A resistência dos camponeses colombianos
Apesar da repressão, camponeses colombianos seguem na resistência: em alguns países a intensa repressão aos movimentos sociais, prejudica a luta dos movimentos sociais, que seguem resistindo. É o caso da Colômbia, onde o governo de Alvaro Uribe, aliado aos interesses imperialistas, tenta cotidianamente minar as forças sociais no país
A eleição de Evo Morales na Bolívia e o processo de mudanças sociais em curso na Venezuela são indícios de que a América Latina tem a chance de enfrentar mudanças na correlação de forças políticas. Mas em alguns países a intensa repressão aos movimentos sociais, prejudica a luta dos movimentos sociais, que seguem resistindo. É o caso da Colômbia, onde o governo de Alvaro Uribe, aliado aos interesses imperialistas, tenta cotidianamente minar as forças sociais no país. "O ambiente para os camponeses na Colômbia, segue sendo caótico. Mas mesmo assim continuamos resistindo e elaborando propostas claras no que diz respeito à reforma agrária", afirma Mabel Andrade da ANUC-UR (Associação Nacional de Usuários Campesinos Unidade e Reconstrução).
Em entrevista, a dirigente que participa da atividades do VI Fórum Social Mundial, fala também da conjuntura política do país que, neste ano, terá eleições.
Como está a conjuntura da reforma agrária na Colômbia, que possui um governo aliado ao imperialismo, marcado pela criminalização das lutas sociais?
Mabel Andrade - Em meu país, seguem acontecendo a repressão e criminalização dos movimentos sociais, assim como assassinatos de lideranças e a expulsão dos camponeses de suas terras. O processo de concentração da terra nas mãos dos paramilitares e do narcotráfico também continua. Não existe lei de reforma agrária e, com o governo Uribe é dificíl que ela venha acontecer. O ambiente para os camponeses permanece caótico. Mas mesmo assim continuamos resistindo e elaborando propostas claras no que diz respeito à democratização da terra. Uma delas, o mandato agrário, que foi construído por muitas organizações constitui uma proposta de se criar uma real política de reforma agrária em nosso país, que saia do papel porque não há vontade política de democratizar a terra no país. A outra proposta é o congresso itinerante organizado pelos companheiros indígenas do departamento de Cauca. Mesmo com o ambiente desfavorável, há muitas propostas caminhando, assim como nossas lutas seguem, continuamos colocando nossas propostas.
Em Cauca, regiaõ ocidental da Colômbia está prevista a liberação de 12 áreas de terra e a tarefa é liberar mais e concientizar a restante dos movimentos do país que a questão da terra não é uma bandeira apenas dos camponeses, mas de todos. E de que reforma agrária não significa apenas ter acesso a terra. Quais são as perspectivas para as eleições deste ano na Colômbia?
Mabel Andrade - Em março teremos eleições no Congresso e, em maio para presidência. Hoje os movimentos colombianos estão pensando qual a proposta alternativa ditadura velada que vivemos no país. Há grandes chances deste governo se reeleger, porque ele utiliza muitos mecanismos para defender seus intereses, inclusive os meios de comunicação e o paramilitarismo. Está em curso uma propostas do movimentos de discutir qual o candidado da esquerda mais ainda nao chegamos à um acordo único. Vamos tentar assegurar pessoas comprometidas com o povo na Câmara, mas é difícil por causa de todo o contexto. Para que a reforma agrária aconteça, é preciso a pressão dos movimentos sociais e o compromisso do governo em torná-la política pública.
É possível que isso ocorra na Colômbia?
Mabel Andrade - Nós, os movimentos sociais, em conjunto, elaboramos um projeto de Reforma Agrária que foi construído entre as organizações camponesas e que foi para o Congresso onde há parceiros dos camponeses. Fizemos muita mobilização para que ele fosse aprovado, mas infelizmente a força da direita no Congresso foi maior e o projeto não passou. Agora está se propondo um novo projeto que necessita de parlamentares comprometidos com o povo o defenda. Entretanto, somos conscientes que temos que articular e mobilizar. O principal ponto é que na Colõmbia acontece uma coisa muito particular: não são todos os movimentos que estão de acordo em participar da luta eleitoral. Há organizações que não querem entrar nesta área. Isso dificulta com que os movimentos se articulem e indiquem um nome para defender suas reivindicações.
Cristiane Gomes
Caracas
Fuente: Brasil de Fato