Brasil: agronegócio, a lógica do terror

Idioma Portugués
País Brasil

Grandes fazendeiros sustentam seus impérios com base em assassinatos de camponeses e escravização de trabalhadores. O agronegócio é o carro-chefe da política do governo federal para a agricultura. Traz modernização e desenvolvimento para o Brasil, repetem os ministros e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mas, por onde se alastra, o agronegócio gera violência e desrespeito aos direitos básicos dos trabalhadores

Segundo dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), o setor é responsável por 33% do Produto Interno Bruto (PIB) do país - estimado em R$ 1,937 trilhão em 2005 - e 37% dos empregos brasileiros. Outras informações, da Comissão Pastoral da Terra (CPT), entidade que levanta e divulga dados sobre a violência no campo brasileiro, apontam o modelo de expansão do agronegócio como a principal causa dos 28 assassinatos de camponeses, de janeiro a agosto de 2005. Em média, há 41 trabalhadores mortos em conflitos agrários por ano - são mais de dois massacres de Eldorado de Carajás.

Os fazendeiros do agronegócio posam de inocentes diante das denúncias da CPT. Mas não hesitam em defender práticas violentas contra pessoas e organizações sociais que discordam deles. Em entrevista à Agência Notícias do Planalto, Jorge Mutran, cujas propriedades estão entre as maiores exportadoras de castanha-do-pará, dá a medida das práticas contra famílias sem-terras que ocupam terras para plantar: "Não tem jeito de tirá-los de lá. Tira e eles voltam. Fazendas já os tiraram sete vezes. E eles voltam".

Em 2004, o fazendeiro paraense foi multado por comprovação e reincidência de trabalho escravo em uma de suas fazendas, em uma ação civil pública movida pelo Ministério Público do Trabalho. O Pará é o Estado recordista em uso de mão-de-obra escrava - 13.511 trabalhadores foram libertados do cativeiro desde 1997, de acordo com dados da CPT. Mutran defende suas atividades na região como fundamentais para a "geração de emprego".

Poder do atraso

O agronegócio se expande. Com ele, os assassinatos de camponeses e o trabalho escravo. Sob a conivência dos governos. A avaliação é de dom Tomás Balduíno, presidente da CPT, para quem a os índices de violência só diminuirão quando o poder público se voltar para o interesse da população pobre: "Movimentos populares se queixam das instituições estatais que, há muito tempo, favorecem o grande capital, em detrimento da democratização da terra e dos bens".

Os representantes do agronegócio controlam cargos-chave no governo federal e barram projetos de interesse popular, como a reforma agrária. No Congresso Nacional, de acordo com pesquisa do Instituto de Estudos Socieconômicos (Inesc), que monitora e avalia o impacto das decisões parlamentares na sociedade civil, 73 deputados federais, de um total de 440, se alinham com os interesses dos grandes fazendeiros. No Executivo, o principal expoente da defesa do agronegócio é o ministro Roberto Rodrigues, do Mapa.

Além da penetração institucional, os grandes fazendeiros articulam entidades que defendem seus interesses, como a Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), quando está em pauta a política agrícola, e a União Democrática Ruralista (UDR), que age para barrar a reforma agrária.

Destruição ambiental

A violência do agronegócio atinge também a natureza. "Somos contra o agronegócio porque ele gera pobreza e miséria. Aumenta os espaços usados pela monocultura, voltada para a exportação, e diminui as áreas da agricultura diversificada, que garante o desenvolvimento das famílias camponesas. Anda-se 300 a 400 quilômetros, olha-se para um lado, para outro, e só se vê plantio de eucalipto ou pasto para gado. Não se vê arroz, feijão, milho", denuncia Maria Raimunda César, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

A área onde predomina o eucalipto - especialmente no Espírito Santo e no sul da Bahia - é conhecido como "deserto verde", em virtude do impacto ambiental causado pela monocultura dessa árvore. A maior exportadora mundial de celulose, a empresa Aracruz Celulose, é denunciada como a principal patrocinadora da devastação, que, no extremo, leva ao desaparecimento da fauna das fazendas. "Impõe-se a monocultura e se fragiliza o equilíbrio natural. Para impedir pragas, que proliferam, usa-se inseticidas em quantidades cada vez mais pesadas. Isso destrói o ambiente", explica dom Balduíno. (Colaborou Tatiana Merlino, da Redação)

João Alexandre Peschanski
da Redação

Fonte: Brasil de Fato

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