Brasil: A lama da destruição
No dia 5 de novembro de 2015, rompeu a barragem do Fundão, no Município de Mariana, Minas Gerais, Brasil. A barragem da Samarco que rompeu perto de Mariana – e a longa luta por direitos e justiça.
Os rastros de destruição:
Milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério de ferro da empresa Samarco, uma empresa de sociedade anônima controlada em partes iguais pela anglo-australiana BHP Billiton Brasil Ltda. e a brasileira Vale S.A., formaram uma enxurrada de lama que destruiu vilarejos, 349 casas, escolas e igrejas, além de contaminar o Rio Gualaxo do Norte, Rio do Carmo e do Rio Doce. Ao todo, 19 pessoas morreram.
Segundo a empresa de consultoria americana Bowker Associates, o desastre de Mariana representa o triplo recorde mundial da história da mineração: 1. trata-se do derrame de uma quantidade de lama entre 32 e 62 milhões de metros cúbicos, 2. a extensão da destruição ao longo de 680 km e 3. os danos avaliados entre 5 e 55 bilhões de dólares.
No que diz respeito à reparação e a indenização, muitas das pessoas atingidas ainda esperam por justiça.
A comunidade de Bento Rodrigues foi destruída pela lama:
Não havia uma sirene de alarme instalada no complexo das barragens de rejeitos de minério de ferro da empresa Samarco quando a barragem do Fundão rompeu, no dia 5 de novembro de 2015. Não havia quem avisasse aos moradores de Bento Rodrigues, cidade localizada a cerca de 2,5 quilômetros vale abaixo da barragem.
Não havia quem avisasse aos moradores de Bento Rodrigues:
A enxurrada de lama de ao menos 32 milhões de metros cúbicos de lama atingiu diretamente o pequeno vilarejo de Bento Rodrigues. Os moradores não foram avisados. Os 56 milhões de metros cúbicos que estavam armazenados na barragem seriam suficientes para encher 24.800 piscinas olímpicas.
Restavam apenas 11 minutos:
Restavam apenas 11 minutos até que a lama chegasse a Bento Rodrigues, derrubando muros e casas, soterrando ruas e praças, destruindo árvores e pequenos jardins dos moradores, levando os currais e as criações. Quem escutou o barulho lá de longe teve apenas tempo para tentar fugir da lama e salvar a vida dos demais.
»A barragem rompeu!«
»A barragem rompeu!«, gritou a moradora Paula Geralda Alves, que ouviu a notícia no rádio do colega de trabalho. Ela logo pegou sua moto e foi avisar aos moradores de Bento Rodrigues, buzinando alto para alertar a todos e todas. »A buzina da minha moto é bem fraquinha, mas, nesse dia, não sei por que, estava alta «, relatou Paula . »Na hora em que aconteceu isso, eu saí correndo, pegando menino e idoso para jogar em cima de caminhão, ajudei uma vizinha a carregar o pai dela que não anda. Só depois disso que eu subi em um morro e olhei para baixo. Daí eu vi que estava tudo tomado de lama. O Bento tinha acabado.«
A lama seguiu seu caminho:
Depois de Bento Rodrigues, a lama destruiu as casas do vilarejo do distrito de Paracatu de Baixo.
E a lama seguiu:
Quatorze horas após o rompimento da barragem, a enxurrada de lama, passando por inúmeras casas e sítios, bem como os povoados Pedras e Gesteira, além, de outros, chegou ao município vizinho Barra Longa. Mesmo tendo passado mais que 11h desde o rompimento em Bento Rodrigues, ninguém avisou a população de Barra Longa. A lama destruiu casas e muros, escolas e igrejas, soterrou ruas e pontes.
A lama desceu nos vales dos rios Gualaxo do Norte, Carmo e Doce:
Nada conseguiu barrar o caminho da enxurrada de lama.
A barragem do Fundão ficava localizada a uma altitude de aproximadamente 1.200 metros acima do nível do mar. A lama seguiu caminho vale abaixo, em direção ao Rio Gualaxo do Norte, encheu o percurso deste pequeno rio e seguiu mais 55 km para o rio do Carmo. Percorreu os 22 km do rio do Carmo, quando atingiu, ao fim, o rio Doce. A lama, carregada de rejeito de mineração, passou pelas comportas e turbinas da UHE Risoleta Neves, Candonga. Percorreu, nos 17 dias seguintes, os 580 km restantes do Rio Doce, cruzando os estados de Minas Gerais e Espírito Santo, até chegar no dia 22 de novembro à praia de Regência, em Linhares, Espírito Santo, foz do rio Doce no Oceano Atlântico.
Fonte: CIDSE