Observadores ainda temem fracasso na Conferência sobre Biodiversidade
Depois da primeira semana, muitos observadores da 10ª Conferência das Partes da Convenção Diversidade Biológica (CDB), especialmente ONGs, ainda temem um fracasso semelhante ao da Conferência do Clima, realizada ano passado em Copenhagen
Esse foi um dos aspectos ressaltados na entrega do prêmio “Pássaro Dodô” recebido pelo Canadá e União Européia nesta segunda-feira (25/10). Mas o troféu da rede de ativistas e ONGs CBD Alliance não é motivo de alegria. Ele foi entregue para os países que vêm barrando avanços nas negociações que têm o objetivo de diminuir a perda da biodiversidade. Esse pássaro é um símbolo da extinção de expécies pela ação do homem.
O Brasil passou perto de receber o troféu pelas posturas com relação aos agrocombustíveis. É que o país não aceita barreiras para a produção dos combustíveis feitos de plantas. Há preocupação sobre esse assunto porque os agrocombustíveis são produzidos principalmente em grandes monoculturas, consumindo agrotóxicos e gerando diversos danos para a natureza e às populações.
Para a pesquisadora Camila Moreno, da organização ambientalista NAT – Amigos da Terra, na primeira semana ficou claro que a saída que os países vêem é de colocar preço da biodiversidade. Camila Moreno acredita que os discursos estão gerando uma distorção. Ela critica que esta conferência das Nações Unidas (ONU) aceite a ideia de que as empresas podem ser os atores principais da conservação da biodiversidade porque sempre destruíram o meio ambiente. Ao contrário, Camila defende que os povos tradicionais e os camponeses devem ser considerados pelos países como os que conservam a vida e a natureza.
A pesquisadora critica a criação de um mercado para os tipos de vida parecido com o mercado de carbono da Convenção do Clima. Mas Camila admite que não há por parte de ONGs e movimentos sociais uma outra proposta para conservação.
Já para o superintendente de conservação do WWF-Brasil, as negociações são difícieis, nada está certo, mas há esperança de avanços. Para Cláudio Maretti, o plano estratégico com vinte metas para 2020 é o ponto mais importante desta convenção. Sobre os questionamentos do papel das empresas, a posição do WWF é de que as empresas fazem parte da sociedade e devem ser convencidas da importância de trabalhar de modo sustentável.
Cláudio Maretti não acha que a questão econômica está em primeiro plano hoje, mas defende essa dimensão dentro da convenção. Afinal, ele diz que sem dinheiro para fiscalizar e criar áreas protegidas é impossível fazer as metas se concretizarem. Sobre a economia baseada no capital natural, ele lembra que esta é a base do protocolo de Acesso e Repartição de Benefícios que está sendo negociado. Este protocolo é um dos pontos mais importantes da Conferência. A ideia é que as empresas, como as fabricantes de remédios, têm que pagar pela conservação e pelos conhecimentos providenciados pelos povos tradicionais, como os indígenas.
Ainda não há resultado a ser apresentado destas negociações que acontecem em Nagóia, No Japão, mas a pressão sobre os negociadores é crescente. Na próxima quarta-feira começa a negociação de alto nível. É quando chegam os ministros dos países partes da Convenção de Diversidade Biológica. Há uma semana, funcionários dos governos constroem os textos que podem virar consenso e acordos a partir da chegada dos ministros.
Na quinta-feira passada, durante uma coletiva de imprensa, representantes do governo brasileiro voltaram a afirmar que sem o Protocolo de Acesso e Repartição dos Benefícios da Biodiversidade o Brasil não vai aprovar o plano estratégico e o plano financeiro para reduzir a perda de biodiversidade até 2020. A aprovação destes dois planos são os outros ponto-chaves da convenção. Qualquer aprovação só pode acontecer se todos os países concordarem. Outros países subdesenvolvidos têm repetido continuamente o mesmo discurso do Brasil.