Agronegócios para a segurança da pátria
As grandes empresas de intermediação, comercialização e abastecimento de alimentos e commodities desenvolveram nos últimos duzentos anos apoios logísticos, que agora passarão como serviços obrigatórios aos produtores. Este novo segmento aumentará o controle econômico e financeiro sobre a produção, comercialização e industrialização, primeiramente daqueles interessados em exportar para os EUA, depois para os outros compradores externos e, finalmente, para o mercado interno. Estas empresas, hoje já estão trabalhando como - integradoras - e, agora, passam a ampliar como franquias de Cargill, Carrefour, Tradax e outras menos expressivas nos serviços de segurança e higiene, diminuindo as margens dos agricultores e aumentando suas margens até um nível de total servidão
Dependência econômica do país e o lobby das multinacionais.
Parte 1/3
Os norte-americanos são hábeis, adotam mil disfarces para despistar suas políticas internas. Na nova ordem, enquadram-se para enfrentar a principal reação a suas políticas mundiais, o terrorismo internacional. Entre as muitas ameaças há a segurança no abastecimento, pois a cada dia dependem mais e mais de alimentos industrializados com matérias-primas importadas ou alimentos processados no estrangeiro. Assim, se vêem obrigados a adotarem normas de controle desde a produção, processamento e distribuição destes alimentos para a Homeland Security, além fronteiras. Observe que "Segurança Alimentar" diferente da usada pelos organismos multilaterais como divisa propagandística nas economias subalternas. Os principais fornecedores de alimentos aos EUA são países agrícolas pobres ou extremamente pobres de todos os continentes, em um planeta marcado pela devastação, poluição biológica, química e industrial e, nessas áreas produtoras, a ausência de normas ou controle é geral, por deficiência dos governos ou drenagem de riquezas pelas políticas bilaterais e Guerra Fria. A lógica dos norte-americanos, agora é: impor um sistema seguro, barato, que permita sua segurança e, além disso, a venda de serviços, criando uma dependência dentro da lógica capitalista de incorporar cada vez maior parcela de tecnologia e serviços aos produtos, para produzi-los em escala de crescimento ilimitada e isento de concorrência. Isto foi aplicado com uma antecedência de sessenta anos no Japão e Europa destroçados e, agora, pode ser utilizado com a "Lei de Bioterrorismo Alimentar". Ela impõe, por exemplo, o produtor de alface ou abacate a especialização total. Ou seja, em sua atividade ele não poderá ter qualquer outro tipo de cultivo ou criação, nem mesmo a presença de animais domésticos como cavalo, gato e cachorro. As normas de higiene pessoal e no cultivo deverão ser iniciadas nas atividades, desde a fase de produção e seguidas até a embalagem final dos produtos com alto rigor, cumprindo todas as determinações.
Isto permite um controle instantâneo (informatizado), à distância, de todos os processos, créditos, insumos, exumos, extensão ou transferência de tecnologia e impõe uma série de serviços de interesse das empresas e consórcios norte-americanos ou internacionais, o que não ocorreria sem a especialização, unicidade e facilitado pela escala e intensidade de exploração. Todos os países receberam a determinação de criar a sua "Lei de Inocuidade" dos seus produtos exportáveis, pois assim, a responsabilidade do agricultor passa a ser jurídica e feita pelas autoridades dos governos locais e nacionais ou as entidades a ele delegadas, que darão o apoio logístico à produção, absorvendo boa parte dos custos de "segurança" do povo "yankee", sem aumentar os preços, e simultaneamente garantir a fiscalização antiterrorista e abrir o segmento de venda de serviços para a "segurança alimentar".
As grandes empresas de intermediação, comercialização e abastecimento de alimentos e commodities desenvolveram nos últimos duzentos anos apoios logísticos, que agora passarão como serviços obrigatórios aos produtores. Este novo segmento aumentará o controle econômico e financeiro sobre a produção, comercialização e industrialização, primeiramente daqueles interessados em exportar para os EUA, depois para os outros compradores externos e, finalmente, para o mercado interno. Estas empresas, hoje já estão trabalhando como - integradoras - e, agora, passam a ampliar como franquias de Cargill, Carrefour, Tradax e outras menos expressivas nos serviços de segurança e higiene, diminuindo as margens dos agricultores e aumentando suas margens até um nível de total servidão, pela dependência de todos os serviços modulados e identificados com os produtos para atender o consumidor.
