Brasil: Congresso do MST reúne 17 mil em Brasília
Mais de 17 mil delegados de assentamentos e acampamentos de 24 estados participam do 5º Congresso do MST, o maior da história do Movimento, sob o lema "Reforma Agrária: por Justiça Social e Soberania Popular", no Ginásio Nilson Nelson, em Brasília, entre 11 e 15 de junho
O evento será uma grande festa para comemorar as conquistas dos trabalhadores Sem Terra nos últimos 23 anos, demonstrando a unidade dos integrantes do movimento e apoio da sociedade à luta pela Reforma Agrária. "É um momento de fortalecimento e consolidação do Movimento, trabalhando a mística e valores", afirma o integrante da coordenação nacional do MST, Gilmar Mauro.
Durantes os cinco dias, os trabalhadores rurais ficam acampados em torno do ginásio, onde acontecem os debates sobre o atual estágio da questão agrária, o papel do Estado, sobre o governo Lula e a conjuntura política internacional.
"O Congresso é um espaço de confraternização interna, onde temos a possibilidade de encontrar toda a companheirada que faz a luta de norte a sul do país. É um momento impar onde podemos fazer as discussões, estudos e estabelecer as táticas", define.
O país apresenta uma nova conjuntura da questão agrária, que passou por mudanças na década de 90, quando o mundo passou por um processo de globalização capitalista, que impôs aos países periféricos no meio rural o chamado agronegócio.
O modelo agroexportador é caracterizado pela produção em grandes extensões de terra de monocultura para exportação, de forma mecanizada e com a expulsão de mão-de-obra do campo. O avanço do agronegócio e das empresas transnacionais, sob a hegemonia do capital financeiro, mudou a questão agrária no país.
Por outro lado, a pobreza, superexploração do trabalho dos camponeses e a concentração de terra continuam sem solução. Mais de 230 mil famílias estão acampadas pelo país, das quais 140 mil integram o MST.
Programa agrário
Diante disso, os movimentos sociais tiveram que criar novas formas de luta para fazer o enfrentamento com esses setores, que se constituem como obstáculos para a democratização do acesso à terra e produção agrícola.
"No Congresso, queremos fortalecer o MST e o nosso projeto para a sociedade brasileira, em particular em relação à luta pela Reforma Agrária, que significa hoje enfrentar as grandes corporações ligadas ao capital financeiro, enfrentar o agronegócio e, acima de tudo, discutir com a sociedade um novo modelo de agricultura", afirma Mauro.
Diante das mudanças, o MST vai concluir e apresentar à sociedade uma proposta alternativa para o campo brasileiro, intitulada "A Reforma Agrária necessária: Por um projeto popular para a agricultura brasileira".
O programa agrário apresenta objetivos e propostas concretas para a resolução da questão agrária, com a garantia de boa qualidade de vida e trabalho aos Sem Terra (sem-terra) e a superação da brutal desigualdade social no campo.
Além disso, propõe o modelo da soberania alimentar, com a produção de alimentos a toda a população, e a preservação da natureza. Segundo Mauro, o lema do Congresso surgiu da compreensão do Movimento de que o combate às desigualdades e a garantia da efetiva participação política da população dependem da mudança da estrutura fundiária no país.
"A luta por Reforma Agrária está casada com a busca por Justiça Social e Soberania Popular, dentro de um conjunto de lutas da classe trabalhadora para alterar as condições de trabalho, o modelo econômico e agrícola para caminharmos na perspectiva de discutir com a sociedade brasileira um novo projeto para o Brasil".
Construindo a história da nossa luta
A vitória nas eleições de 2002, com Lula chegando à Presidência da República, criou grandes expectativas na classe trabalhadora. Iniciamos o ano de 2003 com quase 200 mil famílias acampadas. Infelizmente, essa expectativa não se concretizou, uma vez que o Lula deu continuidade à política neoliberal de FHC.
4º Congresso (2000) – Reforma Agrária: por um Brasil sem latifúndio
Na eleição 1994, a elite brasileira consolidou, em torno da candidatura de FHC, uma unidade política que não havia tido em 1989, na vitória de Collor, eliminando o risco de uma candidatura de esquerda vencer o processo eleitoral.
3º Congresso Nacional (1995) – Reforma Agrária, uma luta de todos
A primeira metade da década de 1990 se caracterizou pela adoção das políticas neoliberais em nosso país. A privatização das estatais, a desnacionalização da economia e o incentivo ao consumismo de produtos importados foram impostos no imaginário da população como sinônimos de modernização do país e ingresso no seleto grupo dos países desenvolvidos.
2º Congresso Nacional (1990) – Ocupar, Resistir e Produzir
A elaboração do Plano Nacional de Reforma Agrária (PNRA), em 1985, da Constituição Federal (1988), os enfrentamentos com a União Democrática Ruralista (1986-90) e com o Centrão e a eleição presidencial de 1989 foram atividades políticas que retrataram a efervescência política da segunda metade da década de 1980.
1º Congresso Nacional (1985) – Sem Reforma Agrária, não há Democracia
A década de 1980 representa o esgotamento do modelo de desenvolvimento urbano-industrial, iniciado na década de 1930. Ao mesmo tempo, 1984 foi o último ano de um governo da ditadura militar, iniciada em 1964. Desde meados da década de 1970, as lutas populares e sindicais, principalmente dos grandes centros urbanos, exigiam o fim do regime militar e liberdades