"Vacina comestível" põe os EUA em alerta


Prensa



O Estado de São Paulo, Brasil, 27-12-02
http://www.estado.com.br/editorias//2002/12/27/ger015.html

"Vacina comestível" põe os EUA em alerta


Por Stephanie Simon, Los Angeles Times

ST. LOUIS - O campo acabara de ser ceifado, os pés de soja cortados em tocos amarronzados, quando um inspetor federal chegou. Ele percorreu a pé o pequeno lote de terreno no sudoeste de Nebraska, os olhos na terra sulcada. Então, ele os viu: alguns caules de milho amassados entre os frágeis tocos de soja.

A descoberta sacudiu a indústria alimentícia dos Estados Unidos, pois esse não era um milho comum - tinha sido geneticamente modificado para produzir uma "vacina comestível" para proteger os leitões da diarréia. E agora a descoberta sobre o solo indicava que tinha sido levado junto no corte de soja do outono - misturado com grãos que logo seriam processados na composição de dezenas de produtos de mercearia, desde sorvete a molho para salada.

Os fabricantes desses produtos foram fiéis defensores do alimento modificado geneticamente. Mas a embrulhada do mês passado em Nebraska os deixou furiosos. Depois de anos apoiando a biotecnologia, eles traçaram o limite - e fizeram soar o alarme.

Pressão - Unindo forças com ativistas antibiotecnologia, há muito vistos como o inimigo, os lobistas da indústria de alimentos estão pressionando a favor de restrições muito mais rígidas ao último avanço da revolução genética: a modificação de plantações para "cultivar" produtos farmacêuticos e químicos. Eles temem a ameaça à saúde pública - e a seus interesses comerciais, também - se plantas contendo vacina contra hepatite ou uma droga contra o câncer se introduzirem furtivamente na oferta de alimentos. Por isso, estão exigindo uma regulamentação federal que imponha limites rígidos aos locais e condições de cultivo de plantas experimentais.

Desde o leite em pó para bebês à sopa de frango, passando pela margarina, cerca de 70% de alimentos processados que ocupam as prateleiras do país contêm ingredientes transgênicos, como grãos de soja geneticamente modificados para que possam crescer com menos herbicidas. Decompostas, essas culturas parecem um pouco esquisitas: a soja, por exemplo, é juntada com DNA de um vírus da couve-flor e de um pé de petúnia. Mas são testados exaustivamente e aprovados para consumo humano.

Mas o milho que produz vacina suína não é. "Somos um dos mais fortes defensores do uso da biotecnologia na agricultura, mas isso é uma coisa diferente", disse Rhona Applebaum, vice-presidente executiva da National Food Processors Association (Associação Nacional de Processadoras de Alimentos).

Os cientistas que fazem experiências com transferências de DNA estão desenvolvendo plantas que produzirão insulina, medicamentos para quimioterapia, tratamentos para herpes, afinadores do sangue - até enzimas usadas para fazer detergentes para lavar roupa. Eles os estão testando em dezenas de campos "biofarmacêuticos" em todo o país, desde a Califórnia a Maryland, da Dakota do Norte ao Texas.

Essas plantas experimentais parecem-se em tudo com o milho, arroz ou cevada normais. E isso faz delas um "risco intolerável" ao suprimento de alimentos, disse James Bair, vice-presidente da Associação dos Donos de Moinho da América.

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