Brasil: algodão Bt: um apelo à consciência nacional!
Com a publicação da decisão da CTNBio que liberou o algodão Bt, ficou claro que até mesmo os defensores do algodão Bt admitem que ocorrerão riscos para o meio ambiente
Refiro-me sobre a decisão de liberação do plantio, que definiu áreas do Nordeste e do Amazonas como áreas de exclusão. Nessas áreas crescem espécies nativas. A decisão definiu que o algodão Bt não pode ser cultivado nessas áreas, sob pena de polinizar essas espécies nativas e criar ervas monstros, resistentes a insetos e pragas. Ainda mais, na época da colheita os algodoeiros terão de ser retirados até a raiz, porque a toxina Bt no solo é altamente destruidora e se mistura com facilidade com a argila e age contra micro organismos, impedindo a decomposição da matéria orgânica.
O plantio foi autorizado sem ocorrer um estudo válido e confiável, sobre o seu impacto ambiental no Brasil. Havia o argumento, de quem se beneficiará do plantio do Algodão Bt, que ele aumentará a produtividade e reduzirá o custeio da produção. Isso é uma falsidade!
Há dados convincentes que vieram da Índia, particularmente o estado da Andra Pradesh onde o Algodão Bt plantado há duas décadas. Naquele estado, a cada ano a área plantada vem diminuindo, chegando ao tamanho rudimentar, refletindo frustrações e inibição dos agricultores.
Os estudos feitos e publicados por cientistas indianos, tratando com mais de 500 agricultores durante mais de dois anos, entre 2001 e 2002, mostram que o algodão Bt produziu menos frutas por planta, exibiu menos tolerância às condições adversas e apresentou um notável e maior numero de insetos sugadores, quase o dobro do que no algodão comum.
Trata-se de um resultado lógico e esperado, uma vez que a toxina Bt mata os predadores desses insetos sugadores, estimulando-os a crescer. O custo total de 1 hectare plantado por algodão Bt foi na faixa de US$92, contra US$ 82 no caso de algodão comum! Um elemento importante de custos de plantios é o custo de sementes, e essas são tão caras no caso algodão Bt, chagando até 120 vezes mais do que a comum.
O que atrai a atenção do estudo indiano é a resistência encontrada em insetos à toxina Bt, após poucas gerações de plantio. Em diferentes países foram encontrados resultados semelhantes de que a toxina não tem nenhum efeito, após a terceira ou quarta geração.
É uma tendência altamente perigosa, considerando a devastação dos predadores naturais. Os mais preocupantes são os aspectos da segurança nacional, pois os agricultores brasileiros não terão suas próprias sementes asseguradas para plantio nas futuras safras. A famosa multinacional proíbe os agricultores de armazenar as sementes para uso no próximo ano! Eles têm que destruir todas as suas sementes do ano e são obrigados a comprar de novo sementes da própria multinacional, pagando 120 vezes mais caro do que semente comum.
A pergunta é: se a produção não aumenta, o custeio não se reduz, e os pesticidas continuam os mesmos, para que o Brasil sofre tanto risco e destruição ambiental?
Nagib Nassar
Professor Titular, Genetica, UnB
Gene Conserve