Brasil: mulheres na luta por soberania alimentar, contra o agronegócio

Idioma Portugués
País Brasil

O Movimento de Mulheres Camponesas do Brasil (MMC) afirma o 8 de março como um dia de luta, resistência e enfrentamento ao sistema capitalista e patriarcal - que oprime, explora e violenta as mulheres e a classe trabalhadora. Com esta motivação, milhares de camponesas participaram de encontros de estudo, mobilizações, marchas e atos públicos por todo o país, nesta semana do 8 de março de 2007

Entre todas as atividades desenvolvidas, destacou-se o lançamento oficial da Campanha Nacional pela Produção de Alimentos Saudáveis, promovida pelo MMC Brasil. Esta campanha é um instrumento para concretizar o Projeto de Agricultura Camponesa Ecológico que o movimento defende, baseado nos princípios da soberania alimentar, dignidade do trabalho, preservação da natureza, diversidade cultural e em novas relações humanas. O movimento também esteve integrado à jornada de lutas organizada pela Via Campesina em diversos estados brasileiros.

Apresentamos abaixo um resumo das atividades realizadas pelos grupos do MMC Brasil na semana do 8 de março

Coordenação do MMC Brasil

Semana do 8 de março de 2007 mobilizou camponesas em todo o Brasil

Acre - foram realizadas audiências de 5 a 7 de março sobre os temas e questões que mexem diretamente na vida das mulheres. No dia 8 de março aconteceram atos públicos em Bujari, com Marcha pela vida, panfletagem e ato de lançamento da campanha, com participação de 200 mulheres. Também foi entregue a pauta de reivindicações ao prefeito municipal. Na pauta, as mulheres reivindicaram ações de apoio à agricultura familiar e também ao reflorestamento e às matas ciliares. Também houve panfletagem sobre a Campanha em diversos municípios do estado.

Alagoas - lideranças do MMC visitaram a imprensa regional e distribuíram material de divulgação da campanha. No dia 7, o Movimento de Mulheres Camponesas de Alagoas se somou na marcha organizada pela Via Campesina, em Maceió, onde ocuparam a Sede da Secretaria da Agricultura do Estado. No dia 8 aconteceu um seminário para debate dos temas da campanha, fechando com uma caminhada e panfletagem nas ruas de Palmeira dos Índios e audiência na Secretaria da Mulher.

Amazonas - nos dias 6 e 7 aconteceram atividades de certificação de produtos e artesanato, com mobilização das camponesas. No dia 8, na Região Alto Solimões, no município de Anori, aconteceu uma Marcha pela Vida com ato de lançamento da Campanha, reunindo 300 mulheres vindas dos municípios de Anore, Anama e Codajas. Durante o dia foi feito um estudo sobre a conjuntura do projeto de agricultura com panfletagem de rua. Na Região Meio Purus, no município de Lábrea, a Marcha pela Vida e ato de lançamento da Campanha reuniu 200 mulheres. Durante o dia também aconteceu estudo sobre o projeto de agricultura camponesa com panfletagem de rua. Às 9h aconteceu uma audiência com o INCRA. Na Região Médio Amazonas, no município de Iranduba, houve uma Marcha pela Vida, ato de lançamento da Campanha, ações de denúncias do agronegócio e violência contra as mulheres, estudo sobre a conjuntura, o projeto de agricultura camponesa e panfletagem de rua, reunindo 300 mulheres vindas dos municípios de Iranduba, Itacoatiara, Novo Aião e Manacapuru.

Bahia - no dia 6, dirigentes do Movimento de Mulheres Camponesas participaram de entrevistas com a imprensa regional para divulgar a Campanha. No dia 8 de março, as camponesas realizaram um estudo sobre estratégias para o enfretamento ao agronegócio, debatendo a degradação da natureza, a plantação de eucaliptos, a produção de biodisel, a plantação de mamonas e outros produtos. Participaram 400 mulheres, oportunidade onde os grupos dos diferentes municípios do estado apresentaram as potencialidades do trabalho das camponesas. A violência contra a mulher também foi tema debatido. Após estudo, foi realizada uma Marcha pela Vida, com panfletagem, pelas ruas de Caitité e entrega da pauta de reivindicação na Secretaria Municipal da Agricultura.

