COP 21: Mudança climática envolve poder, manipulação e guerra psicológica
A Exxonmobil, por exemplo, gastou milhões de dólares montando um time de pesquisadores para manipular a opinião pública sobre o aquecimento global.
01/10/2015 - Copyleft
Por Najar Tubino
Na última década petrolíferas, montadoras, indústrias químicas, indústria do carvão, siderúrgicas usaram o poder econômico para desacreditar o debate que os cientistas começaram a realizar sobre o aquecimento global e a mudança do clima no planeta. A Exxonmobil, a maior petrolífera do mundo – US$400 bilhões em faturamento – financiou um grupo de 43 organizações para manipular a opinião pública entre 1998-2005. Chegou a criar um time de pesquisadores para escrever artigos contrários às teses de aquecimento global. Gastou pelo menos US$16 milhões. Nada comparado aos investimentos dos irmãos Koch – Charles e David -, que juntos administram uma fortuna de 68 bilhões de dólares. São os donos da Koch Industries – refinarias de petróleo no Alaska, no Texas e em Minnesota – fábricas de celulose como a Geórgia Pacífica e uma ligação umbilical com a ultra-direita estadunidense.
Koch pai construiu refinarias para Stálin
A tática imposta por estas corporações sempre foi a intimidação, comprando veículos de comunicação, cientistas e políticos. O documentarista Roben Greenwald autor do filme Koch Brothers Exposed, de 56 minutos, registra que os irmãos financiaram o Partido Republicado em US$407 milhões na campanha de 2012, usando uma rede de 17 organizações chamada de Freedom Partners. Denúncia comprovada pelo jornal The Washington Post no ano passado. O dinheiro não era para fazer campanha política direta, mas para incentivar o debate contra as ideias da reforma do sistema de saúde, do aumento das punições dos crimes ambientais ou das despesas do governo. No documentário são citadas outras quatro organizações que receberam dinheiro dos Koch:
- Cato Institute com US$13,6 milhões; Mercatus Center com US$9 milhões, Heritage Foundation com US$3,4 milhões e Reason Foundation com US$2,4 milhões.
Sem contar a Fundação dos norte-americanos pela Prosperidade – American for Prosperity – e da Associação Nacional do Rifle. Charles e David aprenderam com o pai que o governo é um perigo para os investimentos, o mercado é soberano para definir o progresso do país. Por ironia da história, o pai formado em engenharia química no tradicional MIT ajudou Stálin a construir 15 refinarias de petróleo na União Soviética da década de 1930. Depois da segunda guerra mundial os Koch passaram a enxergar o comunismo em qualquer canto. Um dos alertas dos Koch:
“- Os homens de cor são parte do grande plano dos comunistas para dominar a América”.
Ocorreu um racha entre as petrolíferas
A segunda maior empresa privada dos Estados Unidos e uma das 10 que mais poluem, a Koch Industries tem muitos motivos para lutar contra a redução de emissões de gases estufa. Assim como Exxon, Chevron e Conoco Philips, as petrolíferas norte-americanas. Elas ainda consideram que os combustíveis fósseis sustentaram a economia mundial por muitas décadas ainda. Porém, em 2015 ocorreu um racha entre as petrolíferas no mundo. As corporações europeias – Shell, BP, Total, Eni, Statoil -, respectivamente representantes da Holanda, Reino Unido, França e Noruega lançaram uma carta em junho passado fazendo uma mea culpa sobre o posicionamento anterior, de condenação às mudanças climáticas. Elas querem colocar um preço na poluição. Que, neste caso, é conhecido por carvão mineral.
Segundo relato da Bloomberg as petrolíferas europeias foram pressionadas pelo braço econômico das igrejas protestantes – no caso da Inglaterra com ativos na ordem de US$10 bilhões-, que ameaçaram jogar a discussão nas assembleias corporativas, denunciando o boicote das petrolíferas. Chegaram a consultar as corporações dos Estados Unidos, porém, a Exxon não compareceu à reunião no American Houston (Texas) e a Chevron se mostrou contrária a definição de um preço para o carvão.
Austrália considera o carvão vital
Trata-se de um confronto de hipócritas. Tanto Shell como a BP exploram petróleo nas areias de piche na província de Alberta, no Canadá, país que abandonou o Protocolo de Quioto em 2011, antes de ser multado por ultrapassar as emissões de gases estufa. Alberta concentra 35% das emissões e o Canadá não pretende abrir mão de 300 bilhões de barris de petróleo recuperáveis e faturar US$1,8 trilhão nos próximos 25 anos. Mas o carvão, que é o combustível fóssil mais poluente, é o paradoxo do capitalismo na atualidade. É denunciado em todas as esferas de discussões climáticas porque de cada tonelada extraída são jogadas 2,4 toneladas de gases de carbono, nitrogênio e enxofre na atmosfera. Ao mesmo tempo, os Estados Unidos dependem dele para gerir 40% da eletricidade do país, a China 80%, a Índia 70% e a Austrália no mesmo padrão.
