Territorialização da Agroecologia na Via Campesina

A Via Campesina (VC) é um movimento social transnacional presente em 80 países do mundo, na Ásia, África, Europa, Oriente Médio e América. Na América Latina e no Caribe a Via Campesina é representada pela Coordinadora Latinoamericana de Organizaciones del Campo (CLOC). Os membros da VC incluem organizações de camponeses, agricultores familiares, trabalhadores rurais, sem terra, povos indígenas, pastores nômades, mulheres rurais, jovens rurais, pescadores artesanais, entre outras, e representam mais de 200 milhões de famílias rurais em todos os continentes (ROSSET, 2015b). 

As organizações membros da VC estão na primeira trincheira das disputas entre projetos políticos para o campo e para toda a sociedade. Nesse marco, a VC luta para construir e defender uma vida digna para todos os povos do campo no mundo, na defesa de sua coexistência em harmonia com a Mãe Terra, e para alcançar uma sociedade mais justa para todas as pessoas, tanto do campo como da cidade (MARTÍNEZ-TORRES, ROSSET, 2010; LVC, 2013b).

A VC funciona como um grande espaço de encontro entre as diferentes culturas e sujeitos do campo, onde é gerado um diálogo de saberes gigantesco, em torno a como chegar a um consenso sobre visões comuns de existência e resistência em seus territórios, bem como na articulação de planos, táticas e estratégias de resistência, de luta e de construção coletiva de novas realidades na perspectiva de valorização do campo como espaço de reprodução da vida com soberania alimentar (GUHUR, 2010; MARTÍNEZ-TORRES, ROSSET, 2014; ROSSET, 2015b).

Neste processo coletivo, um dos consensos alcançados está relacionado à agroecologia (ALTIERI, 2012a, 2012b; ROSSET, ALTIERI, 2018) como um elemento estratégico comum, tanto para fortalecer a resistência nos territórios, como para construir um mundo melhor para toda a humanidade e para a Mãe Natureza.

Alguns dos argumentos que sustentam os raciocínios por trás deste consenso a favor da agroecologia são (LVC, 2013a; ROSSET, MARTÍNEZ-TORRES, 2016; BARBOSA, ROSSET, 2017a; 2017b):

- Respeito e cuidado com a Mãe Terra; 

- Produção de alimentos saudáveis sem agrotóxicos, associada ao cuidado com a nossa saúde, com a saúde de nossas famílias e crianças e da população em geral;

- É componente essencial da construção da soberania alimentar; 

- Permite ser mais resilientes ante as mudanças climáticas, produzir com menos água, e ajudar a esfriar o planeta; 

- É enfrentar diretamente ao capital no campo (parando de comprar seus insumos e de usar seu modelo de produção) e é transformar as relações sociais e de produção no campo e na cidade; 

- Faz parte de um projeto político de resistência e transformação, ao mesmo tempo em que conforma um sujeito camponês histórico-político;

- Responde a uma forte demanda política das mulheres e da juventude; 

- Reduzir a dependência do crédito e dos insumos comprados, portanto, uma redução dos custos de produção e do endividamento, o que conduz a um aumento do lucro líquido da produção; 

- Constrói autonomia (parcial) frente às forças do mercado;

-  É não competir com o jogo do agronegócio no campo e com suas regras; mais bem é virar o jogo, tornando-o mais favorável a nós, os camponeses; 

- É a (re)construção de uma cultura de campo, de uma identidade camponesa, uma cultura de resistência, de luta e de autonomia;

- Redução da rotina no trabalho agrícola, ao reforçar o uso da inteligência e a criatividade, e criar um ambiente mais agradável de trabalho na agricultura; oferecer mais oportunidades para a juventude ficar no campo; 

- Enquanto a monocultura convencional reforça a autoridade do homem na produção familiar, a diversificação agroecológica pode descentralizar as funções e áreas de tomada de decisões produtivas, e até a renda de todos os membros da família, o que reduz o peso do patriarcado dentro da família camponesa.

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Fonte: ECO ECO

Temas: Agroecología, Movimientos campesinos

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