Transgenia cria novo nicho para atuação das empresas
Após dez anos de aprovação da primeira variedade de soja transgênica pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), algumas indústrias se preparam para andar na contramão dessa tendência e atuar em um novo nicho de mercado: o da antiga soja convencional. O objetivo é agregar valor com a venda do produto segregado a países que podem pagar mais para ter garantia de procedência
A nova tendência surge após uma série de conflitos jurídicos na consolidação da transgenia no mercado nacional. Depois de ser aprovada para testes em campo, a soja resistente a herbicida, de propriedade da Monsanto, foi proibida até 2003 por uma liminar. Pressionado pelo crescente contrabando de semente Genéticamente Modificada (GM) da Argentina, o governo federal publicou uma medida provisória naquele ano legalizando o plantio da nova variedade. Situação parecida viveu o milho, que após ter sua comercialização cancelada por uma liminar concedida pela justiça do Paraná foi aprovado em meados deste ano.
Com o aumento da produção de soja transgênica, indústrias como o Grupo Maggi, Brejeiro, Caramuru Alimentos, Imcopa e Vanguarda se uniram e fundaram a Associação Brasileira de Produtores de Grãos Não Geneticamente Modificados (Abrange). A associação surge para auxiliar na exploração do novo nicho e promover o segmento em outros países, destacando a qualidade, garantia e a oferta regular de não transgênicos. O grupo de indústrias consome 10% da produção total de soja no Brasil, cerca de 6 milhões de toneladas.
O presidente da recém-formada associação, César Borges Sousa, diz que a demanda européia por grãos convencionais despertou o interesse de explorar o novo nicho. "Não temos nenhuma motivação ideológica. Queremos apenas explorar o mercado", pontua o presidente da entidade. Segundo ele, a primeira missão será visitar alguns países europeus para promover a associação e mostrar o potencial das indústrias associadas.
O diretor da Imcopa, Johnny Drescher, acrescenta que houve uma demanda pelo farelo de soja não transgênico até o final do ano. "Se tivéssemos mais mercadoria a demanda tinha absorvido", disse. Segundo ele, a empresa deverá processar 2 milhões de toneladas Ele destaca as áreas de carne em geral como potencial consumidores do grão não transgênico. "Sem contar o Japão, que só consome tofu de soja convencional", afirma.
No caso do milho, Drescher explica que também existe um grande potencial. "A UE comprou muito milho em 2007 porque o Brasil não produzia transgênicos", diz. Leonardo Sooguren, diretor da Céleres, concorda que exista uma demanda por milho convencional. "Mas é muito pontual. Isso ocorreu porque a safra de trigo quebrou naquele ano".
Alda Lerayer, diretora executiva do Centro de Informações sobre Biotecnologia (CIB), diz que a iniciativa é importante. "O produtor precisa ter opções. Mas o plantio de transgênico cresce no mundo inteiro". Rodrigo Lima, gerente geral do Ícone, também enxerga uma flexibilidade nessa questão e acha boa a iniciativa. "Desde que não ganhe um foco ideológico é positivo", avalia.