Rio Grande do Sul muda de posição e aceita transgênicos


Prensa

Estado de S. Paulo, Brasil, 8-6-01


Rio Grande do Sul muda de posição e aceita transgênicos 


Secretário do Estado diz que posição é de cautela, mas admite pesquisas sobre produto 


JANAÍNA SIMÕES 

GOIÂNIA - De Estado totalmente contrário aos transgênicos, o Rio Grande do Sul pouco a pouco reavalia sua posição e abre espaço para os produtos geneticamente modificados. "Nossa posição hoje é de cautela com a comercialização porque não há consenso sobre a segurança. Já as pesquisas devem ser controladas publicamente", disse ontem o secretário de Ciência e Tecnologia do Estado, Renato de Oliveira, durante o 4.º Encontro Latino-Americano de Biotecnologia Vegetal (RedBio 2001), em Goiânia.

O governo gaúcho tem sido um dos maiores críticos da modificação genética de alimentos, tentando até caracterizar o Rio Grande do Sul como o "Estado livre de transgênicos". Chegou a elaborar uma lei que proibiria a pesquisa com esse vegetais. Ela não foi aprovada. Ao mesmo tempo, cerca de um terço da plantação de soja do Estado é transgênica, cujas sementes são contrabandeadas da Argentina, segundo o secretário.

Questionado sobre um atraso na formulação de regras para os transgênicos no Estado, Oliveira explicou que a ciência sempre esteve à frente da regulamentação pública. "O risco desse atraso está em nos depararmos com fatos consumados e as pessoas estejam se expondo a riscos não conhecidos."

A necessidade de pesquisa surgiu porque são necessários parâmetros técnicos para a tomada de decisões. No ano passado, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul aprovou 12 projetos envolvendo esses produtos e há um edital aberto para inscrição de novos projetos. "Investimos em torno de US$ 1 milhão em todos os projetos de transgênicos", contou.

Proibição - Segundo Oliveira, as decisões políticas não podem se limitar a atender as vontades dos cientistas apenas, mas de toda a sociedade. "Os políticos não podem cair na perigosa ingenuidade da Igreja Católica na Idade Média que proibiu a realização de dissecação, pois os médicos faziam isso, e com mais riscos porque era proibido", afirmou. "Os cientistas também não podem cair na mesma ingenuidade dos médicos do nazismo que ofereceram argumentação científica para a supremacia racial", comparou.

Para ele, nesse embate a opinião pública fica refém, lembrando que há outros interesses econômicos que afetam esse debate. "Há rejeição também por conta da guerra econômica, temos empresas que produzem insumos para agricultura que são contrárias porque afeta seu mercado", disse. "Não existe anjos nessa história, temos demônios dos dois lados. O que não podemos fazer é cair em posições fundamentalistas", concluiu o secretário.
Nota de Acción por la Biodiversidad: ver la aclaración a esta nota en:
Secretário gaúcho esclarece posição sobre transgênicos

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