Brasil: mulheres marcham na Paraíba por agroecoogia e igualdade

Por AS-PTA
Idioma Portugués
País Brasil

A IV Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia trouxe para as ruas do município de Solânea, no dia 08 de março, mais de três mil mulheres camponesas dos 15 municípios do Polo da Borborema e de várias regiões que compõem a Articulação do Semiárido Paraibano (ASA Paraíba), o Movimento das Mulheres Trabalhadoras Rurais (MMTR) e o Coletivo Estadual de Mulheres do Campo e da Cidade.

Juntas elas caminharam pelo centro da cidade para denunciar as desigualdades e a violência contra mulher e reafirmar a luta por direitos e por relações mais justas na agricultura familiar.

 

Nos momentos que precederam a marcha, no palco montado em frente à sede do Sindicato de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Solânea, houve a apresentação da peça “Zefinha vai casar”, encenada pelo Grupo de Teatro do Polo da Borborema, na qual a personagem Zefinha sente a perpetuação das relações patriarcais nos caminhos previamente traçados para sua vida, quando decide se casar. Após a peça, mulheres agricultoras deram depoimentos, compartilhando suas histórias de vida e de superação. A jovem liderança Ana Alice Macêdo, do Sindicato de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Queimadas, sequestrada, violentada e assassinada em setembro do ano passado, foi homenageada. As palavras de sua mãe, Angineide Macêdo, comoveram o público: “Se ela não tivesse sido tirada de nós da forma como foi, hoje ela estaria aqui, participando, animando o ônibus com as agricultoras. As pessoas dizem pra mim, ‘você é muito forte’, mas não é que eu seja forte, é que momentos como esse me ajudam e me dão força. E é por isso que eu estou aqui hoje, pra que não aconteça com mais ninguém o que aconteceu com a minha filha, mas se chegar a acontecer, eu vou estar junto, dando força”, desabafou.

 

As agricultoras saíram em marcha pelas ruas do centro da cidade e no meio do percurso, a multidão foi surpreendida com a fala de várias agricultoras que com coragem, partilharam momentos de dor sofridos com seus companheiros. Uma, duas, três, várias mulheres denunciaram que a violência doméstica não é um caso isolado, mas acontece com muitas de nós e pode ser superada.

 

A caminhada seguiu até a Praça 26 de Novembro, onde aconteceu uma feira de exposição de experiências e produtos frutos do trabalho das mulheres. Neste momento a cantora e compositora Gilvanisa Maia, autora da música “Apelo de Mulher”, fez uma apresentação: “Eu soube que a música já se tornou um hino desta marcha, e eu tenho muito orgulho disso, pois a letra surgiu justamente das experiências de vida de várias mulheres que eu fui ouvindo quando trabalhei em um projeto com trabalhadoras rurais”. Ao final da marcha, foi realizada uma homenagem a Margarida Maria Alves, sindicalista de Alagoa Grande, assassinada por desafiar o poder local dos grandes latifundiários da região. As participantes dançaram ao som da animada apresentação das cirandeiras de Caiana dos Crioulos, comunidade quilombola de Alagoa Grande-PB. O encerramento aconteceu por volta das 13h com a leitura da Carta Política da Marcha reafirmando as bandeiras de lutas das mulheres camponesas e suas reivindicações.

 

Maria do Céu Silva, da direção do Sindicato de Solânea e da coordenação do Polo da Borborema, fez uma avaliação positiva da marcha e mais ainda do trabalho de formação anterior, de mobilização e discussão nas comunidades: “Só aqui em Solânea nós fizemos oito reuniões comunitárias, cada uma reunindo três ou quatro comunidades, além de uma reunião municipal com mais de 50 mulheres, fora as reuniões nos outros 14 municípios da região do Polo. Esse trabalho de preparação foi muito importante, não só por fortalecer as ações que nós, nos sindicatos vimos realizando, mas também para encorajar as mulheres a sair de casa, estimular que elas falem do cotidiano delas, muitas se viram no vídeo e na peça e a partir daí passaram a participar e a refletir sobre a sua condição”, disse. Ainda segundo Maria do Céu, o processo de construção da marcha vem, a cada ano, estimulando a organização de mais mulheres: “aqui em Solânea, nós já vimos grupos de mulheres de formando para a constituição de Fundos Rotativos Solidários de fogões ecológicos, já temos visitas de intercâmbio marcadas sobre esse tema”.

 

A Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia é organizada pelo Polo Sindical e das Organizações da Agricultura Familiar da Borborema. O Polo é um fórum articulador de organizações de 15 municípios e mais de cinco mil famílias do Agreste da Borborema, contando com a assessoria da Organização Não Governamental AS-PTA Agroecologia e Agricultura Familiar. Polo e AS-PTA acreditam que a superação das desigualdades entre homens e mulheres e a violência, como expressão mais cruel dessas desigualdades, constituem um caminho para que a agricultura familiar de base ecológica se consolide como modo de produção e de vida para as famílias agricultoras.

 

Fuente: AS-PTA

Temas: Agroecología, Feminismo y luchas de las Mujeres

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