Quem pensar que a "Lei de Bioterrorismo" é uma norma com critérios e parâmetros técnicos está totalmente enganado. Ela é apenas um enquadramento de responsabilidade administrativa e jurídica do governo norte-americano para atuar no tema. Já, as "Leis Nacionais sobre Inocuidade", sim, determinam os critérios e parâmetros de interesse norte-americano. É de imaginar-se a economia para o comprador de alimentos pela redução de gastos de controle, ao mesmo tempo os sobrecustos para os agricultores exportadores e seus governos. Mais uma vez transfere-se riquezas. A situação continua como era antes, quando nós tínhamos de montar laboratórios, treinar recursos humanos, comprar serviços, reagentes químicos etc. e analisar todo o fumo para não mandar resíduos de DDT e outros agrotóxicos para eles. Ao mesmo tempo em que eles impunham a obrigação de uso destes produtos, sem controle, através de clausulas dos empréstimos dos organismos multilaterais em todos os cultivos de consumo interno. Por isso, era proibido usar DDT no cultivo do fumo (exportação), mas se usava em tomates e alfaces...
Máfia, contrabando e royalties
As programações de inversões das gigantescas empresas se dão, na nova ordem, a partir de estatísticas e dados concretos de mercado, população, renda e outros índices geográficos. Elas, que na ordem anterior eram subordinadas ao estado e submetidas ao governo, não desejam ficar submetida às leis, fiscalizações, controles ou corrupções regionais. Então, não devemos estranhar quando uma empresa ignora uma lei ou determinação governamental, quando suborna ou faz contrabando e outros atos ilícitos, pois suas metas e objetivos (como a Monsanto fez na Argentina, Brasil, Colômbia e México), diz respeito somente aos seus interesses. O restante é mero objeto e o governo visto como um estorvo.
Após a reunião de Marrakesh em janeiro de 1995, a Ordem Internacional da OMC passou a vigorar em mais de 160 países, mas a proposta do Acordo Multilateral de Inversões (AMI) foi destruída pelas manifestações durante as cúpulas de Seattle e Santiago. Assim, os interesses e iniciativas acima do Estado Nacional ficaram estagnados. A construção do "LIVRE COMÉRCIO INTERNACIONAL" continua enfrentando reações, manifestações, ilegalidades, abusos e outros. O caso é interessante, a Monsanto entrou oficialmente na Argentina comercializando suas sementes transgênicas e não obrigou os agricultores argentinos ao contrato vigente nos EUA e Austrália, que impedia-os de replantar as sementes e até mesmo repassá-la aos vizinhos. A legislação Argentina permite aos agricultores este tipo de ação a (bolsa blanca).
É evidente que naquele momento não convinha a Monsanto questionamentos, apenas introduzir suas sementes no mercado de dos dois maiores produtores de soja e milho (Argentina e Brasil). Hoje, a empresa ameaça embargar os carregamentos de soja e milho argentinos nos portos estrangeiros, pretendendo uma "indenização" pela tecnologia embutida nos grãos, que foram legalmente comercializados. No momento de introdução no mercado não lhe era oportuno cobrar os "royalties", pois isso era pouco atrativo para os agricultores do ponto de vista comercial, mas agora ela pretende coercitivamente impor sua vontade acima da lei e das regras de comércio antes ajustadas.
No Brasil, aonde as sementes chegaram como contrabando organizado pela empresa, pois eram legalmente proibidas, agora ela orquestra campanhas para o receber os "royalties e indenizações", embora suas sementes fossem pirata. O estranho é que há muitas entidades de agricultores, representadas por intermediários de interesses de bancos, indústrias, que estão articulando a cobrança desses "royalties e indenizações", como prestação de serviços, onde uma porcentagem fica com as entidades, como comissão por serviços prestados, que não é ético ou moralmente sustentável. Os governos fazem a avaliação econômica: A semente era um bem da agricultura, de pouco valor, pois sua comercialização incorporava apenas trabalho e insumos. A tecnologia da transgenia e suas diversas patentes embutidas, aumenta a mais valia de interesse dos governos. Isto faz crescer a economia, ainda mais, quando o ser vivo patenteado ou que traz uma patente industrial embutida se multiplica.
