Protestos denunciam atuação das transnacionais no Brasil
Manifestações pelo país reforçam a campanha para expulsar a empresa suíça Syngenta do país; em Brasília, ocupação tenta impedir privatização do rio Madeira
Movimentos sociais do campo fazem, nesta segunda-feira (10), uma série de protestos contra a atuação das transnacionais no Brasil e exigim a expulsão da empresa suíça Syngenta Seeds do território nacional. A companhia realiza experimentos ilegais com sementes transgênicas no Brasil e está envolvida no assassinato do sem-terra Valmir Mota de Oliveira, o Keno, morto por uma milícia armada, em Santa Tereza do Oeste, no Paraná, em 21 de outubro. Até agora, nove seguranças privados e o proprietário da NF Segurança – empresa que era contratada pela Syngenta – foram responsabilizados no inquérito policial sobre a tentativa de expulsão sem autorização judicial de 200 famílias que ocupavam o laboratório de experimentos ilegais da empresa suíça.
Em São Paulo, uma fábrica da transnacional de produção de agrotóxicos foi ocupada; no Ceará, manifestantes realizaram protesto em uma área controlada pela empresa. "O assassinato de Keno não foi um episódio isolado, mas uma conseqüência da forma truculenta como as empresas tratam aqueles que se opõem a seus métodos de obtenção de lucros às custas da exploração de trabalhadores e destruição do meio ambiente", completa Roberto Baggio, dirigente do MST. A Via Campesina realiza uma campanha pela expulsão da empresa do território nacional.
As mobilizações também marcam o Dia Internacional dos Direitos Humanos, 10 de dezembro. Outras bandeiras levantadas nos protestos são a denúncia da privatização dos rios e o apoio à luta de frei Luiz Cappio contra a transposição do rio São Francisco. Pela manhã, cerca de 200 manifestantes ocuparam a sede da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para impedir o leilão da primeira hidrelétrica do Complexo Madeira, a Santo Antônio. Organizações como o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) denunciam que o modelo energético brasileiro beneficia as grandes empresas, que têm sua energia subsidiada pelo governo. Para o MAB, a hidrelétrica do Madeira provocará o desparecimento de dois povoados, desabrigando dez mil pessoas. As empresas que disputam o projeto reconhecem apenas três mil ( leia reportagem).
O Batalhão Especial da Polícia Militar do Distrito Federal despejou, com violência, os manifestantes que estavam no prédio da Aneel. Segundo o MST, oito militantes foram algemados, presos, agredidos fisicamente e estão sem direito a advogados. Além disso, crianças foram separadas das mães durante o despejo. Agora, os manifestantes marcham para a Esplanada dos Ministérios.
Em Rondônia, cerca de mil pessoas ligadas a movimentos camponeses e urbanos marcham pela capital Porto Velho em protesto contra as hidrelétricas no rio Madeira. Uma campanha "em defesa das comunidades atingidas e pela Amazônia" prevê que os donos das barragens do Complexo Madeira vão faturar em média R$ 525 mil por hora, com a venda da energia proveniente da usina. Na disputa por Santo Antônio, estão três consórcios formados por corporações transnacionais, como Votorantim, Suez Energy e Endesa.
Syngenta
A fábrica em São Paulo foi ocupada por volta de 7h30 desta segunda-feira (10), por cerca de 500 trabalhadores rurais da Via Campesina e do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). A unidade fica em Paulínia, próximo a Campinas, interior de São Paulo. Os manifestantes paralisaram a produção de agrotóxicos na unidade.
No litoral leste do Ceará, 250 trabalhadores rurais da Via Campesina, na localidade de Flecheira, município de Aracati, realizaram pela manhã um protesto na área da Syngenta. Também no Estado há informações de que a empresa estaria realizando testes com sementes geneticamente modificadas sem autorização do governo. “Ela nunca trouxe benfeitoria ao país”, afirma o integrante da Via Campesina João Paulo Pereira. O protesto ocorre também em solidariedade ao frei Luiz Cappio, que entra nesta segunda-feira em seu 14º dia de jejum (leia mais).
No Espírito Santo, cerca de 300 trabalhadores rurais da Via Campesina e do MST ocuparam o trevo da Safra na BR-101 Sul, entre os municípios de Cachoeira de Itapemirim e Itapemirim (ES), para protestar contra a atuação das empresas transnacionais no Brasil, em especial a Syngenta.
Em Sergipe, um protesto de 1.500 trabalhadores rurais, pertencentes também a esses movimentos, paralisou o trânsito da ponte que liga Alagoas a Sergipe, entre Porto Real do Colégio e Propriá, por toda a manhã desta segunda-feira (10/12), também em solidariedade à greve de fome do bispo Luiz Flávio Cappio e contra a transposição do Rio São Francisco.
Na Paraíba, o MST e a Via Campesina realizaram uma série de mobilizações em quatro municípios do Estado, dentro da campanha "Syngenta Fora do Brasil". No município de Sapé, foi fechada a BR-230, na altura do Café do Vento, com 500 pessoas. Em João Pessoa, aconteceu uma mobilização na avenida D. Pedro II com 200 pessoas. Em Campina Grande, na região da Borborema, houve uma planfletagem e uma passeata com 200 pessoas. Em Patos, no médio sertão, 300 pessoas entregaram materiais sobre a morte de Keno.
Na semana passada, a Justiça Federal do Estado do Paraná julgou ilegais as atividades desenvolvidas pela Syngenta no Oeste do Estado. A decisão obriga a empresa a pagar multa de R$ 1 milhão, como determinou o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), pela realização de experimentos transgênicos na zona de amortecimento de 10 km da área do entorno do Parque Nacional do Iguaçu, em 2006.
Eduardo Sales de Lima, da redação
Agência Brasil de Fato, 10-12-07