O milho transgênico Monsanto 810 produz uma toxina inseticida de maneira errática
A vida sofre o maior mal ao dobrar-se à estandardização. O milho Mon 810 da Monsanto, geneticamente modificado para produzir uma toxina capaz de matar certos insetos predadores, tais como a pirálide e a sesamide, traz em si uma nova ilustração
Dois estudos, um dos quais conduzido por GreenpeaceAlemanha, acabam realmente de mostrar que as concentrações da molécula inseticida Cry1Ab, variam de uma planta à outra e também no decurso da estação. A notícia é do jornal Le Monde, 21-05-2007.
Estas taxas diferem “de 1 a 100”, segundo Greenpeace, que fez analisar 619 amostras recolhidas em 2006 na Alemanha e na Espanha. Alguns fragmentos, segundo constata a organização ecológica, não trazem nem sequer vestígios da famosa toxina, originalmente retirada duma bactéria, Bacillus thringiensis (Bt), da qual um gene foi transferido à planta por engenharia genética.
Além da variabilidade observada, as concentrações médias são mais baixas do que aquelas apresentadas pela Monsanto. Segundo o agroquímico americano, a taxa média de toxina é de 9,35 microgramas por grama de matéria fresca nas folhas. Os valores médios referidos por Greenpeace iam de 0,5 a 2,2 microgramas. E aquelas publicadas em abril no Journal of Plant Diseases and Protection por dois pesquisadores alemães eram estabelecidas entre 2,4 e 6,4 microgramas e revelavam também “uma forte variação entre cada planta”.
Reconsideração dos procedimentos
“Tal variabilidade não surpreenderá os biólogos, mesmo se for alegremente quantificada”, assegura DenisBourguet (INRA Montpellier). Ela fora observada no milho Mon 176, cuja produção de toxina decrescia no decurso da estação, o que havia finalmente acarretado sua retirada. O importante, segundo ele, é que os níveis de toxinas sejam suficientes no momento em que as larvas passam ao ataque. Senão, o risco poderia ser o de selecionar insetos resistentes e tornar inoperantes certas moléculas tiradas de Bt e utilizadas em agricultura biológica. “Até agora, nota ele no entanto, encontram-se muito raramente larvas de pirálide em fim de estação nos campos de Mon 810”.
Para Arnaud Apotheker, de Greenpeace França, estes novos dados revelam “diversos aspectos desconhecidos concernentes ao Mon 810, notadamente ao nível de toxicidade real de Cry1Ab”. Será que a toxina continua eficaz em taxas menos elevadas do que aquelas anunciadas por Monsanto? E, se é este o caso, significa isso que a molécula é mais ativa do que se pensa? Para evitar que mutantes capazes de sobreviver apareçam, a doutrina quer que a dose produzida pela planta se situe a 25 vezes a dose requerida para matar 99% dos insetos alvos. Será que se está sempre neste esquema?
“Estas incertezas mostram a fragilidade global dos processos de avaliação dos OGM. A gente se dá conta que se conhece muito mal sua biologia”, sublinha Arnaud Apotheker. Ele apela, pois, a uma reconsideração dos procedimentos de homologação, no momento em que Mon 810, autorizado há dez anos, e principal OMG cultivado na Europa, deve tornar-se objeto de uma reavaliação. No final de abril a Alemanha decidiu suspender a comercialização destas sementes, na expectativa de um plano de vigilância melhorada exigida à Monsanto, que não nos foi possível acessar para comentar estes novos dados.