Repetimos, as gigantescas empresas de intermediação e logística agrícola estão preparadas desde a Segunda Guerra Mundial, com tecnologias e serviços desde a produção até o consumo para usufruir estas vantagens. Empresas como a Tradax ou Innovasure, altamente especializadas são, hoje, apenas as pontas do iceberg neste setor pouco conhecido, mas outras empresas de biotecnologia estão criando seus setores especializados para acudir as tendências. O interessante na questão da soja Monsanto, contrabandeada pela empresa da Argentina, é que a mesma já está com as patentes embutidas vencidas e não podem ser mais cobrados direitos ou indenizações, sendo que a última patente vence no dia 30 de outubro próximo, mas os seus prestadores de serviços fazem de conta que ignoram para avançar no "fato consumado".
A empresa e asseclas correm um grande risco de serem acusados de fraude, por estarem interditando indevidamente os navios e extorquindo agricultores. Entretanto, as entidades e grêmios desses agricultores têm interesse em prestar serviços e recolherem dividendos... Isto tipifica estelionato?
Genocídio das populações tradicionais
Parte 2/3
Ação das sementes trangênicas sobre as populações tradicionais, além dos prejuízos para a saúde e meio ambiente.
No início do Século XX, a criação dos híbridos descortinou a Fitogeografia como uma ciência estratégica. O eminente cientista Vavilov, geneticista e caçador de genes, como um explorador futurista, determinou oito centros de Origem das Espécies Domésticas (Cultivadas). Estes centros são conhecidos como o berço das espécies ali desenvolvidas, por ser o depósito de genes, para os futuros arranjos e combinações. A ciência do Século XX crê que nestes centros de origem e dispersão há uma riqueza econômica incomensurável, e que, além do mais, qualquer contaminação desta área seria uma hecatombe para a humanidade, pela perda de alimentos, riquezas, variabilidade genética, energia e economia.
Entretanto, isto, hoje, não é tão exato assim, pois as coleções de espécies domésticas e seus parentes selvagens estão já há 40 anos depositadas em Centros Internacionais (CGIARs), sob tutela e controle dos organismos multilaterais e empresas transnacionais, sem acesso democrático das entidades civis que ajudaram na coleta a preservar estes materiais. Do ponto de vista empresarial (financeiro, econômico e industrial), a riqueza natural existente nestes berçários naturais é um risco para o quê está armazenado nos CGIARs e empresas. Os genes nos berçários da natureza podem criar sementes concorrentes pondo em perigo investimentos empresariais milionários das empresas de biotecnologia. A destruição destes locais, para as empresas, aumentaria em muito o valor de suas coleções. Uma forma de destruição é a contaminação com genes transgênicos, pois a presença ou identificação de um gene transgênico impede que qualquer pessoa utilize esta semente e tenha de pagar ao contaminador seu uso proprietário, pela presença da partícula viva. Atenção que, presença não significa que ela deva estar ativa.
É por razões econômicas que vemos a pretensão de levar batatinha transgênica ao Altiplano Boliviano e Peruano, milhos transgênicos à mesma região e ao México; algodões transgênicos à mesma região e Caribe. Foi por estas razões que as sementes africanas acabaram destruídas pelas Companhias de Sementes internacionais, criando a catástrofe de fome atual. Esta ação das empresas e a discussão induzida por muitas ONGs escamoteiam a verdadeira situação em disputa: sementes domesticadas em poder das populações tradicionais é a biodiversidade que desperta interesses de lucros. Quando uma população tradicional desaparece, dezenas, centenas, milhares de tipos de cultivares e raças de animais também desaparecem, pois se perde o cabedal de conhecimento de sua aplicação. E isto aconteceu paulatinamente na Europa e partes da Ásia e América.