A imprensa mundial repercute notícias sobre os investimentos em energias limpas, mas não tratam do carvão. O primeiro-ministro da Austrália, Tonny Abott, por exemplo, disse no ano passado que o “carvão é vital para as futuras necessidades de energia do mundo e o carvão é bom para a humanidade”. A Austrália, um dos países da OCDE tem um nível de poluição de 25 toneladas por habitante, acima de qualquer dos outros 34 membros e acima dos Estados Unidos – tem 20 toneladas per capita. O Hunter Valley, a 120 km de Sidney produziu em 2013, 145 milhões de toneladas de carvão, a maior parte exportada – a Austrália é o maior exportador mundial. O governo do estado de Nova Gales do Sul, onde fica o Hunter Valley diz que o carvão propicia 11 mil empregos e gera salários de mais de um bilhão de dólares.
Reino Unido e Alemanha maiores importadores de carvão
Os Estados Unidos lançaram um plano para incentivar o uso de energias renováveis e reduzir emissões, porém as metas serão discutidas pelos 50 estados e está previsto um plano de negociações de direitos de poluir. Estados como Wyoming, Virginia Ocidental e Texas são produtores e mantêm usinas térmicas movidas a carvão. O Texas colocou 19 usinas fora dos limites do governo federal, para que não fossem enquadradas pela legislação ambiental. A China produz 1,289 milhões de toneladas equivalentes de petróleo em carvão. Os Estados Unidos estão em segundo lugar com 587,2 milhões de toneladas equivalentes de petróleo e terceiro lugar para a Índia com 181 milhões. O Japão está em quarto lugar e a Alemanha em sétimo. Não se pode esquecer que o carvão derrete o ferro, produz ferro gusa e aço, o que movimenta a construção civil, montadoras e etc. Aliás, Reino Unido e Alemanha são os maiores importadores.
Hipocrisia na Europa – caso da Polônia
Como diz o presidente da Associação Mundial do Carvão, Milton Catelin:
“- O carvão tem alimentado as economias nacionais e globais e continuará a desempenhar um papel fundamental no futuro. O desenvolvimento sustentável requer que o carvão seja considerado não apenas através das lentes do aquecimento global, mas através do seu impacto na segurança energética, desenvolvimento social, econômico e melhoria ambiental. As elites políticas estão se baseando em fatos incorretos e são facilmente seduzidas pelo politicamente correto.”
A hipocrisia europeia também ficou escancarada durante a COP 19, em Varsóvia, na Polônia, país que depende 90% do carvão para gerar eletricidade. O Movimento Nacional Polonês, juntamente com o Sindicato Solidariedade desfilaram pelas ruas na Marcha pela Independência defendendo as políticas do governo direitista que não abre mão do linhito e da hulha. Independente da política da União Europeia de reduzir as emissões em 20% até 2020. A Marcha pela Independência da direita polonesa foi apoiada pelo Comitê para um Amanhã Construtivo, organização que tem um fundo de doadores, comandado pelos irmãos Koch.
Não respeitam lei alguma
O que as corporações querem e estão defendendo dentro do sistema ONU são tecnologias para limpar o carvão, desde a captura e enterramento do gás carbônico, até a gaseificação do carvão. Ou seja, usando uma tecnologia que introduz nas minas um oxidante – vapor de água, hidrogênio, oxigênio – com pressão e alta temperatura transformam o sólido e um gás síntese, como é chamada, carregado de hidrogênio, nitrogênio e enxofre, que serve de matéria-prima para a indústria química e para produzir eletricidade. O que as corporações querem é CCS e GCS.
Na verdade, cada vez mais o debate sobre as mudanças climáticas coloca de um lado as corporações e seus movimentos políticos que são definidos como a nova direita, caso do Tea Party, considerado pelos irmãos Koch como a melhor novidade nos Estados Unidos desde a independência. De outro, os movimentos sociais que lutam por uma planeta justo, multiético, plural e protegendo os ecossistemas naturais. O fundador do Center for Public Integrity, Charles Lewis deu uma declaração para a revista The New Yorker alguns anos atrás sobre os irmãos Koch, que define este momento:
“- Eles não respeitam lei alguma, praticam todo tipo de manipulação política e práticas para burlar os controles públicos. Os Koch são a Standard Oil dos nossos tempos”.
Foi a primeira corporação mundial comandada por John Rockfeller e traçou a maneira de atuar dos trustes internacionais no século passado.
Fonte: Carta Maior