Boletim janeiro: sementes crioulas, por uma alimentação livre de transgênicos e agrotóxicos
Bem vindas e bem vindos de volta! Neste Boletim queremos primeiro agradecer aos leitores e leitoras que nos acompanharam ao longo de 2020. Sabemos que não foi um ano fácil. Partilhar sobre sementes crioulas e como essas têm sido cultivadas, conservadas e reproduzidas por guardiãs e guardiões em seus territórios foi um dos motes do esperançar e de reafirmar que sim é possível construir sistemas alimentares justos, que respeitem a diversidade dos povos e comunidades, a natureza e que garantam alimentos saudáveis à população.
Nesta primeira edição de 2021 você lerá: alertas sobre as novas biotecnologias; conquistas no México e na Argentina contra o uso de agrotóxicos e pela valorização da produção local; nossa matéria especial sobre políticas públicas desde o território; e mais uma série de presentes na seção “Recomendamos”.
Nossos agradecimentos, e um viva às sementes crioulas e a seus Guardiões e Guardiãs!
Matéria especial
Circulação de sementes crioulas em tempos de pandemia
A pandemia da Covid-19 impôs novos desafios à agricultura familiar e às suas redes locais de conservação da agrobiodiversidade. No Paraná, o isolamento social atingiu em cheio o calendário de feiras e festas de sementes da ReSA - Rede de Sementes da Agroecologia. Mais de 30 eventos previstos para 2020 não puderam ser realizados. As feiras de sementes exercem papel fundamental nas estratégias de conservação da agrobiodiversidade no Paraná. São nelas que diferentes espécies e variedades são comercializadas, intercambiadas e onde agricultores e agricultoras de diferentes regiões se encontram para intercambiar seus conhecimentos.
Diante da impossibilidade de realização das feiras, grupos locais, a ReSA e organizações parceiras no estado desenharam uma política de compra e doação de sementes crioulas com o objetivo de garantir renda aos agricultores e agricultoras e disseminar sementes de qualidade a diversas famílias do campo e da cidade. Clique aqui e entenda a parceria que a ReSA estabeleceu com o Ministério Público do Trabalho (MPT).
Sementes crioulas na mídia
Ao longo do ano passado falamos muitas vezes sobre as biotecnologias e como as soluções tecnocientíficas propostas pela intervenção genética limitam a vida a códigos que podem ser controlados e manipulados pelas grandes corporações da chamada “ciência da vida”. A bola da vez é a tecnologia genes drives (para quem não viu ou não leu: assista ao vídeo aqui e nossa matéria do Boleti m n. 9). Uma dessas técnicas, a Crispr, foi agraciada com o Prêmio Nobel de Química em 2020, a despeito de todas as críticas e questionamentos associados. Apesar do prêmio, pesquisas recentes indicam que a aplicação de genes drives não é sustentável para intervenções seguras no genoma.
“A biodiversidade é vida. As abelhas são vida”
É o que afirma Leydy Araceli Pech Martín, indígena, apicultora e “guardiã das abelhas”, como é conhecida em sua comunidade Hopelchén, na península de Yucatán, no México. Assim como Percy Schmeiser, o produtor canadense que teve sua canola contaminada, a guardiã enfrentou a gigante Monsanto. A luta de Leydy e de seu povo se in icia com a implementação de lavouras de soja transgênica em seu território. As monoculturas trouxeram os agrotóxicos que impactaram a apicultura, uma das principais atividades econômicas das mulheres de Hopelchén, praticada há centenas de anos pelo povo Maya no México. A contaminação das abelhas e a violação dos direitos humanos desencadeou a luta iniciada por Leydy e levou à revogação, na Corte Suprema mexicana, do plantio de soja transgênica dentro da área indígena.
Vale lembrar:
O estudo “Abelhas e Agrotóxicos” publicado ano passado apresenta evidências científicas dos malefícios causados pelos agrotóxicos às abelhas.
Vitória! Zona livre de agrotóxicos na Argentina
Por meio da Lei de Gestão Integral do Agrotóxicos fica proibida de fumigação de agrotóxicos a menos de 500 metros por terra e 3.000 metros em aplicação aérea das zonas urbanas na província argentina do Pampa. Nos estabelecimentos rurais, como escolas, fica proibida a aplicação enquanto a unidade estiver em funcionamento.
Ainda na província do Pampa foi estabelecida a Lei para Desenvolvimento de Sistemas de Produção Agroecológica que busca desenvolver sistemas de produção agroecológicos e a certificação orgânica nas áreas livres de agrotóxicos.
Recomendamos:
- Conservação das sementes crioulas: uma visão interdisciplinar da agrobiodiversidade, livro editado pela UFRGS que reúne uma série de artigos sobre nas sementes crioulas, associando discussões sobre contaminação por variedades transgênicas, segurança alimentar, pesquisa participativa, agroecologia e interdisciplinaridade.
- A publicação coletiva “ Milhos das Terras Baixas da América do Sul e Conservação da Agrobiodiversidade no Brasil e no Uruguai”, recém-lançada pelo Grupo Interdisciplinar de Estudos em Agrobiodiversidade – Interabio.
- A nova edição da Revista Agriculturas – Diálogos e convergências entre Agroecologia e Feminismo, que reúne artigos inspiradores de experiências de diversos países. - Cadernos de Agroecologia - Anais do 1º Congresso Online Internacional de Sementes Crioulas e Agrobiodiversidade – Dourados, Mato Grosso do Sul .
- O também recém lançado Educação e Produção de Saberes no Campo: Soberania Alimentar e Agroecologia em Comunidades Tradicionais e Assentamentos.
- O livro “Saberes dos Povos do Cerrado e Biodiversidade” da Campanha Nacional em Defesa do Cerrado, publicação escrita a muitas mãos que homenageia os modos de vida que ao longo de gerações tem mantido o Cerrado de pé!
EXPEDIENTE
Sementes Crioulas é uma iniciativa da AS-PTA - Agricultura Familiar e Agroecologia
Edição: Gabriel Bianconi Fernandes
Pesquisa e redação: Helena Rodrigues Lopes e Gabriel Bianconi Fernandes
Produção: Adriana Galvão Freire e Luciano Silveira
Revisão: Silvio Gomes de Almeida e Paulo Petersen
Diagramação: ig+ Comunicação Integrada
Fonte: AS-PTA