Os genes que estão nas espécies domésticas, nas mãos das populações tradicionais, já trazem desenvolvidos todos os fenótipos para as diferentes condições daquelas populações e leva uma grande vantagem, pois os novos cultivares transgênicos são criados para uma escala e intensidade de uso em todo o planeta, visando um custo mínimo de sua produção e uma margem de lucro gigantesca pelo comércio globalizado. Não nos damos conta da importância para as empresas transnacionais em destruir este patrimônio, pois ele leva grande vantagem sobre as suas criações. Uma adaptação às condições ambientais de mais de mil anos é altamente significativa. Isto é chamado de proteoma, desenvolvido pela população tradicional. Por exemplo, na Chapada dos Veadeiros, em Goiás, o cientista Vavilov encontrou um trigo levado pelos quilombolas. Ficou fascinado, pois os genes seguramente seriam encontrados em qualquer variedade de trigo da Península Ibérica do Século XV, mas seu proteoma, tinha um futuro fantástico para a região de Goiás e era conhecido do ponto de vista etno-genético. Há uma grande preocupação internacional com a biodiversidade nos últimos vinte anos. Os países mais preocupados são os que não tem biodiversidade, por necessitarem dela e estão aptos a transformar estes genes em patentes, produtos biotecnológicos de altíssimo valor econômico.
Já, os países com biodiversidade, não possuem organicamente estrutura para aproveitar esta riqueza em sua economia e tratam a mesma sob as facetas militar, nacionalista, diplomática, romântica ou econômica, todas elas sob o viés elitista sem preocupação real com políticas públicas. Será que os biólogos moleculares já sabem o que é etno-genética? Os genes presentes nas espécies selvagens são importantíssimos porque estão à espera de mudanças no meio ambiente, garantindo ou não os mecanismos de sua adaptação, como vem sendo observado nos últimos milhões de anos. Desta forma, a semente da população tradicional tem um potencial superior ao da semente transgênica e carrega um antagonismo ideológico ao impedir as vantagens que a empresa necessita para conquistar mercados globalizados (planetários).
Como as populações tradicionais são protegidas e preservadas pela OMC e organismos multilaterais, através de políticas compensatórias e criação de nichos de mercado futuro, é obvio que suas sementes também o são e isto abre novas perspectivas sociais, culturais e econômicas. O exemplo é clarividente: as escravas brasileiras nas cozinhas da Casas Grandes preparavam os leitões para os senhores e sinhás na tradição lusitana. Com os restos e desperdícios (pés, orelhas, rabo, focinho e outras partes suínas não-aproveitadas preparavam um cozido com feijão. Esse prato é a feijoada, o tradicional prato da culinária brasileira. O mesmo se passou na Amazônia, onde a maniçoba tem as folhas da mandioca, substituindo o feijão.
Cabe, então, a pergunta: Têm os governos "intelligentsia" e autonomia?
Danos à saúde
As partes mais complexas das alterações genéticas dizem respeito à saúde (dos seres e ambiente). Uma alteração genética tem um potencial de realizar situações inesperadas no tempo e espaço, incapazes de serem testadas ou avaliadas com antecipação. Embora vivamos em uma sociedade onde calculamos os riscos e avaliamos as conveniências dos empreendimentos, no tocante aos OGMs é impossível levar-se em conta ponderações, pois não há uma previsão para a escala do tempo, nem a dimensão do impacto ou capacidade de superação ao mesmo. Aquilo que não pode ser dimensionado, não entra em fórmulas ou cálculos, logo suas projeções são impossíveis ou tendem ao infinito.
Se, com o DDT, uma molécula grosseira e totalmente estranha à vida, levamos 50 anos para comprovar fielmente do ponto de vista irretorquível e científico ser ela um elemento poluidor ambiental, provocador de câncer e disruptor endócrino. Quanto tempo será necessário com um gene, que na verdade quase nem existe como "matéria", é um código com algumas centenas ou milhares de pares de bases inseridas na fita de DNA, com sua expressão ligada ao meio ambiente que o realiza?
A inserção de genes, vontade do biólogo molecular pode ser alcançada, sem que isto signifique sucesso, embora se obtenha um produto econômico de alto valor. Basta que se convencione ignorar os riscos e suas responsabilidades e isto pode ser feito de múltiplas formas.
A fascinação e novidade da insulina transgênica é inegável, mas seus efeitos colaterais são negáveis por não ser do interesse da proprietária da sua patente, mas isto está muito longe de não interessar ou não existir. A criação, em mesmo sentido, do triptofano transgênico da Showa Denko esbarrou em 60 mortos, dois mil severamente e mais de seis mil medianamente lesionados. Embora este assunto seja negado de forma dogmática, doutrinária e confessional por biólogos da área, que agem em forma de Ato de Fé.
