Brasil: entidades pedem veto ao milho transgênico
86 organizações de todo o País afirmam que governo não cumpre promessa de controlar transgênicos e cobram suspensão do plantio do milho modificado.
Oitenta e seis organizações civis protocolaram ontem no Ministério da Casa Civil uma carta aberta para a ministra Dilma Rousseff na qual pedem a suspensão imediata de todas as autorizações para plantio comercial de milho OGM (geneticamente modificado). As entidades pedem ainda a paralisação de todos os processos de licenciamento de variedades de milho transgênico em curso na CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança).
A ministra Dilma é presidente do CNBS (Conselho Nacional de Biossegurança), colegiado formado por 11 ministros e a instância máxima em biossegurança no país, única com poder de revogar decisões da CTNBio.
Na carta, organizações sociais, ambientalistas, de pequenos produtores e de consumidores alegam que as suspeitas de contaminação de produções de milho convencional estão sendo comprovadas. O Brasil colhe neste momento a primeira safra de milho transgênico.
Segundo anúncio dos próprios agricultores e de cooperativas, a maior parte dessa produção não vem sendo segregada do produto convencional.
As organizações pedem que o uso do milho OGM seja suspenso enquanto não houver garantias de coexistência.
Representantes da sociedade civil cobram do governo federal o cumprimento de promessas de “convivência pacífica” entre plantios convencionais, orgânicos, agroecológicos e transgênicos feitas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva na abertura da reunião COP 8, em Curitiba.
Eles dizem que Lula apoiou a liberação do plantio comercial de sementes OGM sob a condição de haver garantia de coexistência de lavouras convencionais e transgênicas.
A reportagem da Folha percorreu o interior do Estado do Paraná no mês de março e constatou lavouras de milho convencional contaminadas com variedade transgênica. A reportagem ouviu de vários agentes da cadeia de produção de grãos no Paraná que não há estruturas de colheita, transporte e armazenagem suficientes para separar o milho transgênico do convencional.
A falta de controle no início da cadeia de produção de alimentos compromete a rotulagem dos produtos vendidos aos consumidores. A própria CTNBio reconhece que a rotulagem exigida em lei não é cumprida em toda a extensão. A reportagem apurou que produtos processados não estão sendo rotulados não pela falta de matéria-prima transgênica usada na fabricação, mas pela impossibilidade de detecção de traços de material geneticamente modificado nos testes do Ministério da Justiça.
Brasília, 18 de junho de 2009.
Carta aberta à Ministra Dilma Rousseff
Presidente do Conselho Nacional de Biossegurança
Senhora Ministra,
Ao apoiar a liberação dos transgênicos o governo Lula prometeu haver no Brasil espaço para todos os tipos de agricultura. Com esse compromisso público, reiterado em 2006 perante a comunidade internacional durante a abertura da COP 8 em Curitiba, o Presidente se comprometeu a garantir a “convivência pacífica” entre plantios convencionais, orgânicos, agroecológicos e transgênicos. A realidade, contudo, vem mostrando total desrespeito do governo Lula para com a existência de diferentes modelos de agricultura e para com o direito dos consumidores.
Os alertas referentes ao descontrole e às consequências que decorreriam da liberação dos transgênicos estão todos se confirmando. Soja, milho e algodão transgênicos entraram ilegalmente no país e o fato consumado pautou as decisões oficiais. O CNBS recebeu dossiê assinado pela Central de Associações da Agropecuária Familiar do Oeste do Paraná, em junho de 2007, contendo provas dos casos de contaminação da soja, mas não se manifestou e não agiu, prejudicando os agricultores contaminados que optaram por não produzir transgênicos - com o compromisso do presidente Lula ignorado.
A CTNBio liberou o milho transgênico sem antes definir normas de coexistência, entre outras. Mesmo sob a argumentação técnica do IBAMA em recurso ao CNBS sobre a contaminação inevitável, esse Conselho de Ministros referendou a decisão da CTNBio, furtando-se de sua função estabelecida pela Lei de Biossegurança de apreciar os recursos dos órgãos de registro e fiscalização. As contaminações estão acontecendo, a CTNBio segue liberando outras variedades de milho transgênico e o CNBS continua inerte.
No último dia 10 de maio, o Jornal Folha de São Paulo em matéria intitulada “O Brasil perde o controle dos transgênicos”, denunciou o descontrole verificado no campo e na cadeia alimentar com relação ao uso de sementes transgênicas. Os produtores afirmaram não haver fiscalização pelo Ministério da Agricultura. Não há rastreabilidade (identificação na nota fiscal que acompanha o OGM), nem segregação dos grãos ao longo da cadeia produtiva (separação das produções), e com isso a rotulagem de alimentos não se concretiza. A própria Comissão Técnica Nacional de Biossegurança afirmou que a lei de rotulagem não é plenamente respeitada. Esta foi apenas a primeira colheita de milho transgênico.
Paralelamente, as sementes convencionais de soja e milho estão sumindo do mercado e o governo Lula continua inerte e calado. Estaria à espera de mais um fato consumado?
Diante do exposto, as organizações abaixo-assinadas vêm a este Conselho solicitar a suspensão do plantio e da comercialização de sementes de milho transgênico até que estejam plenamente garantidas:
1) A oferta de sementes convencionais e orgânicas em quantidade e qualidade;
2) Medidas eficazes para evitar a contaminação das lavouras orgânicas e convencionais;
3) Definição das condições para a segregação dos grãos ao longo da cadeia produtiva;
4) A rastreabilidade e rotulagem dos alimentos conforme decreto 4.680/03;
5) Rigorosa fiscalização dos órgãos competentes para honrar o compromisso assumido pelo Presidente Lula.
