Brasil: Os guardiões da Amazônia estão a perder a batalha?
"Nos últimos quatro anos, a destruição da floresta aumentou 35% e a recessão da economia brasileira obrigou a cortes profundos no financiamento do Ibama".
Entre 2004 e 2012, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, conhecido como Ibama, conseguiu reduzir em 80% a taxa de desflorestação da Amazônia. Hoje, os agentes do Ibama estão exaustos e dizem travar uma batalha desigual contra os madeireiros ilegais que operam perto da cidade Novo Progresso, no norte do Pará.
“Os madeireiros estão melhor equipados do que nós”, explicou à Reuters Uiratan Barroso, responsável do Ibama na capital do estado, Santarém. “Enquanto não tivermos dinheiro para alugar carros descaracterizados e rádios eficazes, não vamos conseguir fazer o nosso trabalho”. Atualmente, os agentes do Ibama estão equipados com rádios com um alcance máximo de 2km e carrinhas que são facilmente reconhecidas pelos madeireiros.
A proteção da floresta da Amazônia continua a ser urgente: com uma área duas vezes superior à da Índia, é responsável pela absorção de dois mil milhões de toneladas de dióxido de carbono por ano, impondo-se como fundamental na luta contra o aquecimento global. E se o Brasil se orgulhava de ter conseguido inverter os números trágicos da desflorestação – em 2012 a área destruída chegou a cair para um mínimo histórico de 4571 quilómetros quadrados -, esse investimento é agora praticamente inexistente e uma incógnita. Nos últimos quatro anos, a destruição da floresta aumentou 35% e a recessão da economia brasileira obrigou a cortes profundos no financiamento do Ibama.
Na região de Novo Progresso, onde a desflorestação ilegal se apresenta como uma das poucas fontes de rendimento para uma população de 25 mil habitantes, os agentes sentem o peso dos cortes. O controlo aéreo com recurso a helicópteros desapareceu e o reforço de agentes é impossível. “Não temos sequer verba para pagar os testes de aptidão que permitem aos agentes ter uma arma”, explicou Barroso. Um teste custa cerca de 50 euros. A destruição ilegal da Amazónia faz-se acompanhar de corrupção e insegurança. “Só confio em metade das pessoas com que trabalho”, afirmou o agente responsável.
O Ministério Ambiente brasileiro já reconheceu que a falta de recursos reduziu a capacidade de operação dos agentes no terreno. A solução chegou no início deste mês de Novembro: uma ajuda de 56 milhões de reais – cerca de 15 milhões de euros – garantidos pelo Fundo Amazônia, financiado pela Noruega e Alemanha. Ainda assim, o sentimento é o de que pode ser tarde demais para o Brasil atingir a meta de “desflorestação zero” até 2030.
Fonte: Instituto Humanitas Unisinos