Não se veicula a verdade, pois novamente não interessa a empresa e governos. Neste caso exemplo, a ciência estudou (Clinica Mayo, dos EUA) e chegou a conclusões interessantes: As bactérias transgênicas criadas pela Showa Denko para a produção de triptofano, receberam mais genes para aumentar a produtividade em triptofano no cultivo industrial e isto provocou a reação de segregar as toxinas causadoras da Eosinofilia Miálgica que afetou a todos os tomadores de comprimidos do referido aminoácido na razão direta de suas dosagens. Estas toxinas eram desconhecidas naquele gênero de bactérias e provocou a epidemia convenientemente silenciada. Diz o "bom senso", que neste tipo de manipulação a precaução deveria vir com uma antecedência rigorosa, mas é inibida pela escala de investimentos, valor econômico, pioneirismo tecnológico etc., que ditam a velocidade e crescimento da ciência e tecnologia neste setor da economia. Logo, as precauções ficam aquém da ousadia, pirataria, dominação etc. O mais que se disser, além disso, é "chover no molhado", desnecessário.
DANOS AO MEIO AMBIENTE
Não necessitaríamos dar espaço ao meio ambiente, por estar embutido na parte de danos à saúde, mas queremos trazer uma situação sui generis. Hoje, nos EUA, Austrália e Argentina já existem espécies vegetais e micróbios resistentes aos herbicidas em função do uso intenso destes nos cultivos transgênicos. O azevém (Lolium multiflorum) é uma gramínea de inverno, cultivo interessante por sua grande utilidade à pecuária. Ele não é transgênico, mas pelo uso do herbicida Roundup nos campos transgênicos, tornou-se resistente àquele herbicida. Muitas pessoas no mundo são alérgicas ao pólen do azevém natural. Há a possibilidade do novo azevém (não transgênico), mas resistente ao Roundup, proliferar nos campos e provocar danos aos alérgicos!
A empresa pode ter patenteado este mecanismo de resistência? Como funciona o mesmo? Qual o risco do metabolismo do azevém resistente conter uma proteína estranha? É possível aumentar as alergias, em função da ativação de resistência? Como classificamos isto? Vamos deixar as questões sanitário-ambientais e entrar para as de caráter jurídico. As empresas criadoras de transgênicos, por exemplo, têm propriedade, direitos sobre esta resposta da natureza (azevém resistente ao Glyphosate)? Mas quais são os seus deveres?
Basta retornarmos ao dito anteriormente: há uma terceira hélice no DNA, mas nós nem sequer conhecemos as interações e combinações gênicas das duas primeiras hélices, logo é impossível aprofundar sobre a terceira. No campo dos alimentos há um modelo conhecido, de "encaminhamento de resposta para a questão do azevém". Quando tomamos duas sementes idênticas de uma mesma espécie e colocamos sobre condições ambientais diferentes, temos uma grande variação na qualidade e quantidades dos seus componentes (vitaminas, sais minerais, açúcares, proteínas, aminoácidos etc.) nos seus tecidos, órgãos e frutos. Simplifiquemos no tocante aos minerais: as variações podem ser observadas na tabela abaixo.
No início desta cartilha registramos que o objetivo subterrâneo da biologia molecular e engenharia genética é a colonização de outros planetas através dos microorganismos transgênicos, criados para condições ambientais extremamente drásticas. Esta razão é uma questão supra-econômica, para ser desenvolvida a partir de um conjunto de empresas que podem, na agricultura, saúde e indústria, desenvolver as linhas de tecnologias que permitirão, através dos lucros locais, alcançar e desenvolver o objetivo maior. O mecanismo de patente industrial de seres vivos e suas partes componentes são de capital importância para este fim, da mesma forma como já foi feito com a matriz química no passado, mas agora em exponencial logarítmico, pela projeção de seus valores na economia. Os organismos multilaterais convencionaram as ordens e normas a serem cumpridas. Ao consórcio de empresas participantes no supraprojeto são oferecidas as concessões de liberação de estudos de avaliação de riscos, e não adoção de medidas precatórias(?), para evitar que suas margens de lucros, expansão e aceleração de investimentos diminuam, encarecendo os custos e preços que postergam os avanços da ciência biotecnológica no sentido desejado.
