Camponesas lançam campanha em defesa das sementes crioulas como patrimônio dos povos
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Concomitante à jornada de lutas do mês de março, que tradicionalmente mobiliza as mulheres vinculadas aos movimentos sociais em todo o país para as pautas de classe e gênero, o Movimento de Mulheres Camponesas (MMC Brasil) lançou a campanha nacional “Sementes de Resistência”.
Com o lema “Camponesas semeando a esperança, tecendo transformação”, a campanha brota das experiências de organização, estudos, luta e produção das mulheres camponesas do Brasil e faz parte dos esforços desenvolvidos em nível global pela Via Campesina, dentro de um projeto popular das sementes como patrimônio dos povos a serviço da humanidade.
“Organizadas em todas as regiões do país, as camponesas do MMC, no conjunto com a classe trabalhadora, estão nas ruas neste mês de março lançando a campanha, denunciando as violências praticadas pelo governo atual e as pressões do capital internacional sobre nosso povo, mas também apontando caminhos para um projeto popular de agricultura camponesa agroecológica feminista e a construção do bem viver entre os seres humanos e com a natureza”, afirma Edcleide Rocha, que integra o MMC no estado de Alagoas.
Trata-se de uma ação que não é subserviente ao mercado, mas se coloca a serviço da vida do povo trabalhador. “É um projeto de combate à fome e à miséria que voltam a se alastrar no território brasileiro e mundial”, explica Maria Lucivanda, militante pelo movimento no território de Minas Gerais. “Trazemos a importância das sementes crioulas, seu resgate, conservação e multiplicação, pois sem elas não se produz alimento e com sementes de resistência registramos o DNA da defesa da vida e da soberania alimentar”, acrescenta.
Denúncia
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Para o movimento está claro que em pouco mais de um ano do governo Bolsonaro, este se caracteriza como destruidor dos direitos da classe trabalhadora, que induz o aumento do desemprego, o alto índice de violência, a destruição ambiental, cortes na saúde e na educação. Também é responsável pela reforma da Previdência que leva os mais pobres a trabalhar até a morte sem o direito à aposentadoria.
“As camponesas apontam que a fome e a miséria crescem e se movem em diversos espaços, denuncia Ana Claudia Rauber, integrante do MMC no estado do Paraná. Ainda cita a liberação de centenas de novos tipos de agrotóxicos, propagando a destruição, envenenando a população e produzindo a morte, em um cenário de calamidade histórica, política e social. “É neste cenário que o Movimento de Mulheres Camponesas ergue ainda mais alta a bandeira contra o sistema, reafirmando a defesa da vida e a luta contra todas as formas de violência.”
Resistência
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Engajadas no compromisso em defesa da vida, na solidariedade com as companheiras, no compartilhar saberes das ancestralidades, as camponesas integrantes do MMC carregam no espírito e na vida o DNA da luta em defesa das sementes, da agroecologia como modo de vida e de sociedade, da libertação das mulheres e da classe trabalhadora.
O movimento reafirma por meio da nova campanha nacional a capacidade e a potência na produção de alimentos saudáveis, enfrentando a fome, preservando a biodiversidade e contribuindo na construção da soberania alimentar.
Para as camponesas a campanha representa um resgate daquilo que elas mesmas são enquanto mulheres, enquanto sementes na luta contra o sistema patriarcal, capitalista, racista, machista, LGBTfóbico e opressor da classe trabalhadora. “Somos sementes de resistência e na nossa organização semeamos esperança, tecemos transformação. Reafirmamos a nossa identidade de classe, o trabalho de base e a luta na construção do Feminismo Camponês e Popular”, expressam através de comunicado público compartilhado na última semana.
Ação
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Com quase quatro décadas de existência, organização, formação e lutas, o MMC vem desenvolvendo o trabalho de resgate das Sementes Crioulas e, agora, com a campanha, se desafia a multiplicar ainda mais variedades de sementes crioulas pelas mãos de mulheres das diferentes regiões do país. Propõe-se um resgate não apenas da planta em si, mas toda a história que cada variedade possui, trazendo receitas, novas formas de preparo, informações sobre como cultivar, como cuidar e multiplicar. Busca-se conhecimentos que favorecem a resiliência dos cultivos às mudanças climáticas, contribuindo com a preservação da biodiversidade e com a soberania alimentar dos povos.
“A campanha Sementes de Resistência, lançada nesta jornada do dia 8 de março de 2020, é uma ação permanente que vai dialogar com a sociedade sobre a importância das sementes crioulas, evidenciando a importância do trabalho histórico das mulheres na produção de alimentos saudáveis e diversificados”, explica Adriana Mezadri, militante do Rio Grande do Sul.
“As camponesas seguirão nesta partilha de saberes entre elas, entre campo e cidade, com toda a classe trabalhadora, e na construção de seu 2º Encontro Nacional, que deve acontecer em 2021, quando mulheres que são sementes de resistência e transformação de todo o país vão se encontrar”, arremata Edcleide Rocha.
Fuente: Brasil de Fato