Espírito Santo - no dia 8 de março aconteceu uma Marcha pela Vida na capital, Vitória, com panfletagem e ato de lançamento da Campanha, com a participação de cerca de 200 mulheres do MMC. Também foi realizado um ato público em conjunto com as mulheres de outros movimentos da Via Campesina, com debate de temas ligados à mulher.

Goiás - foi realizada, no dia 8, uma Marcha pela Vida em conjunto com mulheres da Via Campesina, lançamento da Campanha com panfletagem nas ruas, reunindo 600 mulheres, e ato de protesto em frente ao Walmart. A marcha chamou a atenção para o dano causado pelas multinacionais e o avanço do agronegócio que prejudica a agricultura camponesa.

Mato Grosso - no dia 8 de março as mulheres realizaram mobilizações pelo resgate das sementes crioulas, em defesa da agroecologia e pela produção de alimentos saudáveis. As atividades aconteceram no município de Cinop e na Baixada Cuiabana. No município de Nossa Senhora do Livramento aconteceu uma Marcha pela Vida e o lançamento da Campanha, reunindo 150 mulheres. Durante o dia houve estudo sobre temas ligados à Campanha. Em Várzea Grande também aconteceu uma Marcha pela Vida em conjunto com outros movimentos da Via Campesina, reunindo cerca de 200 mulheres do MMC, com panfletagem e lançamento da Campanha.

Minas Gerais - no dia 6 de março foi realizado um seminário onde as camponesas debateram os grandes temas relacionados à Campanha Nacional pela Produção de Alimentos Saudáveis. À noite, aconteceram apresentações culturais e folclóricas. No dia 7, as mulheres do MMC se somaram na ocupação da mineradora Capão Xavier. Cerca de 700 mulheres do MMC de Minas Gerais chamaram a atenção, juntamente com as mulheres da Via Campesina, para o dano causado pelas multinacionais em nosso país, como a exploração da mão-de-obra e a remessa de recursos para as matrizes internacionais. Na quinta-feira, dia 8 de março, as mulheres realizaram uma Marcha pela Vida, pelas ruas de Belo Horizonte, em conjunto com mulheres do Movimento Urbano. Participaram da marcha mais de 5.000 mulheres. O lançamento oficial da Campanha, em Minas Gerais, foi no Estádio Mineirinho, em Belo Horizonte, com a participação das mulheres camponesas e presença de diversos convidados.

Pará - as mulheres do MMC do sul do estado participam, de 5 a 8 de março, de um acampamento em conjunto com os demais movimentos da Via Campesina em Belém, integrando-se às atividades e atos públicos. Foram realizados estudos, definidas bandeiras de luta e organizadas audiências sobre os temas debatidos. No dia 8 aconteceu uma Marcha pela Vida e o lançamento oficial da Campanha pela Produção de Alimentos Saudáveis, em Belém.

Paraíba - no dia 8 de março, em Sítio Caboclo, aconteceu um encontro para o lançamento da Campanha, reunindo cerca de 150 mulheres vindas de vários municípios, com panfletagem e seminário para debater temas ligados à Campanha, como soberania alimentar e agricultura camponesa. No dia 10 de março foi realizado o lançamento da campanha em diversos municípios do Estado.

Paraná - No dia 6 foi realizado um encontro de estudo em São José das Palmeiras, região oeste do estado, com participação de 200 mulheres. No domingo, dia 18 de março, aconteceu um ato de lançamento da Campanha em Boa Ventura de São Roque, região Central do estado, com participação de 250 mulheres.

