Brasil pode ser primeiro país a liberar transgênicos resistentes a 2,4-D
Abaixo estão reproduzidas três matérias do Valor Econômico que tratam da falsa solução apresentada pela indústria para problema criado por suas próprias tecnologias: variedades transgênicas de soja e milho resistentes ao herbicida 2,4-D, classificado pela Anvisa como extremamente tóxico.
As matérias são assinadas por repórter que viajou à sede da Dow Agrosciences nos EUA à convite da empresa.
As plantas transgênicas tolerantes à aplicação do glifosato, da Monsanto, trouxeram aos agricultores uma facilidade de manejo: aplicar o veneno sobre as lavouras, eliminando o mato mas mantendo a plantação. Como tempo, como previsto, esse mato foi se tornando resistente ao veneno, o que levou os agricultores a utilizar doses cada vez maiores do agrotóxico. O governo deu sua mãozinha para viabilizar esse sistema, editando portarias que aumentaram em 50 vezes o limite “legal” de resíduo de glifosato na soja em 10 vezes no milho.
Agora, nem as doses exageradas resolvem, e a “nova tecnologia” torna as lavouras tolerantes não só ao glifosato, mas também a outros – e ainda mais tóxicos – produtos, como o glufosinato de amônio, dicamba e o 2,4-D. Não é preciso ser vidente para saber que o mato desenvolverá resistência também a esses venenos e que o resultado será a contaminação cada vez maior dos campos e dos consumidores (pois os venenos aplicados nas lavouras deixam resíduos na plantação colhida).
A previsão citada na matéria é que triplique o uso de 2,4-D. Outra previsão é que a liberação pela CTNBio se dará em outubro, onde a maior parte de seus membros se agarra na letra da lei para afirmar que não cabe àquela comissão avaliar aspectos ligados a agrotóxicos. Mas moralmente cabe. Nessa mesma comissão, quando julga pertinente, seu presidente aciona “regras não escritas” para fazer andar os processos.
Um dos pareceres defendendo a liberação das sementes da Dow baseia-se em suposta demanda dos agricultores por alternativas, na equivalência substancial entre essas sementes e as convencionais e ao fato de o 2,4-D estar registrado no Brasil. A empresa apresentou estudos de campo feitos em duas localidades do país. Quando a parecerista foi questionada sobre a representatividade desses parcos estudos disse que nos Estados Unidos faram feitos bem mais e que aquele é seu parecer e ponto.
Nos Estados Unidos, que é o mais liberal dos países em termos de aval à indústria, o New York Times noticiou em maio que o Departamento de Agricultura (USDA) decidiu submeter a estudos mais rigorosos exatamente as sementes resistentes ao 2,4-D. A decisão veio do entendimento de que essa tecnologia “pode afetar significativamente a qualidade do ambiente humano”.
Fuente: AS-PTA