas das ações do MST no estado?

JA: Nós temos ainda aqui em Pernambuco, dois outros companheiros presos, lá no sertão.Vamos fazer um ato. O que nos cabe agora neste momento é fortalecer a luta pela reforma agrária, tanto aqui no estado de Pernambuco, quanto nos outros estados, porque se nós defendermos o estado que está aí, o governo que está aí, a reforma agrária dificilmente vai ser feita. Os governantes não têm a capacidade de enfrentar o Estado, que está completamente destruído, e enfrentar a burguesia agrária. Nós só temos uma única alternativa: é gente organizada, na rua, acampamentos massificados e garantia de que nosso povo esteja organizado. É a única alternativa para que a gente comemore um dia a vitória da reforma agrária. Se a burguesia achava que isolando um dirigente do Movimento sem-terra, ia diminuir a capacidade do movimento de lutar, se enganaram. Cada vez mais a sociedade brasileira está compreendendo a importância da reforma agrária como um projeto que interessa a toda a sociedade. E nunca nós tivemos tanto apoio e tanta solidariedade como tivemos desta vez em nível nacional e internacional. (5´37´´ / 1,28 Mb)

Você acabou de ouvir Jaime Amorim, membro da coordenação nacional do MST.

De Brasília, da Agência Notícias do Planalto, Marina Mendes

Fuente: Agência Notícias do Planalto, 30-8-06

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