Brasil: Educação de tempo integral é uma realidade na Bahia

Idioma Portugués
País Brasil

Famílias de quatro assentamentos, comunidades de pequenos agricultores, pescadores e marisqueiros participam diretamente das atividades da escola, garantindo que a educação seja um elemento transversal.

Inspirados nos pensamentos revolucionários do educador popular Paulo Freire, mais de 450 famílias Sem Terra da brigada Aloísio Alexandre, no extremo sul da Bahia, protagonizam a primeira experiência de educação de tempo integral em áreas de Reforma Agrárias no estado.

A Escola Estadual de Tempo Integral Alcides Afonso de Souza, está localizada no Assentamento Paulo Freire, em Mucurí, e vem funcionando nessa modalidade desde o ano de 2014 atendendo aproximadamente 180 estudantes do 6º ao 3º ano do ensino médio e também na Educação de Jovens e Adultos (EJA).

Famílias de quatro assentamentos, comunidades de pequenos agricultores, pescadores e marisqueiros participam diretamente das atividades da escola, garantindo que a educação seja um elemento transversal.

A escola é resultado da luta e determinação dos trabalhadores e trabalhadoras Sem Terra na região, que historicamente realizam diversas mobilizações em defesa da Reforma Agrária e, principalmente, por uma educação do campo de qualidade.

Sujeitos agroecológicos:

O assentamento Paulo Freire se caracteriza por ser uma comunidade de famílias camponesas onde retiram seu sustento da agricultura, em especial da produção de cacau e mel.

Outra característica importante do assentamento, são as áreas de preservação ambiental com mais de 930 hectares de floresta. Para Elci Barbosa, assentada e catadora de sementes nativas na comunidade, a existência dessa grande extensão de florestas se deve ao grande empenho das famílias, que não medem esforços para proteger o meio ambiente e preservar a biodiversidade.

"Todos da comunidade são fiscais florestais. Constantemente temos que abordar caçadores. Aqui não se tira uma vara verde. Se não fosse a presença do assentamento essa riqueza já não existiria", diz Barbosa.

Nesse ambiente, a escola entra com o conhecimento técnico para garantir o desenvolvimento da educação campo, apontando a agroecologia como ferramenta fundamental para construção de um conhecimento emancipador.

Mariza Silva, da direção estadual do MST, acredita que a agroecologia como matriz produtiva e como filosofia de vida, que se contrapõe ao modelo de produção do capital, é de extrema importância para o processo de formação da juventude e dos adultos.

Outro ponto, é a capacidade da escola de envolver o corpo estudantil com as comunidades, realizando atividades de campo e propondo a construção de sujeitos agroecológicos.

Dia a dia:

Relatando um pouco das atividades realizadas durante os dias de aula, Luana Costa Lima, do 1º ano, conta que recebe diariamente cinco aulas, entre elas, teóricas e práticas. “Existe também uma organização diária em coordenações por turma e pelo conjunto das turmas, buscando um maior aproveitamento do aprendizado”.

"A função das coordenações é para organizar e pensar a mística e a formação, fazer o relatório do dia, coordenar a disciplina de horários, comportamento e eventuais problemas”.

Já René Santos, do 8º ano, explica que os educandos realizam constantemente uma avaliação geral, onde realizam propostas a coordenação da escola para superar as principais dificuldades.

Sonhar e lutar:

Para Mariza, as famílias nunca desistiram de sonhar e lutar, mesmo diante das diversas dificuldades e o descaso dos poderes público. “Nos anos iniciais do assentamento, as crianças tinham que caminhar diariamente mais de 7 km, em um percurso que cruzava parte da floresta para chegar à escola de um povoado vizinho”.

“Foram tempos difíceis. As aulas terminavam a noite. Não tínhamos lanterna e para não nos perdemos no meio da escuridão andávamos em fileiras, de mãos dadas e com um candeeiro improvisado para iluminar o caminho escuro”, recorda.

"Hoje, a escola de tempo integral representa para a comunidade um símbolo de luta e de dias melhores", conclui.

- Foto por Maurício Susin.

Fonte: MST - Brasil

Temas: Agroecología, Comunicación y Educación

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