Pesquisas identificam maior alcance de contaminação das plantas transgênicas

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Novas pesquisas desenvolvidas pela Universidade de Exeter, no Reino Unido, demonstram que os campos experimentais conduzidos para determinar as distâncias mínimas que devem separar lavouras transgênicas de não-transgênicas, a fim de evitar a contaminação genética, têm levado a resultados subestimados

O estudo foi financiado pelo Conselho de Pesquisa em Ambiente Natural e publicado na revista Ecological Applications.

Os pesquisadores usaram dados sobre a velocidade e a direção dos ventos obtidos em estações climáticas em diferentes pontos da Europa para prever o movimento do pólen no ar. A análise dos dados mostrou que o pólen poderia contaminar campos vizinhos em taxas duas a três vezes maiores do que se pensava originalmente.

Os estudos mostraram que a polinização pelo vento em milho, canola, beterraba açucareira e arroz varia enormemente de acordo com a orientação relativa entre as lavouras transgênicas e não-transgênicas, ou seja, em função de a lavoura transgênica estar localizada “vento acima” ou “vento abaixo” da lavoura não-transgênica, considerando a direção predominante do vento no período de florescimento da cultura.

Além disso, para os mesmos locais e orientação relativa, as taxas de polinização cruzada podem variar significativamente de um ano para o outro. Conseqüentemente, mesmo campos experimentais replicados podem estimar níveis de polinização de forma imprecisa e assim distorcer a percepção sobre as distâncias de separação necessárias para alcançar um determinado limite de contaminação por transgênicos.

O estudo ainda revela pesquisas que já demonstraram que o pólen transgênico pode fertilizar lavouras convencionais num raio de mais de 16 km. O governo inglês atualmente planeja determinar a distância mínima de 110 metros para separar milho transgênico de não transgênico. Mas as pesquisas demonstram que esta distância deveria ser sete ou oito vezes maior para manter a contaminação no limite de 0,9% (contaminação máxima permitida na Europa para produtos não-transgênicos).

Segundo Martin Hoyle, pesquisador-chefe do estudo, “uma vez que existam lavouras transgênicas crescendo, a contaminação de outras lavouras ocorrerá inevitavelmente”.

O agrônomo Valdir Izidoro Silveira, presidente da empresa de Classificação do Paraná (Claspar), acrescenta que é preciso ainda destacar que a dispersão do pólen pelo vento é apenas um dos fatores que provocam a contaminação genética. “Agricultores convencionais e orgânicos em vários países estão sofrendo os efeitos da contaminação que acontece no transporte e no armazenamento da produção, além da própria contaminação das sementes”, explica.

Outra fonte recorrente de contaminação são as plantas transgênicas que persistem e crescem em campos não-transgênicos onde, em ciclos anteriores, existiram lavouras transgênicas. Ou seja: a cada dia aparecem novas evidências mostrando que a questão da contaminação genética é muito mais complexa do que qualquer norma de coexistência existente no mundo pôde até hoje prever.

E afirma: “Podemos também citar inúmeros relatos de agricultores brasileiros que estão tendo suas produções de soja não transgênica certificada ou orgânica inviabilizadas devido à contaminação. É evidente que no caso do milho, que ao contrário da soja, é uma planta de polinização predominantemente aberta e feita pelo vento, o problema será muito maior, incontrolável.Infelizmente, todas estas evidências científicas e empíricas têm sido solenemente desconsideradas pela CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança), que acaba de autorizar o plantio comercial de uma variedade de milho transgênico e já planeja autorizar uma lista de várias outras. Estas autorizações estão sendo feitas dispensando-se a realização de estudos para a avaliação de riscos à saúde e ao meio ambiente e sem dar a mínima importância para o problema da contaminação”.

Valdir finaliza ressaltando que “no caso da liberação do milho da Bayer, órgãos como Ibama e Anvisa podem contestar a liberação e apresentar recursos ao CNBS - Conselho Nacional de Biossegurança, que reúne 11 ministros e é presidido pela Casa Civil. Outra opção é que este conselho chame para si a decisão final. Não está garantido que isso acontecerá. Mais do que nunca, a pressão da sociedade civil sobre os ministros é fundamental, exigindo uma postura responsável para com a sociedade e o meio ambiente no Brasil”.

Agência Estadual de Notícias, Brasil, 11-06-07

 

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