Brasil: mulheres da Via Campesina ocupam usina da Cargill em São Paulo
Mais de 900 mulheres da Via Campesina ocuparam a área da usina Cevasa, no município de Patrocínio Paulista, região de Ribeirão Preto, interior de São Paulo, na manhã desta quarta-feira (07/03). A usina Cevasa, a maior do Brasil, teve parte de seu capital vendido recentemente para a transnacional Cargill, líder do agronegócio mundial
A ocupação faz parte da jornada de lutas nacional das mulheres da Via Campesina, sob o lema é "Mulheres em defesa da vida e contra o agronegócio". A região de Ribeirão Preto foi escolhida, pois simboliza a expansão do latifúndio da cana-de-açúcar, modelo calcado na superexploração de lavradores e lavradoras (mais de 15 trabalhadores morreram de exaustão nas lavouras desde 2004) e na destruição do meio ambiente.
As trabalhadoras rurais da Via Campesina pretendem denunciar por meio de sua ação as falsas promessas do agronegócio em relação ao plantio da cana e à produção do etanol. O objetivo da atividade é alertar a população sobre as reais conseqüências do aumento do cultivo da cana-de-açúcar para o meio ambiente, a poluição das queimadas e as doenças respiratórias por elas causadas, o aprofundamento da concentração de terra no Brasil e o conseqüente aumento das desigualdades sociais.
Além disto, a ação pretende mostrar que a produção de etanol a baixos custos para os Estados Unidos - motivo da visita de George W. Bush ao Brasil - beneficia apenas ao agronegócio, em detrimento dos interesses da sociedade brasileira e das necessidades da maioria da população.
As mulheres da Via Campesina defendem a adoção de um outro modelo agrícola, que privilegie o pequeno agricultor (responsável pela produção de boa parte dos alimentos) e que efetive uma reforma agrária que modifique a estrutura fundiária do país.
Em busca da garantia de soberania alimentar, as trabalhadoras rechaçam a presença de Bush e mostram ao povo brasileiro as conseqüências nefastas de transformar o país em grande produtor de etanol.
A usina Cevasa fica no km 378 da Rodovia Candido Portinari, que liga Franca a Ribeirão Preto.
Histórico
A partir dos anos 70, após "crise" mundial do petróleo, a indústria brasileira da cana passa a produzir combustível, o que justificaria sua manutenção e expansão. O mesmo ocorre a partir de 2004, com o novo Pró-Álcool, que serve principalmente para beneficiar o agronegócio.
O governo brasileiro passa a estimular também a produção de biodiesel, principalmente para garantir a sobrevivência e a expansão de grandes extensões de monocultivo da soja. Para legitimar essa política e camuflar seus efeitos destruidores, o governo estimula a produção diversificada de biodiesel por pequenos produtores, com o objetivo de criar o "selo social". As monoculturas têm se expandido em áreas indígenas e em outros territórios de povos originários.
Em fevereiro de 2007, o governo estadunidense anuncia seu interesse em estabelecer uma parceria com o Brasil para a produção de biocombustíveis, caracterizada como principal "eixo simbólico" na relação entre os dois países. Essa é claramente uma face da estratégia geopolítica dos Estados Unidos para enfraquecer a influência de países como Venezuela e Bolívia na região. Também justifica a expansão de monocultivos da cana, soja e palma africana em todo o território latino-americano.
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Fuente: Vía Campesina