Rio Grande do Sul - no dia 7 de março as camponesas realizaram um Seminário sobre a produção de alimentos, em conjunto com grupos de mulheres urbanas. Pela tarde, organizadas em grupos, as mulheres visitam comunidades da periferia de Canoas/RS. No dia 8, aconteceu uma grande Marcha pela Vida, percorrendo diversas ruas de Porto Alegre. A marcha reuniu cerca de 1500 integrantes dos movimentos da Via Campesina, do movimento estudantil e da Marcha Mundial de Mulheres, com concentrações em frente a uma agência do Citybank, onde foi realizado um ato contra o presidente dos Estados Unidos, George Bush. Também houve concentração em frente ao Palácio do Governo do Estado, onde, além do ato público, aconteceu a apresentação de um teatro sobre os efeitos destrutivos do Deserto Verde. A marcha foi finalizada no pátio da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, onde aconteceu o lançamento oficial da Campanha Nacional pela Produção de Alimentos Saudáveis no Estado. Uma comissão do MMC, juntamente com representantes dos estudantes universitários, esteve reunida com a reitoria da UFRGS, onde ficou acertada a suspensão do convênio para pesquisa sobre a produção de eucaliptos, que vinha sendo proposto pela empresa Aracruz Celulose.

Rondônia - foi realizado um ato público, em conjunto com os movimentos da Via Campesina, em Gi-Paraná, marcando o lançamento da Campanha Nacional pela Produção de Alimentos Saudáveis no estado.

Roraima - no dia 7 aconteceram encontros para estudo e panfletagem em Boa Vista e municípios do interior do estado. No dia 8 foi realizado o lançamento oficial da Campanha, em Boa Vista, com Marcha pela Vida e panfletagem reunindo cerca de 160 mulheres. Durante o dia, as camponesas estudaram sobre o tema Segurança e soberania alimentar. Também aconteceram panfletagens e o lançamento da campanha em diversos municípios do estado, com entrega da pauta de reivindicações (nacional e local) nas prefeituras e secretarias de agricultura dos municípios.

Santa Catarina - o MMC, juntamente com os movimentos de mulheres urbanas, pastorais sociais e várias entidades promotoras das atividades do Dia Internacional da Mulher, marcou o 8 de março com grandes manifestações em Florianópolis. As camponesas chegaram dia 7 na capital, onde foram recebidas pelas mulheres urbanas para um encontro de troca de experiências, estudo, debates sobre os desafios do campo/cidade, produção de alimentos saudáveis e o consumo consciente dos mesmos. Também foi debatida a importância da organização e participação política da mulher na sociedade. Durante a noite foi organizada uma vigília com uma comissão de 150 pessoas no Prédio da Previdência Social. Na oportunidade, as mulheres reivindicaram a garantia da Previdência Pública Universal e Solidária e o direito de segurada especial para as trabalhadoras rurais, bem como, os benefícios já em lei. Já a articulação das Mulheres Urbanas reivindicou a regulamentação da aposentadoria das donas de casa, reconhecimento da profissão de maricultoras e pescadoras artesanais, reconhecimento das lesões e esforços repetitivos, reabilitação efetiva de adoecidos e adoecidas. Ainda na noite de 7 de março, outro grupo de mulheres camponesas subiu os moros das favelas para dormir na casa das mulheres que vivem lá, com o objetivo de conhecer a realidade e trocar experiências. Segundo as camponesas, foi um momento muito rico e importante para fortalecer o elo entre o campo e cidade. Na manhã do dia 8 as mulheres se concentraram em frente ao INSS e seguiram em marcha até o Centro Administrativo do Governo, para uma audiência com o secretário da Coordenação Política do Governador. Na ocasião, uma comissão de mulheres dos vários movimentos e entidades entregou uma pauta conjunta e um projeto para a construção de 600 cisternas para viabilizar a produção de alimentos saudáveis. O secretário se comprometeu a marcar uma nova audiência para expressar seu posicionamento sobre a pauta. Enquanto isso, no lado de fora, 1.500 pessoas fizeram um ato de repúdio e descontentamento ao governador por não ter recebido as mulheres, sendo que o pedido de audiência havia sido protocolado ainda em janeiro. "Entendemos que o governador tinha tempo suficiente para organizar a agenda, receber e ouvir as mulheres trabalhadoras do campo e da cidade", destacou uma das coordenadoras do evento. Na parte da tarde, as mulheres se deslocaram até à Assembléia Legislativa, onde fizeram um ato de repúdio a vinda do governo imperialista Bush para o Brasil e em favor das mulheres do Oriente Médio, vítimas da guerra. Em seguida, fizeram o ato de lançamento da Campanha Nacional pela Produção de Alimentos Saudáveis: "Produzir alimentos saudáveis, cuidar da vida e da natureza", onde teve inicio a grande Marcha pela Vida, pelas ruas do centro de Florianópolis, com panfletagem. No final da marcha, em frente ao terminal urbano, foi realizado um momento místico de agradecimento para as mulheres urbanas das comunidades que receberam as caravanas das camponesas e doação de uma tonelada de alimentos, produzidos pelas mulheres camponesas.