Para o grande público, os transgênicos surgem como instrumental de reestruturação da agricultura, saúde, serviços e perfil da economia regional, no momento em que a economia internacional superava a hegemonia dos estados nacionais plenipotenciários e com a chegada da nova ordem do unilateralismo através da OMC e seus órgãos multilaterais. Nessa reestruturação, os governos têm o grande papel perante a sociedade: fortalecer suas empresas nacionais para a competição em escala e intensidade planetária. Porém, a transformação do cidadão carente de direitos, em consumidor de necessidades satisfeitas, esbarra em alguns itens que devem ficar submissos para não provocar danos comerciais às empresas e ao "livre comércio" e, isto, deve ficar no inconsciente coletivo.
Aqui temos um viés, que é o calcanhar de Aquiles: as campanhas políticas internacionais de combate à fome da Nova Ordem estão bem orquestradas, mas fica difícil se entender quando os gráficos e estatísticas da FAO projetam uma diferença de conteúdo calórico entre as dietas dos industrializados, africanos e latino-americanos, de mais de mil calorias/dia para 2018. Se a fome pode ser projetada, não é um flagelo da humanidade, mas um negócio político ou de gestão política.
Aprofundemos: ao haver uma diferença quantitativa de calorias, pode haver também diferença qualitativa nos alimentos. Então teremos políticas públicas de interesse privado (transnacionais ou nacionais) para ricos e pobres? As razões do estado nacional democrático garantiam igualdade de condições, direitos, deveres e livre acesso a todos os cidadãos. Mas, com os transgênicos, o novo instrumento tecnológico e econômico, passamos a ter uma graduação entre os diferentes níveis de cidadãos, agora transformados em consumidores, em função de sua capacidade de pagamento? Foi feita uma avaliação do significado de pobres comendo transgênicos e para os ricos alimentos orgânicos! Será aceito este tipo de violência de código, transformando cada um em seu próprio algoz ou carrasco?
Reflitamos: as questões que levaram às grandes revoluções foram bem menores que essa. Então, será que o marketing das empresas do projeto supra-econômico dos transgênicos tem poder de propaganda, publicidade e informação para aplacar esta revolta ou as lutas pela liberdade continuarão conduzindo o povo? Houve, no campo político dos transgênicos, a polarização ideológica protagonizada por partidos de esquerda européia e seus congêneres entre nós. Isto é interessante pelo surrealismo, já que o estado nacional não pode interferir no livre mercado das transnacionais na ordem do unilateralismo. O pior é que todos os partidos de esquerda na América Latina são desenvolvimentistas, logo estamos diante de demagogia, incongruência e incoerência, facilmente manipuláveis na mídia e meios de comunicações patrocinados pelas transnacionais.
No jogo de aparência de poder vemos a carência de legitimidade ideológica transmutar-se em arroubo de representatividade incompetente, que desemboca nas leis de biossegurança, bioterrorismo, inocuidade, etc., feitas sob encomenda dos interesses mercantis.
Agronegócios para a segurança da pátria - o que as transnacionais querem, elas alcançam
Parte 3/3
Quando o acordo de Yalta ficou superado com o fim da Guerra Fria, as grandes empresas financeiras e industriais já tinham o seu projeto de instalação do novo modelo econômico de ampliação de horizontes para os limites planetários e intensidade máxima, acima das fronteiras nacionais, étnicas e religiosas. Para tal, a nova Ordem Internacional foi corrigida, usando os percalços da ordem anterior, onde os governos, em nome do Estado Nacional, e nação impunham rígidas normas militares, culturais, religiosas e financeiras aos interesses das corporações. Aquelas empresas multinacionais tinham experiência, pois o registro de um simples alimento, remédio, agrotóxico ou equipamento eletrônico, devia passar por longos caminhos burocráticos, estudos e tramitações caras e sujeitas a corrupções de toda ordem e em todos os níveis de governos. Portanto, era necessário levantar todas essas barreiras, na nova ordem, para o livre comércio internacional. Esta nova Ordem Internacional foi gestada conjugando os interesses financeiros, industriais e econômicos das grandes empresas transnacionais durante sete anos e meio da Rodada Uruguai do GATT, tendo por produto a Organização Mundial do Comércio e o Acordo Multilateral de Inversões.
Hoje, não há barreiras ou “reservas de mercado” e proteções nacionais. As diferentes regiões buscam fortalecer-se em blocos econômicos. Para as economias, povos e governos isso trará grandes transformações financeiras, tecnológicas, culturais e sociais.
