Brasil: Agrotóxicos impactam o sangue e afetam doadores, diz dissertação na USP
Os agrotóxicos afetam também o sangue. Dos doadores aos receptores de transfusões. É o que diz uma dissertação de mestrado defendida este ano na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP), e publicada nesta quinta-feira (10/08).
Os dados obtidos pela pesquisadora Fortuyée Rosa Meyohas Neves indicam menor sobrevida de plaquetas e hemácias do sangue nas populações expostas a agrotóxicos. “E que há metabólitos de agrotóxicos no plasma de indivíduos, potenciais doadores de sangue, expostos aos agrotóxicos”, escreve ela já na introdução.
Fortuyée fez uma revisão de 50 trabalhos sobre o tema publicados na literatura científica. E listou quais os pesticidas mais utilizados por potenciais doadores de sangue da região serrana do Rio de Janeiro. Um dos objetivos, dar visibilidade à doação de sangue por moradores da zona rural.
Ela observa que o Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo. Entre 15 mil formulações no mundo para 400 diferentes agrotóxicos, conforme os dados da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o país tem licenciadas mais do que a metade: 8 mil.
Segundo a dissertação, há hoje muitos estudos sobre potenciais danos das transfusões à saúde humana. Por isso a necessidade de saber se os doadores da área rural “seriam o veículo para contaminação de receptores pela transfusão”. Fortuyée não encontrou trabalhos específicos sobre esse tema, no Brasil.
Outros estudos evidenciaram a contaminação do leite materno. Por exemplo, pesquisas desenvolvidas por Wanderlei Pignati na Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT): Por isso se especulava que haveria esse impacto também nos doadores de sangue.
Em relação ao glifosato, o agrotóxico mais consumido no mundo, a pesquisadora da USP escreve que “praticamente todos os seres humanos estão permanentemente expostos à sua ação”. E que formulações à base desse herbicida podem promover alterações hematológicas e hepáticas, “que podem ser associadas à formação de oxigênio reativo com danos ao fígado, anemia e outros”.
Em sua conclusão, a pesquisadora conta que, no grupo de pessoas mais expostas aos agrotóxicos na produção agrícola, os efeitos adversos “foram proporcionalmente mais intensos”, “e que há relação direta das alterações hematológicas e data da última exposição”.
Segundo ela, isso sugere “inaptidão temporária desses doadores provenientes da área rural com exposição a agrotóxicos”, da mesma forma que ocorre no caso de candidatos a doação de sangue que utilizam determinados medicamentos.
Os dados da literatura indicam que os agrotóxicos “são capazes de induzir alterações nas membranas celulares e no metabolismo dos componentes dos sangues dos doadores”. Consequência possível: redução da sobrevida das hemácias e plaquetas. E perda da qualidade do produto final: o sangue.
A pesquisadora encerra sua dissertação apontando a necessidade de aporte financeiro para o desenvolvimento de mais pesquisas sobre o assunto, que confirmem a ação dos agrotóxicos em hemácias e plaquetas.
Fonte: Instituto Humanitas Unisinos