Brasil: o fato descontextualizado criminaliza a luta pela terra
"Líder do MST é preso". Escrita em letras garrafais, essa foi a principal notícia do Jornal do Commercio do dia 22. Também na capa, o jornal O Estado de S. Paulo disparou: "Líder do MST é preso por 'incitação ao crime'". As bandeiras e reivindicações do movimento social são tiradas do contexto e o que fica é apenas a contravenção, o crime
Ao não investigar as causas da violência, a grande imprensa termina por incitá-la.
Para Dom Tomás Balduíno, presidente de honra da Comissão Pastoral da Terra (CPT), a violência contra os trabalhadores sem-terra é conseqüência de um longo processo de transformação do movimento social em caso de polícia: "Isso atinge diretamente o pessoal mais organizado e, de forma seletiva, suas lideranças".
A Justiça também tem sua parcela de culpa. Balduíno acredita que a criminalização do movimento social contamina o Poder Judiciário, sempre conivente com o poder econômico ligado ao latifúndio. "Temos visto a impunidade dos verdadeiros criminosos, os mandantes e autores dos assassinatos, ao passo que a mínima suspeita contra algum sem-terra resulta nisso que estamos vendo", lamenta Dom Tomás.
Reforma agrária
Por trás desses conflitos, está a alta concentração fundiária do Brasil. Para Dom Tomás, a reforma agrária criaria uma nova estrutura no campo, incorporando o povo da terra na condição de cidadãos plenos. "Infelizmente, dentro do governo (Luiz Inácio) Lula (da Silva) sentimos ter perdido a batalha para o agronegócio", constata. Para ele, o país está retrocedendo aos tempos de colônia e se tornando uma província exportadora de produtos da monocultura. "No grão, mandamos para fora nosso humus, nossa água, nossa soberania e nossa dignidade. É a entrega do nosso patrimônio a título de garantir superávit, lucro concentrado nas mãos de poucos. Enquanto isso o povo empobrece, o pessoal vai morrendo no corte da cana, de cãibras, de trabalho forçado, competindo com máquinas cada vez mais fortes", descreve o religioso.
O geógrafo Ariovaldo Umbelino, professor aposentado da Universidade São Paulo, explica que a reforma agrária não avança por determinação política do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Prova disso está no cadastro de propriedades rurais do Incra, onde Umbelino identificou 120 milhões de hectares de terra em grandes imóveis improdutivos. Numa área como essa, seria possível assentar cerca de três milhões de famílias.
Luís Brasilino, da Redação
Fonte: Brasil de Fato, 23-8-06