Alemanha já investiu quase R$ 100 milhões em ‘políticas verdes’ do Acre
Na avaliação do especialista, estas cooperações acabam por ter um alto custo nos ombros das populações rurais, ficando elas impedidas de ampliar sua produtividade.
A principal potência econômica europeia, a Alemanha, tem injetado desde o fim do governo Binho Marques (2007-2010) alguns milhões de euros no Acre como forma de compensação por suas políticas econômicas agressivas do ponto de vista ambiental. Praticadas no Velho Mundo. Representada pelo banco KFW, Berlim já injetou nas políticas sustentáveis acreanas uma soma de R$ 95 milhões. Mais de 80% destes recursos foram destinados para a compra de 11 milhões de toneladas de crédito de carbono.
Para reforçar esta parceria, o governador Tião Viana recebeu na semana passada a visita do embaixador da Alemanha no Brasil, Dirk Brengelmann. O gerente de projetos do KFW também integrou a comitiva alemã. No encontro foi debatido o fortalecimento das parcerias entre acreanos e os europeus, que resultem na injeção de novos investimentos financeiros nas políticas ambientais do Estado.
“A cooperação entre o Acre e a Alemanha data de muitos anos. Eu fiquei muito feliz de ouvir que o estado continua com esse compromisso de trabalhar nessa área, protegendo as florestas e garantindo o ingresso sustentáveis para os produtores”, disse Brengelmann.
Estas cooperações com governos e bancos internacionais são criticadas por alguns setores, que apontam a prática como a “mercantilização” da Floresta Amazônica, também chamada de “capital verde”. Para este segmento, enquanto governo recebe recursos em dólares e euros, as comunidades tradicionais da floresta continuam a viver na pobreza.
“Os países desenvolvidos sabem do potencial econômico da floresta amazônica. Por isso procuram interferir em seus usos. Dentre outras, a cooperação é uma dessas formas de interferência, acumulando conhecimento e controle sobre as riquezas daqui. Diferente das interferências diretas, como a ocupação física, a cooperação não levanta tanta suspeita ou antipatia”, diz o cientista político Israel Souza.
Na avaliação do especialista, estas cooperações acabam por ter um alto custo nos ombros das populações rurais, ficando elas impedidas de ampliar sua produtividade, reduzindo os ganhos e as mantendo na pobreza. “Via de regra as políticas ambientais daí resultantes [das cooperações] limitam ou anulam os direitos das populações locais sobre seus territórios, impedindo-as de utilizá-los segundo seus saberes e necessidades”, ressalta Souza.
O cientista político completa: “A cooperação dá influência e o país que tiver mais influência sobre as riquezas daqui leva vantagem sobre os outros. Para as populações locais quase não há ganhos, a não ser para uns poucos, como agentes estatais ou ONGs”.
Segundo ele, todo este modelo da “mercantilização” da floresta acreana foi iniciado no governo Jorge Viana (1999-2006), que colocou em prática a chamada “florestania”, com o objetivo de tornar o Acre referência mundial na adoção de políticas de desenvolvimento sustentável.
“Jorge Viana fez sua propaganda em cima disso, mesmo que essas cooperações e as políticas ambientais delas tiradas tenham apenas sido danosas para as florestas e suas populações” define Souza.
Fuente: Contilnet