Estamos certos de que a adoção urgente dessas propostas é medida de defesa da agricultura brasileira e da segurança e soberania alimentar de nossa população.
Muito atenciosamente,
1.AAFEMED – Associação dos Agricultores Familiares e Ecológicos de Medianeira – PR
2.AAO Associação de Agricultura Orgânica
3.ABD Associação Brasileira de Agricultura Biodinâmica
4.Ação Brasileira pela Nutrição e Direitos Humanos – ABRANDH
5.ADECON – Associação de Defesa da Cidadania e do Consumidor – PE
6.ADOCON - Associação das Donas de Casa dos Consumidores e da Cidadania – SC
7.AFES - Ação Franciscana de Ecologia e Solidariedade
8.ANA Articulação Nacional da Agroecologia
9.ANCA - Associação Nacional de Agricultura Camponesa
10.ANPA Associação Nacional dos Pequenos Agricultores
11.AOPA - Associação para o Desenvolvimento da Agroecologia
12.APROMAC – Associação de Proteção ao Meio Ambiente / Paraná
13.ASA Brasil – Articulação do Semi-Árido Brasileiro
14.AS-PTA Agricultura Familiar e Agroecologia
15.Assentamento Josué de Castro - Fazenda Patos – Ouricuri – PE
16.ASSERA/BSB - Associação dos Servidores da Reforma Agrária de Brasília
17.Associação dos Agentes de Saúde de Bodocó – PE
18.Associação dos Agentes de Saúde de Ouricuri – PE
19.Associação Alternativa Terrazul
20.Associação dos Apicultores de Ouricuri – PE
21.Associação de Certificação Socioparticipativa da Amazônia - ACS Amazônia
22.Associação dos Trabalhadores/as Rurais da Agrovila Nova Esperança – PE
23.CAATINGA
24.CAPA Santa Cruz do Sul – RS
25.CAPINA
26.Centro Acadêmico de Nutrição da UFPR
27.Centro Nordestino de Medicina Popular
28.Centro de Organizações e Produtoras Agreocológicas do Araripe – PE
29.Centro Sabiá
30.Centro Vianei
31.CEPIS - Centro de Educação Popular do Instituto Sedes Sapientiae - São Paulo
32.CONSEA Pernambuco
33.CONSEA Rio Grande do Sul
34.Cooperafloresta – Ass. dos Agric. Agroflorestais de Barra do Turvo e Adrianópolis - SP
35.Cooperativa Central dos Assentamentos do Rio Grande do Sul - COCEARGS
36.Cooperiguaçu - Cooperativa Iguaçu de Prestação de Serviços
37.Cooperativa de Trabalhadores em Agroecologia Floreal
38.ESPLAR – Centro de Pesquisa e Assessoria
39.FASE
40.Federação das Associações de Engenheiros e Arquitetos do Estado do Rio de Janeiro – FAEARJ
41.Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar da Região Sul - FETRAF-SUL/CUT.
42.Federação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar do Brasil – FETRAF-BRASIL/CUT
43.Fórum Carajás
44.Fórum Cearense de Segurança Alimentar e Nutricional - FCSAN
45.Fórum Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional do PARANÁ (FESAN-PR)
46.Fórum Latino Americano de Defesa do Consumidor – FEDC
47.Fórum Nacional das Entidades Civis de Defesa do Consumidor - FNEDC
48.Fundação Cepema – CE
49.Fundação Rio Parnaíba - FURPA
50.GAE - Grupo de Agricultura Ecológica da UFRuralRJ
51.Greenpeace
52.Grupo de Estudos de Agricultura Ecológica
53.IBASE
54.IDEC Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor
55.Instituto Giramundo Mutuando – Botucatu – SP
56.Instituto Marista de Solidariedade – IMS
57.IPETRANS - Instituto de Pesquisas Transdisciplinares de Porto Alegre
58.Movimento Campones Popular – MCP
59.Movimento de Cidadania pelas Águas – MCPA-Brasil
60.Movimento de Donas de Casa e Consumidores da Bahia
61.Movimento de Donas de Casa e Consumidores do Rio Grande do Sul
62.Movimento da Mulher Trabalhadora Rural do Nordeste - MMTR-NE
63.Movimento de Mulheres Camponesas – MMC Brasil
64.Movimento de Mulheres Camponesas do Mato Grosso do Sul – MMC
65.Movimento de Mulheres Camponesas de Santa Catarina – MMC
66.Movimento dos Pequenos Agricultores – MPA Brasil
67.MST Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
68.Núcleo de Alimentação e Saúde Germinal
69.PACS
70.Rede de Agroecologia do Maranhão – RAMA
71.Rede Brasileira de Justiça Ambiental – RBJA
72.Rede Brasileira de Ecossocialistas
73.Rede Ecológica – Rio de Janeiro
74.Rede Ecovida de Agroecologia
75.Rede Terra -Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Apoio à Agricultura Familiar
76.Rede Sementes do Polo Sindical e das Organizaçoes da Borborema – PB
77.Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Exú – PE
78.Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Remigio – PB
79.Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Santa Filomena – PE
80.Siscooperater – Sistema de Cooperativas de Ater
81.Sociedade Ambientalista Mãe Natureza - SAMAN
82.Sociedade Brasileira de Engenheiros Florestais – SBEF
83.Terra de Direitos
84.UFAC/PZ/Arboreto - Pesquisa e Educação Agroflorestal
85.Via Campesina Brasil