10 anos de transgênicos no Brasil: um balanço crítico e alternativas
Cerca de 80 pessoas de diferentes países das Américas, Ásia e Europa estiveram reunidas esta semana em Curitiba para fazer um balanço dos impactos dos 10 nos da legalização dos transgênicos no Brasil. Ao final do encontro propuseram uma série de alternativas e ações conjuntas e saíram com uma rede ampliada e fortalecida.
O consenso geral da análise é que não se cumpriram as promessas de que a adoção dos transgênicos aumentaria a oferta de alimentos, a geração de plantas mais produtivas e reduziria o uso de agrotóxicos. Pelo contrário, no período de expansão dos transgênicos aumentou no mundo o número de desnutrido e mal nutridos, bem como disparou o uso de agrotóxicos. E o universo de novidades que seria aberto pela transgenia ficou limitado a plantas resistentes a banhos de herbicidas e plantas que produzem seu próprio inseticida. Do ponto de vista da saúde já foi comprovado que essas toxinas chamadas de Bt chegam na corrente sanguínea humana e aceleram o desenvolvimento de tumores. No campo, a adoção em escala das plantas Bt, casada com falhas da tecnologia, tem levado ao desenvolvimento de pragas resistentes e ao surgimento de novas pragas, como se vê hoje no prejuízo bilionário nas plantações de algodão na Bahia.
O principal herbicida usado nas plantações transgênicas, o glifosato/Roundup, é classificado como sendo de baixa toxicidade, mas estudos mostram que o produto bloqueia os mecanismos de reparação do DNA e o ciclo celular do desenvolvimento embrionário e induz teratogênese durante o desenvolvimento de invertebrados. O veneno ainda aumenta a chance de aborto espontâneo. Na região do Chaco argentino, por exemplo, intensiva em produção de soja transgênica, aumentaram em 400% nos últimos 10 anos os casos de malformações neonatais.
Discutiu-se ainda que a crise dos alimentos desencadeada nos últimos anos alimenta um “discurso da escassez”, que, alega-se, só poderia ser aliviada pela expansão do agronegócio. O fato cria argumento para que o setor agroexportador justifique a necessidade por mais e mais áreas, expansão da fronteira, mudança do código florestal e assim por diante. A necessidade por mais alimentos não pode ser automaticamente associada à necessidade de aumento da produção, haja visto os alarmantes índices de desperdício de alimentos recentemente anunciados. Mas a essa discussão associa-se ainda o crescimento da população humana e o papel que países como Brasil, Argentina e outros cumprem no abastecimento da China com matérias primas, entre elas a soja, levando essas economias a um estágio de “reprimarização”.
O avanço dessa técnica é puxado não pelo desenvolvimento de suas bases científicas, mas sim pelas necessidades e possibilidades que a própria técnica apresenta ou mais especificamente, pelas necessidades que o mercado coloca. Hoje, milhões de hectares no Brasil estão cobertos por sementes transgênicas e é cada vez mais difícil achar no mercado um produto à base de milho que não seja transgênico, mesmo assim, muito pouco se sabe sobre o que realmente essas modificações genéticas acarretam na planta e menos ainda sobre como ter controle sobre os efeitos desse embaralhamento genético. A situação é agravada pelo fato de que técnicos do setor estão nos órgãos de regulação da tecnologia. Não por acaso a CTNBio acaba de recusar a realização de uma audiência pública para discutir os efeitos da liberação de soja e milho resistentes ao herbicida 2,4-D, produto sabidamente cancerígeno. Aliás, esse produto está na pauta exatamente porque a soja Roundup Ready da Monsanto já não funciona mais como antes e deixou para trás um número crescente de espécies de mato que não são mais controlados pelo químico. No rastro do 2,4-D vêm plantas para uso casado com Dicamba, glufosianto de amônio, imidazolinonas e outros.
Para além de promover a venda de agrotóxicos para soja, milho e algodão, a transgenia vem também buscando modificar outras espécies, como cana, sorgo, eucalipto, laranja e também mosquitos Aedes. Novas técnicas se apresentam, como a biologia sintética, que fabrica seus próprios componentes do DNA que quer manipular, mas segue desimpedida de qualquer forma de avaliação de risco ou regulação.
Por outro lado, cresce a consciência de que não só é necessário, como também possível, apoiar outras formas de se produzir alimentos mais saudáveis e que não destruam o meio ambiente. O exemplo mais recente vem da publicação do Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica, lançado no último dia 17 pela presidenta Dilma e vários de seus ministros. Resta agora o desafio de tirá-lo do papel e fazer com que suas propostas e recursos irriguem por todo o país a agroecologia e a agricultura orgânica. Se isso acontecer, em 10 anos se poderá fazer um balanço com resultados bem diferentes daquele feito para essa década com investimentos em transgênicos.
Fuente: AS-PTA