A ampliação dos horizontes significa maior escala financeira e intensidade industrial de produção, que agora terá a dimensão do planeta e sua referência.
No campo tecnológico, o avanço na propriedade intelectual permitirá a comercialização de serviços, saberes, conhecimentos e descobertas da natureza e patenteamento de seres vivos, que, até então, estava impedido ou muito restrito pelas regras anteriores. Para os países industrializados (G7) isto significará um gigantesco salto na economia industrial. Agora, as empresas e não os estados nacionais é que passarão a disputar a hegemonia por patentes, produtos, marcas e serviços para manter e ampliar, na nova escala, o controle sobre as matérias-primas, mercados e consumidores. As cadeias produtivas verticalizadas do fordismo chegam ao novo ápice de concentração, onde é impossível a livre concorrência em nível local ou nacional. Assim, energia, minérios, moeda e outros passam a ter um valor internacional único, livres de proteção, que passa a ser o preço interno em cada região.
Susan George diz: “40 mil empresas dominam 25% da economia do Planeta, mas empregam menos de 1,68% da população ativa do mundo que morre de fome e degrada-se na miséria”. Há a agravante, 20% destes assalariados estão no Norte e recebem trinta vezes os salários dos 80% que estão no Sul, embora trabalhe nas mesmas empresas, agora em escala planetária de produção e concentração de capital, globalização.
Informática, biologia molecular e miniaturização serão as tendências normais e atrairão os giga-investimentos, para um seleto número de empresas (menos de vinte). Quais serão as conseqüências? Os estados nacionais ricos procuram envidar esforços para que “suas empresas” alcancem vantagens competitivas, comparativas. Muito dinheiro público é investido no interesse privado nessa transição para manter ou alcançar a dianteira. Os estados nacionais pobres e endividados são obrigados a privatizar suas empresas públicas, criando novos segmentos de comércio e mercado, os quais antes eram reservados ao interesse nacional. Para as mega-empresas da matriz química, a passagem para as poucas giga-empresas da biotecnologia é facilitada pelo modelo de agricultura industrial (RV), adotado com as necessidades de atender o modelo da Guerra Fria, que era supra-ideológico, ou seja, o mesmo em ambos os lados da disputa ideológica.
As sementes tiveram incorporado genes de resistência aos produtos químicos fabricados pela mesma empresa, ou, genes tóxicos para substituir os venenos de outras empresas concorrentes. Estas patentes, marcas, serviços etc, foram lançadas acima do estado nacional e com as projeções de impacto antes explicados, se subordinando aos interesses de acumular recursos para a competição no supraprojeto (colonizar outros planetas). Os advogados afirmam que o “direito é justo por estar ordenado” e implicitamente o Estado Nacional o impunha ao seu cidadão. Agora, com a hegemonia e poder da OMC, as normas de mercado passam a ser justas por estarem ordenadas e os países com suas representatividades acorrem para garantir os interesses de suas tradições. Não sejamos ingênuos em pensar que as transformações ansiadas pela sociedade e nação serão construídas e consolidadas neste novo momento. Far-se-á aquilo que for interesse das giga-empresas, através do mercado.
Na agricultura este exemplo é interessante: Os EUA gastam 126 bilhões para produzir os alimentos e 421 bilhões para colocá-los ao alcance do consumidor... Isto é extremamente lucrativo para as empresas e estado norte-americano, mas um absurdo energético, social e cultural, ético para a humanidade. No novo ordenamento as transnacionais pretendem e podem levar esta dimensão para toda a humanidade. Os impactos negativos, até a adaptação ao novo “modelo”, são chamados de “acidentes de percurso”.
Os "acidentes de percurso" da etapa anterior, na agricultura denominado de “modernização industrial” ou “revolução verde”, são deveras conhecidos pela humanidade e foram transferidos para os países periféricos: êxodo rural, urbanização acelerada e favelização, devastação da natureza, erosão do solo, contaminação, intoxicação, poluição, depleção, ruptura da capacidade de resiliência, miséria e degradação cultural, moral e ética de grandes contingentes de populações camponesas, mudança na dieta e perda de vigor físico. Na totalidade dos países “heteronômicos” estes fenômenos provocaram profundos impactos na teia social.
