Pesquisas sobre alimentos transgênicos não chegam a uma conclusão definitiva


Prensa


CIÊNCIA-The New York Times, EEUU, 14-12-00

Pesquisas sobre alimentos transgênicos não chegam a uma conclusão definitiva
Carol Kaesuk Yoon


Desde que as safras de alimentos transgênicos passaram a integrar o mundo da agricultura americana, defensores e opositores dos novos produtos passaram a competir na elaboração de argumentos para decidir se eles são inofensivos ou danosos para o meio ambiente. Na próxima sexta-feira (15), em um texto que representa, segundo alguns cientistas, a primeira resenha abrangente de todos os dados científicos já coletados, dois pesquisadores irão demonstrar que por enquanto não se pode chegar a conclusões tão simples, pois há ainda muito o que se pesquisar a respeito do assunto.

Os dois autores do estudo publicado na revista "Science" são pesquisadores financiados pela Associação Americana para o Progresso da Ciência, a maior das instituições de pesquisa do mundo que não possui fins lucrativos.

Neste estudo, além de afirmarem a necessidade de uma continuidade para a pesquisa, os autores afirmam que as informações atualmente disponíveis indicam que é igualmente complexo afirmar-se a existência de algum risco ambiental, pois as taxas de risco variam de acordo com a colheita, e mesmo entre amostragens de uma

mesma colheita, entre ambientes diversos e entre períodos diversos. As dificuldades para a avaliação de alguns riscos ecológicos, eles afirmam, são tão grandes em alguns casos que se pode dizer que ela é praticamente indeterminável.

"Estamos muito, muito longe de chegar a alguma resposta", afirmou a Dra. LaReesa Wolfenbarger, uma ecologista que faz pesquisas na Agência de Proteção Ambiental e é autora de um estudo em parceria com o Dr. Paul Phifer, um biólogo que trabalha com conservação e que realiza sua pesquisa junto ao Departamento de Estado. Os autores enfatizam que realizaram o estudo de forma independente e que não falam em nome do governo. "Algumas destas questões são muito misteriosas, mas isto não quer dizer que nós não devemos nos ocupar delas ou concluir apressadamente que elas simplesmente não existem".

Num encontro raro de opiniões, os cientistas de ambos os lados do debate consideraram o estudo preciso e muito bem feito, embora cada um dos lados tenha

interpretado as novas informações de um modo diferente.

"Trata-se de um levantamento bastante completo e muito equilibrado", afirmou o Dr. Robert Fraley, Presidente Geral do setor técnico de Monsanto. Entretanto ele minimizou as descobertas, e afirmou que o que mais importava era o fato de que, após vários anos de utilização comercial, as plantas biotécnicas não acarretaram nenhum problema ecológico.

A Dra. Jane Rissler, cientista sênior da União dos Cientistas Ativos, um grupo que criticou a regulamentação das safras transgênicas, definiu o estudo como "muito correto e muito claro", e afirmou: "Depois da leitura, fica para nós a forte impressão de que não sabemos quais são os riscos e quais são os ganhos. Se não sabemos, então por que continuamos fazendo isto?"

Susan McAvoy, porta-voz do Departamento de Agricultura, que supervisiona a regulamentação dos transgênicos, afirmou que cientistas do Departamento estavam

avaliando este estudo.

Os pesquisadores restringiram sua investigação a textos publicados em revistas especializadas - isto é, em revistas nas quais outros cientistas determinam se o trabalho possui qualificação suficiente para ser encaminhado ou não para a publicação. Trinta e cinco textos foram examinados. Os pesquisadores não se ocuparam com os diversos estudos realizados no campo da indústria e que são apresentados aos reguladores do governo como prova da ausência de riscos, mas que não são publicados e nem avaliados pelos cientistas.

Os pesquisadores trataram de riscos como, por exemplo, a produção de "superervas", a criação de novas doenças virais e de danos involuntários a espécies, como a das borboletas, que não são responsáveis por pestes agrícolas. De modo geral, a conclusão dos pesquisadores foi que enquanto alguns estudos apontam para o potencial de riscos, outros mostram resultados conflitantes como uma prova da ausência de risco. Em alguns casos, estudos de laboratórios indicam a existência de riscos, mas não houve estudos que testam efetivamente se pode ou não pode haver algum dano efetivo.

Do mesmo modo, enquanto alguns estudos revelaram o potencial benéfico das safras transgênicas, os pesquisadores revelaram que elas nem sequer documentaram algum benefício real ao meio ambiente. Por exemplo, os pesquisadores relatam que um estudo do Departamento de Agricultura indicava uma queda de 1% no volume de pesticidas utilizados em plantações de milho, algodão e soja no ano de 1998, o que seria aparentemente uma conseqüência da adoção de safras transgênicas. 

Entretanto, afirmou Wolfenbarger, não se sabe ainda ao certo se esta redução do emprego de pesticidas se traduziu em alguma espécie de benefício para as espécies selvagens.

Tradução: André Medina Carone

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