Revista Ciência Geográfica Vol. XXIV, Nº 2
Estudar a Amazônia é uma tarefa, ao mesmo tempo, urgente, fascinante e desafi adora: falamos de um lugar assentado sobre imensa riqueza e profundas desigualdades. Trata-se de uma região diversa e singular, abrigo de distintos recursos, sejam eles naturais ou sociais. Estendese por um imenso território ultrapassando várias fronteiras do subcontinente sul americano, cujas complexidades e nuances implicam em que a pensemos mesmo como “Amazônias”: uma intricada rede de lugares e povos.
Sua extensa confi guração geográfi ca, biológica, populacional e geopolítica inclui o Brasil, a Bolívia, a Colômbia, o Equador, a Guiana e a Guiana Francesa, o Peru, o Suriname e a Venezuela, países e nações que constituem a Pan-Amazônia.
As suas gentes, os seus saberes, os seus sabores, as suas cores, as suas narrativas e exuberantes fauna, flora, rios, lagos, planícies e montanhas, sempre despertaram a imaginação e os interesse de viajantes e dos pesquisadores, dos muitos exploradores nacionais e estrangeiros.
Desde os tempos pretéritos, os aventureiros de todos os matizes se encantaram com os seus tantos mistérios, a amaram e ainda amam a sua imensidão prodigiosa.
Por isso, os frequentes lotes de invasores ávidos por riquezas sempre violentaram brutalmente os seus habitantes, os biomas e o subsolo amazônico. E hoje, mais do que nunca, seguem espoliando o seu imenso território, como se fosse uma fonte inesgotável de recursos para todos os tipos de interesses legalizados e os espúrios. No início do século XX, o médico e antropólogo Edgard Roquette-Pinto, fundador da radiodifusão nacional e um dos muitos apaixonados pela Amazônia, afi rmou: “é preciso estudar o Brasil, com seus encantos e as suas tristezas, para amá-lo conscientemente; estudar a terra, os animais, a gente do Brasil”.
Concordamos com Roquette-Pinto sobre isso, todavia, adicionamos ao seu pensamento: no caso da Amazônia, é necessário conhecê-la, respeitá-la e, também valorizá-la em virtude de sua importância estratégica para o nosso país, bem como para toda a Humanidade.
Neste sentido, a Revista Ciência Geográfi ca lançou-se ao desafi o de promover uma edição especial sobre a região. Assim, tivemos a grata satisfação de recebermos artigos de pesquisadores dos estados que compõem a Amazônia Legal, de outros estados brasileiros e também da Bolívia.
São análises e pesquisas que retratam os mais diversos assuntos que estão presentes na Geografia, desde os aspectos humanos, socioeconômicos, culturais e aspectos físicos, os quais possibilitam conhecer um pouco do que é efetivamente produzido cientificamente e poder disseminar informações corretas sobre a atualidade da região amazônica.
Foram inúmeros artigos produzidos por professores, alunos e pesquisadores que contribuíram com suas ideias, vivências e experiências relacionadas à Amazônia, as quais retratam o que tem de belo e valioso, mas também apresentam as mazelas socioeconômicas, políticas e ambientais encontradas nesta vasta região geográfi ca.
Desse modo, por meio da Geografi a, trazemos aqui diversos caminhos, perpassando desde os mergulhos em suas águas de muitas cores, compreendendo as andanças em suas metrópoles ou comunidades ribeirinhas, rumando ao sobrevoo em suas paisagens verdes, recentemente, de um modo mais agudo e amplo, tornadas flamejantes, acinzentadas. Ainda que sejam exibidas em retrato em miniatura com muitos recortes espaciais/territoriais, o que temos é um grande mosaico de realidades e possibilidades, uma “monstruosidade geográfi ca” como categoriza José Batista Ricardo Nogueira, que nos desafi a constantemente.
Destarte, a edição especial será composta por três dossiês que valorizam e enfatizam o sentido de conhecer, de sentir e viver um pouco daquilo que acontece no cotidiano ambiental, social, político e econômico da Amazônia.
Com isso, os editores da Revista Ciência Geográfica prestam o merecido tributo e reconhecimento à região depositária de maior biodiversidade na Terra, fator que a torna vital e indispensável à conservação ambiental do planeta, com o fornecimento das chuvas, dos alimentos, dos remédios, dos conhecimentos e saberes dos povos indígenas e das populações tradicionais — que sabiamente têm vivido e convivido durante séculos, com que os recursos da natureza lhes oferecem. Prezados leitores, sentimo-nos muito honrados em tê-los conosco e os convidamos a adentrar no universo amazônico, a apreciar os relevantes conhecimentos produzidos por nossas colegas e nossos colegas da Geografi a e das Ciências afins, que integram a edição especial Amazônia. Nossos sinceros agradecimentos.
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Fonte: Revista Ciência Geográfica