Planeta terra abriga 8,7 milhões de espécies
Se extraterrestres chegassem à Terra, certamente uma das perguntas que fariam seria quantas formas diferentes de vida existem neste planeta, e “nos envergonharia a incerteza da nossa resposta”, disse Robert May, eminente zoólogo da Universidade de Oxford
Quem conta esta história são os cientistas de uma equipe internacional que realizou a última estimativa da quantidade de espécies que há na Terra. 8,7 milhões de espécies, 25% delas no oceano, poderiam responder estes cientistas, liderados por Camilo Mora, aos extraterrestres de May. Embora pontualizem que seu erro calculado é de 1,3 milhão para mais ou para menos; trata-se de um número consideravelmente preciso, levando em conta que até agora se situava o número total de espécies entre três milhões e cem milhões. “Se não sabemos, nem sequer pela ordem de magnitude (um milhão, dez milhões, cem milhões...) o número de habitantes de um país, como poderíamos planejar o futuro?”, pondera, a modo de exemplo, um dos autores da pesquisa, Boris Worm (Universidade Dalhousie, Canadá).
A reportagem é de Alicia Rivera e está publicada no jornal espanhol El País, 24-08-2011. A tradução é do Cepat.
86% de todas as espécies terrestres e 91% das marinhas ainda não foram descobertas, descritas e catalogadas, assinalam Mora (pesquisador da Universidade Dalhousie e da Universidade do Havaí, nos Estados Unidos) e seus colegas, que apresentam sua técnica de estimativa de espécies e os dados resultantes na revista científica eletrônica Plos Biology. Desde que, há 253 anos, o cientista sueco Carl Linneo criou o sistema para nomear e descrever espécies que se utiliza até hoje, foram catalogados algo mais de 1,2 milhão (aproximadamente um milhão em terra e 250.000 nos oceanos) e são recolhidos na base geral de dados; calcula-se que cerca de 700.000 estariam descritas e à espera de entrar na base de dados.
A distribuição de espécies entre os diferentes reinos da vida eucariota na Terra é notavelmente precisa: aproximadamente 7,77 milhões de animais (apenas 953.434 descritas e catalogadas); 298.000 espécies de plantas (214.644 catalogadas); 611.000 de fungos (43.271 catalogadas); 36.400 de protozoários (organismos unicelulares), dos quais 8.118 estão catalogados; 27.500 de chromistas (como as diatomáceas) com 13.033 catalogadas. No total, 8,74 milhões de espécies na Terra, mais quase 11.000 arqueia e bactérias.
A técnica desenvolvida para obter esta estimativa se baseia na observação da hierarquia de categorias taxonômicas, desde o nível de espécies e gêneros, passando por ordens e classes até fila e reinos, explica May em um artigo complementar também no Plos Biology. Mora e seus colegas constataram que para os eucariotas, a descrição das categorias taxanômicas mais altas é muito mais completa que nos níveis mais baixos. Além disso, analisando os agrupamentos taxonômicos nas 1,2 milhão de espécies que há atualmente no Catálogo da Vida e no Registro Mundial de Espécies Marinhas, descobriram padrões numéricos que relacionam os níveis taxonômicos mais altos com o das espécies. Estes padrões permitem fazer as estimativas de número de espécies em grupos menos conhecidos e obter um número total com uma margem de erro.
O interesse por conhecer o número de espécies não responde à mera curiosidade científica ou ao desejo de ficar bem diante de um hipotético extraterrestre que visite a Terra fazendo boas perguntas. A questão do número de espécies no planeta, junto com a pesquisa sobre sua distribuição e abundâncias, “é particularmente importante agora, porque uma grande quantidade de atividades humanas e impactos está acelerando a taxa de extinção; muitas espécies podem desaparecer antes mesmo que saibamos que existem, de que conheçamos seu nicho e função nos ecossistemas e de que possamos explorar sua potencial contribuição para melhorar o bem-estar humano”, declara Mora em um comunicado do programa Censo da Vida Marinha.
A última atualização da Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) recolhe 59.508 espécies, das quais 19.625 estão classificadas como ameaçadas, assinala Worm. Isto significa que esta lista, considerada a mais avançada neste âmbito, está observando menos de 1% das espécies do planeta.
Embora o número de 8,7 milhões de espécies seja muito inferior às estimativas máximas que rondam os cem milhões, o trabalho que resta para conhecê-las é monumental, ao menos se se pretende fazer como até agora foi feito. “A descrição de todas as espécies que restam, exigiria, com os enfoques tradicionais e baseando-se em custos e equipes atuais, cerca de 1.200 anos de trabalho de mais de 300.000 taxonomistas e um custo de 364 bilhões de dólares”, assinalam os pesquisadores. “Felizmente, novas técnicas com o código de barras de DNA estão reduzindo radicalmente o custo e o tempo necessário para a identificação de novas espécies”.