Semente crioula

Idioma Portugués
País Brasil

A semente crioula é o resultado da interação do produtor com a planta cultiva e com o lugar de cultivo. Assim começou a conversa com Irajá Antunes, pesquisador da Embrapa Clima Temperado, em Pelotas. Naquele casarão antigo, numa sala de móveis rústicos e enormes pilhas de livros misturadas a um sem fim de sementes, buscávamos um conceito para as tais sementes crioulas.

Saímos de lá encantados. Mas voltamos para Porto Alegre com uma ideia consolidada: não existirá realmente uma resposta para a pergunta - qual é a identidade de comida gaúcha? - que deu início ao projeto.

Há uma notável preocupação com a perda genética, uma vez que os programas de melhoramento dos institutos de pesquisa colocam seus esforços em estudar cultivares com mais saída de mercado. O que acontece é que, quando todo mundo planta a mesma coisa, acaba-se com um importante agente de cultura que é diversidade. Por isso, a partir dos anos 60, pesquisadores do mundo todo passaram a coletar sementes para não perder de vista o que existe. “E daí passaram a existir os bancos de sementes. Formamos, ao longo dos anos, a figura da ‘partitura da biodiversidade’ que é uma coleção de sementes”, explica.

O mundo é dinâmico; o campo também. O que acontece é que uma semente congelada parou no tempo. “Estamos dedicados a fazer com que essas sementes circulem e sigam se adaptando”, revela o pesquisador. A Embrapa já distribuiu mais de 140 variedades do seu banco de sementes – que começou a ser formado em 1987 – aos produtores da região. “Eles podem pedir sempre que quiserem via Emater, que encaminha as solicitações, e podem também trocar com outros agricultores nos seminários promovidos pela Embrapa”, informa. A diversidade de sementes se reflete em diversas áreas do conhecimento, como gastronomia e nutrição. “Tempos atrás conseguimos um feijão crioulo com 50% a mais de fibras do que a variedade de consumimos comumente”, revela Antunes.

Ainda que a questão genética seja fundamental para manutenção das variedades, a semente crioula carrega histórias e conquistas de vida. Pois, por trás de cada semente crioula existe um agricultor e sua família. É o Juarez que tem 38 variedades de arroz em Mariana Pimentel. É a senhora quilombola, em Caçapava do Sul, que cruzou um milho canjica com outra espécie de grão maior e resultou em algo novo e próprio. É o Zé Lucas que sempre plantou cebolas a vida toda.

Eles e outros fazem parte de um catálogo de 200 agricultores chamados de guardiões de sementes: plantam e colhem todos os anos a própria variedade. “Melhor do que ninguém, os produtores sabem lidar com esses materiais pelo conhecimento e informações herdadas. Há algo bonito nestas relações que se estabelecem neste processo”.

Fonte: Identidade RS

Temas: Semillas

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