Sergipe - no município de Porto Verde, aconteceu uma Marcha pela Vida com panfletagem e lançamento da Campanha, reunindo 450 mulheres no dia 8 de março. Durante o dia aconteceram palestras sobre temas ligados à saúde da mulher.

Tocantins - o lançamento da Campanha foi dia 8 de março, no município de Araguana, região norte do estado. Houve debate de temas ligados à mulher e também sobre a Campanha, com participação de aproximadamente 200 mulheres. A atividade foi promovida conjuntamente com o CDH (Centro de Direitos Humanos) e a Federação dos Trabalhadores, tendo a participação de Dina Sacha, da Comissão do Diretos Humanos. Nos municípios de Aragominas e Darcinópolis aconteceram encontros de lançamento da Campanha e debates sobre temas ligados ao combate à violência praticada contra a mulher.

Após o lançamento, a Campanha terá como próximos passos:

1ª Fase: Lançamento da Campanha - Dia Internacional da Mulher

  • Mutirões na base do MMC junto aos grupos de mulheres camponesas e comunidades rurais para discussão e preparação da campanha.
  • Marchas pela Vida nas capitais dos estados onde o MMC está organizado.
  • Comissão representativa em Brasília para audiências de Lançamento da Campanha com Ministérios.

2ª Fase: Implantação das Experiências nos Estados

  • Implantação da produção de alimentos ecológicos, diversificados e saudáveis por mil mulheres camponesas; um viveiro de mudas nativas em cada estado onde o MMC está organizado; recuperação de sementes crioulas; preservação da mata ciliar e nativa; desenvolvimento de práticas com o uso de plantas medicinais.
  • Acompanhamento técnico e metodológico destas experiências.
  • Implantação de programas para viabilizar a produção e comercialização de alimentos e produtos agroecológicos.
  • Realização de atividades formativas com os grupos de mulheres do MMC.

3ª Fase: Divulgação e debate com a sociedade

  • Construção de mutirões de debates nas escolas, universidades, igrejas e outros espaços da sociedade.
  • Realização de um ato nacional para avaliar e repercutir os resultados da Campanha.
  • Elaboração de materiais de divulgação e formação.

4ª Fase: Avaliação e continuidade da Campanha

  • Avaliar e programar a continuidade da campanha avançando nas metas e nas experiências.

A campanha de Produção de Alimentos Saudáveis quer ser espaço para reunir as mulheres do campo e da cidade a fim de afirmar a soberania alimentar como um direito dos povos, fortalecendo a luta em defesa da vida.

Fuente: MMC Brasil

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