Rejeição dos transgênicos favorece produtos brasileiros
Prensa
Agência Estado - Ciência e Meio Ambiente , Brasil, 1-11-01
http://tb.bol.com.br/simpleRedirect.html?srv=cn&trg=http://www.estadao.com.br/ciencia/noticias/2001/nov/01/260.htm 
Rejeição dos transgênicos favorece produtos brasileiros
Campinas - Por não ter autorizado legalmente o plantio de soja e milho transgênicos, o Brasil hoje está em grande vantagem no mercado mundial, conquistando terrenos perdidos pelos Estados Unidos e Argentina, tanto na Europa como na Ásia.
O termômetro de grandes mudanças, que ainda devem se consolidar, foi a reunião dos ministros de meio ambiente europeus, em Luxemburgo, no último dia 29, onde se discutiu a moratória de três anos nas importações de transgênicos. Três anos é o tempo pedido pelos governos para implementar medidas de rotulagem e rastreabilidade dos organismos geneticamente modificados (OGMs), como também são conhecidos os transgênicos.
A rotulagem visa garantir o direito do consumidor saber o que está comprando. A rastreabilidade tem sido cada vez mais exigida no comércio internacional e tem como objetivo evitar que a carga de grãos não seja acidentalmente contaminada ou sabotada. Para tanto, exige-se a certificação e empresas ou consultores independentes acompanham o produto, desde o plantio até o desembarque e transporte ao destino final, incluindo avaliação na colheita, armazenagem e eventuais processamentos.
Na reunião dos ministros, a Comissão Européia queria levantar a moratória, que considera ilegal, mas a maioria dos países ali representados não quis discutir novas autorizações de transgênicos antes da regulamentação da rotulagem e rastreabilidade entrar em vigor (o que levaria 3 anos). Eles se apoiaram, sobretudo, nas pesquisas de opinião feitas com consumidores europeus, em que mais de 80% dos entrevistados se declara contra os transgênicos, pedindo não somente seu banimento nos produtos de consumo humano, mas também na composição de ração animal.
"Os consumidores europeus não vêem nenhuma vantagem nos transgênicos: não são mais baratos ou melhores do que os produtos agrícolas tradicionais, pelo contrário, só há incertezas quanto aos riscos à saúde e ao meio ambiente", disse, em entrevista à Agência Estado, o belga Jean-François Fauconnier, do Greenpeace Internacional, de passagem pelo Brasil. Segundo ele, por pressão dos consumidores, os supermercados europeus têm sido a grande frente de pressões sobre a indústria e produtores agrícolas, contra os trangênicos. E muitas empresas estão evitando os transgênicos como decisão de mercado, porque não conseguem comercializar produtos que os contenham. "Os consumidores e supermercados conseguiram proibir o uso de transgênicos nos produtos de consumo humano, nos países da União Européia, e agora estão caminhando para eliminá-los também das rações fornecidas aos animais", observou.
Os países europeus já não produzem grãos transgênicos. Nem mesmo algumas poucas variedades autorizadas são plantadas, à exceção de alguns campos na Espanha. Os produtores também alegam não ter para quem vender e optam por plantações declaradamente livres de OGMs. Entre os grãos importados para ração animal, cerca de 20 a 25% já são totalmente livres de transgênicos e a tendência é deste percentual aumentar rapidamente. Para Fauconnier, o grande beneficiado com as mudanças de mercado é o Brasil, por não ter autorizado o plantio de soja e milho transgênicos.
"O Brasil, segundo produtor mundial de soja, está ganhando os mercados dos Estados Unidos (primeiro produtor) e da Argentina (terceiro produtor)", afirmou o ativista belga. Nos EUA, hoje, cerca de 60% da produção de soja é transgênica. Na Argentina, o percentual já supera os 90%, sobretudo devido à política de venda de sementes de soja Round-Up Ready (da Monsanto) a um custo bastante reduzido. Como nenhum dos dois países consegue assegurar estoques livres de contaminação por OGMs, a opção é importar do Brasil.
"Os compradores sabem, porém, que pode haver contaminação dos grãos brasileiros, por produtos transgênicos plantados ilegalmente, por isso estão buscando a certificação e os exportadores brasileiros estão bem cientes da necessidade de adotar a rastreabilidade", continua Jean-François Fauconnier. A possibilidade de expansão das exportações de soja brasileira são ainda maiores, se consideradas as tendências crescentes de rejeitar os transgênicos, manifestadas no Japão, Coréia do Sul, Tailândia e Filipinas. "Até a China sancionou uma lei de biossegurança, que faz restrições aos OGMs, e vale ressaltar que, nestes mercados asiáticos, o consumo de soja é bem maior, considerando os alimentos humanos e não só rações animais".
Liana John
Volver al principio
Principal- Enlaces- Documentos- Campañas-- Eventos- Noticias- Prensa- Chat