Brasil: "Agrotoxico e igual cafezinho" diz representante da Monsanto
Audiência pública recebeu a multinacional e organizações da sociedade civil para debater o projeto de lei que prevê o banimento do glifosato e de outros agrotóxicos em Pernambuco; se aprovado, o estado será o primeiro do país livre do agroquímico.
Representantes da empresa Monsanto participaram de uma audiência pública para apresentar as pesquisas desenvolvidas pela companhia e defender o uso de transgênicos e agrotóxicos. Segundo gerente da multinacional presente no evento, “o sal de cozinha pode matar mais rápido que o agrotóxico glifosato”. A atividade aconteceu na Comissão de Agricultura da Assembleia Legislativa de Pernambuco (ALEP), em Recife (PE), na última terça-feira (18).
A audiência foi motivada pela tramitação do Projeto de Lei nº 261/2015, que prevê o banimento do glifosato e de outros agrotóxicos que já estejam proibidos em seu país de origem.
A posição da empresa, apresentada por Andrea Aragon, gerente de assuntos corporativos da Monsanto, foi criticada por representantes de movimentos populares, estudantes e organizações da sociedade civil que estavam presentes.
O integrante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Talles Reis, disse que o glifosato já está com uso restrito em mais de 20 países. "Esta engavetado há mais de sete anos um parecer da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) que pede a suspensão do glifosato", denuncia.
Maitê Maronhas, da Articulação do Semiárido (ASA) denunciou os impactos negativos das sementes transgênicas e afirmou que as sementes mais adequadas e adaptadas para o Semiárido brasileiro são as selecionadas por agricultores e agricultoras da própria região, que o fazem há gerações.
O autor do projeto, deputado estadual Rodrigo Novaes (PSD), também criticou a empresa. Segundo ele, não há nenhuma vantagem em desenvolver a economia e manter o emprego “se isso gera o aumento de câncer nas pessoas que consomem estes produtos”, enfatizando a prioridade na saúde.
Impactos na saúde:
O representante da Campanha Permanente contra os Agrotóxicos e pela Vida, Pedro Albuquerque, também membro da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), lembrou que o plantio de transgênico já está proibido em vários países no mundo. Além disso, Albuquerque apresentou pesquisas científicas comprovando que o glifosato é uma das causas de doenças como o Mal de Alzheimer, Parkinson, distúrbios na tireóide e câncer. Ele ainda apontou que a maioria dos alimentos consumidos pelos brasileiros vem da “agricultura familiar, que gera mais emprego que o agronegócio”.
O membro Sindicato dos Trabalhadores Rurais do município de Pombos, João da Ronda, também apontou sua visão contrária ao afirmado pela empresa, afirmando que os agrotóxicos “fazem mal à saúde”. Ronda apresentou dois trabalhadores rurais contaminados pelo uso do agrotóxico Roundup, que tem como princípio ativo o glifosato e é produzido pela Monsanto.
Resposta da Monsanto:
Após as intervenções da sociedade civil, a representante da Monsanto ironizou a preocupação dos disse que a classificação do glifosato como potencialmente cancerígeno está no mesmo nível do picles, da atividade de cabeleireiro e do cafezinho: “glifosato é igual a cafezinho” e “o sal de cozinha pode matar mais rápido que o glifosato”, afirmou Andrea Aragon, provocando risos entre os presentes.
Também pela Monsanto, Pedro Palatinik, gerente de relações governamentais, desqualificou o relatório do Instituto Nacional do Câncer (Inca), que relaciona o câncer ao consumo de alimentos com agrotóxicos. Palatinik também atacou a Fiocruz, que enviou uma pesquisadora, na semana passada, à Comissão de Saúde da ALEP para debater o mesmo projeto de lei, acusando-a de “fazer provocações na Anvisa”.
Essa foi a primeira vez que a Monsanto aceitou um convite para um debate público em uma Assembleia Legislativa. Andrea Aragon disse que a empresa estará priorizando ações como esta, visando construir a imagem de uma “nova” Monsanto, e tentando recuperar a sua imagem frente ao desgaste que vem sofrendo na imprensa e na sociedade.
Se o projeto de lei que prevê o banimento do glifosato e de outros agrotóxicos seguir sua tramitação normal, e sendo aprovado pelo plenário da ALEP, o estado de Pernambuco será o primeiro do Brasil livre do glifosato.
Informações: Maíra Gomes – Brasil de Fato