Biopiratas são "premiados" na COP

O inglês Jim Thomas, da ONG canadense Grupo de Ação sobre Erosão, Tecnologia e Concentração (Grupo ETC), vestido de capitão gancho, anunciou os vencedores da Biopirataria. Entre os "premiados", a multinacional Syngenta, que no Brasil teve uma área ocupada por representantes da Via Campesina em março, nos arredores do Parque Nacional do Iguaçu, recebeu o prêmio na categoria "A pior ameaça à soberania alimentar", por causa da patente Terminator, que produz grãos estéreis depois de colhidos. Devido a denúncia de experimentos transgênicos ilegais, foi a empresa mais vaiada entre as mais de cem pessoas presentes. O prêmio, que nenhum dos "vencedores" foi receber, era um gancho, como o do pirata.

Além de servir para anunciar à COP-8 as pessoas, empresas e governos que a Colizão Contra a Biopirataria elegeram como os "vilões", também foram premiados aqueles que melhor resistiram nos últivos dois anos em relação à biopirataria. Os vencedores do prêmio Cog (navios desenhados para repelir ataques de piratas) receberam uma luneta. As mulheres da Via Campesina, pela defesa da soberania alimentar, foram as mais aplaudidas. A chilena Luz Rodrigues Huerta, da Associação Nacional de Mulheres Rurais e Indígenas (Anamuri) falou em nome da organização, afirmando que há 500 anos os povos indígenas resistem nas Américas para garantir a permanência do conhecimento dos povos. "Precisamos querer o que é melhor para o nosso mundo", declarou.

A mexicana Verónica Villa, do Grupo ETC, que ajudou a entregar os prêmios,explicou que a ong faz parte da Coalizão contra a Biopirataria e tem como missão documentar e divulgar casos de biopirataria. Ela também acredita que até o momento a COP-8 está sendo uma vitória, apesar da pressão de países como a Austrália e o Canadá, influenciados pelos Estados Unidos, que ainda estão tentando ter autorização para a tecnologia Terminator. "A COP decidiu manter a proibição das plantações com Terminator, mas será referendada pela reunião de ministros do meio ambiente na semana que vem", alertou.

A Coalizão conta a Biopirataria é um grupo informal da sociedade civil que se reuniu pela primeira vez em 1995, durante a Conferência das Partes, em Jakarta. Esta premiação é a quarta edição, que ocorre sempre na programação paralela das COPs.

Prêmios Capitão Gancho por Biopirataria 2006

Syngenta, na categoria Pior Ameaça à Segurança Alimentar, por conta da patente tipo Terminator

 

J. Craig Venter, na categoria O Biopirata Mais Ganancioso, que fez uma expedição global para coletar e sequenciar a diversidade microbiana dos oceanos e dos solos do planeta

 

Google Inc., na categoria A Maior Ameaça à Privacidade Genética, que criou uma base de dados para o pesquisador americando J. Craig Venter

 

Delta & Pine Land Co., Prêmio da Maquiagem Extrema, que vende a imagem da Terminator como sendo uma ferramenta de biossegurança

 

Governo dos EUA, como o Ato de Biopirataria Mais Vergonhoso, por impôr leis de propriedade intelectual sobre cultivos no Iraque

 

Projeto Genográfico Humano, como Pior Dejà Vu, que recebeu mais de US$ 40 milhões da IBM e da National Geographic para analisar mais de cem mil amostras de DNA de povos indígenas

 

Canadá, Austrália e Nova Zelândia, prêmio Eixo do Mal, pelas intermináveis tentativas para minar a moratória sobre a tecnologia Terminator

 

Nanosys Inc, A Maior Minúscula Apropriação da Natureza, por obterem nos EUA patente sobre tubos nanoscópios de óxidos metálicos, que representam mais de um terço dos elementos químicos da tabela periódica

 

Genencor e outros, a Pior Traição, por clonar e vender microorganismos do Quênia sem autorização

 

Universidade da Califórnia-Davis, o Mais Hipócrita Ganhadores Conjuntos, por patentear um gene de resistência à ferrugem, extraída de uma variedade de arroz em Mali

 

The Biotechnology Industry Organization (BIO), por pedir que as companhias associadas a ela ignorassem as regras de bioprospecção, que própria organização escreveu

 

Prêmios Cog

Rede de Defesa do Milho e o Povo Wixárika (hichol), do México, na categoria A Melhor Defesa dos Povos Ganhadores Conjuntos, por ampliar a luta contra a contaminação do milho transgênico e pelo povo Wixárika conseguir reaver 10.200 hectares de suas terras

 

Deccan Development Society (Índia), pela pesquisa sobre o efeito do milho transgênico Bt, que resultou na proibição da Monsanto no país

 

Via Campesina, como Melhor Defesa da Soberania Alimentar, pela Campanha Global de Sementes, iniciada em 2003, resistindo a ao controle das indústrias multinacionais de sementes e biotecnologia

 

Grupo África na CDB, como a Melhor Defensoria na CDB, por fazer forte oposição ao Terminator desde 1998

Programa Comunitário de Desenvolvimento e Conservação da Biodiversidade, por compartilhar métodos de produção agrícola que enriquecem a biodiversidade

 

Edmonds Institute e o Centro Africano de Biossegurança, como o Melhor Denunciante, que divulgou este ano o relatório Out of Africa, denunciando 34 novos casos de biopirataria na África

 

Magda Aelvoet, ex-presidente do Grupo dos Verdes no Parlamento Europeu; Dra. Vandanna Shiva, da Research Foundation for Science, Technology and Natural Resource Policy e Linda Bullard, da Federação Internacional dos Movimentos de Agricultura Orgânica, na categoria A Vitória Mais Agradável por impugnarem uma patente da Oficina Européia de Patentes (EPO) sobre a prepração de um fungicida derivado das sementes da árvore do Neem