Questionar-se sobre os impactos futuros das implementações financeiras, industriais, tecnológicas e outras, permite projetar sua exponencial logarítmica e resultados catastróficos por um período mais prolongado que os impactos da adequação da Ordem Anterior (revolução verde). Cabe perguntarmo-nos: os impactos negativos do mapa de percurso da ordem anterior estavam visíveis, mas não serviram para nada durante os sete anos e meio de reuniões da Rodada Uruguai? A resposta é simples: da mesma forma que na ordem de modernização da economia, um cuidado com os aspectos sociais e culturais eleva custos e impede uma maior eficiência na drenagem e concentração de capital pelas nações hegemônicas, há quem ganhe com a catástrofe e miséria social. Esta contextualização final permite que questionemos os arautos da biologia molecular periférica, dependente e seus governantes de turno. No segundo semestre de 1998 estávamos na Suíça e assistimos a convocação do plebiscito para decidir sobre a continuidade ou não das pesquisas biológicas com engenharia genética e biologia molecular.
Em um primeiro momento isto parece ser uma decisão de altíssimo valor democrático, mas as aparências enganam, pois a maior empresa farmacêutica, industrial e de agroquímicos é a Ciba-Geigy, que atraiu muitos cientistas norte-americanos descontentes com a Moratória de Asilomar (1973 – 1975), que migraram para a Suíça.A empresa garantiu total liberdade criadora e investiu centenas de milhões de dólares. A Ciba-Geigy, no início da década de 90, fusionou-se com a Sandoz, também suíça e investiu na compra de muitas empresas de sementes da Europa, Estados Unidos, Austrália e Argentina e transformou-se na NOVARTIS.
A campanha pró e contra as pesquisas com transgênicos na Suíça parecia uma campanha política em país pobre e periférico, pois na Suíça as campanhas políticas passam despercebidas para os estrangeiros. Na televisão, em Genebra, vimos um policial paralítico em uma cadeira de rodas, vítima de assaltantes estrangeiros, apelar pela continuidade das pesquisas biotecnológicas que o fariam andar e ele até poderia voltar a defender a sociedade. O apelo continha uma forte dose de emoção, a campanha do outro lado não era diferente. O resultado foi de 66 a 34% em favor da continuidade com as pesquisas e investimentos na engenharia genética e biotecnologia.
Os maiores investimentos do mundo, tanto em volume quanto per capita no setor de biotecnologia, quando foi feito o plebiscito, já era o suíço e eles não estavam consultando nada, apenas convalidando sobre o controle do interesse maior do capital e garantindo uma peça de propaganda internacional. Tradicionalmente, a Ciba Geigy, agora Novartis, iria passar a produzir sementes transgênicas resistentes aos seus herbicidas triazínicos, que anteriormente tinham mercado restrito ao milho e sorgo, podendo, através da transgenia, expandir-se para o arroz, soja, algodão e outras “commodities”.
Este projeto da Novartis, que depois se fusionou com a ICI-Zeneca e passou a chamar-se de SYNGENTA, teve um grande contratempo, pois se descobriu que os compostos triazínicos (Atrazina, Simazina e similares) são disruptores endócrinos e altissimamente nocivos à vida aquática em doses moleculares, além de carcinogênicos. O projeto está postergado já há dez anos, mas, agora é estratégico para solucionar os problemas advindos de cultivos de sementes transgênicas Roundup Ready, com ervas daninhas resistentes surgidas e as próprias sementes transgênicas, também resistentes que nascem (guacha ou feral) fora de época (soja, milho, colza e algodão).
Contudo, o projeto de transgenia de triazínicos continua ativo e aguarda uma maior transição na nova Ordem Internacional, quando as normas anteriores sanitário-ambientais serão deixadas de lado para a liberação das sementes transgênicas resistentes aos herbicidas triazínicos. A campanha no Brasil tem defensores de grande quilate, que se articulam para tirar os órgãos de vigilância sanitária (ANVISA) e ambiental (MMA - IBAMA) das decisões sobre a liberação de agrotóxicos por acreditarem que isso é, também, um ATO PATRIÓTICO (PATRIOTIC ACT). Deveremos ser os pioneiros na liberação de transgênicos triazínicos.
*Sebastião Pinheiro é engenheiro agrônomo e florestal, autor de vários livros, entre os quais "Agricultura Ecológica e a Máfia dos Agrotóxicos" e "Cartilha Sobre Transgênicos".
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