O ''mea culpa'' de Al Gore sobre os biocombustíveis

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Para o ex-vice-presidente dos EUA e prêmio Nobel, os biocombustíveis trazem poucas vantagens para o meio ambiente. Na realidade, "mais danos do que vantagens"

A reportagem é de Angelo Aquaro, publicada no jornal La Repubblica, 30-11-2010. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

 

 

"O bioetanol obtido do milho produz 29% menos de gases nocivos para o efeito estufa, enquanto o bioetanol produzido com celulose pode cortar até 85% dos gases". Quem disse isso? Al Gore, ex-vice-presidente dos Estados Unidos, em 2006.

 

 

E agora ouçam esta frase: "O uso do etanol foi um erro: o ganho da reconversão energética é, no melhor dos casos, muito baixo". Quem disse isso? Novamente Al Gore, quatro anos e depois prêmios (Nobel e Oscar) depois. E, sobretudo, nos dias em que, em Cancun, o mundo busca um novo e difícil acordo sobre o clima.

 

 

Eis, portanto, qual era a "verdade inconveniente", como diz o título do seu livro que se tornou filme: o bioetanol não era, assim, um bom negócio para o meio ambiente. Para ele, bem, o discurso é diferente. Porque o próprio Big Al admite uma verdade ainda mais inconveniente: "Cometi esse erro porque prestei atenção particularmente aos agricultores do meu Tennessee e aos de Iowa, porque naquele momento eu concorria à presidência".

 

 

A autocrítica de Al Gore foi logo usada pelos seus numerosíssimos críticos, que não são apenas os anti-históricos detratores das mudanças climáticas. Os ataques vieram de um jornal como o "direitista" Wall Street Journal, que, além das dúvidas sobre o aquecimento global, sempre combateu uma consequência de certas políticas ambientalistas: a das ajudas. Entre os cortes de impostos às companhias petrolíferas que apostam no "biofuel" e os subsídios aos agricultores, o contribuinte norte-americano colocou no bolso dessas empresas mais de 7 bilhões de dólares só no último ano. Mas não é suficiente.

 

 

Há dois anos, a revista Science havia demonstrado que a reconversão dos campos para a produção do bioetanol causaria paradoxalmente até a duplicação dos gases do efeito estufa. Porém, a EPA, a agência ambiental norte-americana, está pensando em aumentar seu percentual presente na gasolina de 10% para 15%. Uma decisão que obrigaria 74 milhões de norte-americanos a mudar de carro, visto que os motores em circulação não seria capazes de absorver esse nível de mistura.

 

 

Mas ainda não é suficiente. O uso do bioetanol está sob acusação também por causa da loucura nos preços que ele acarretou: 41% do milho dos EUA, isto é, 15% de toda a produção mundial, já são empregados nos combustíveis, e isso faz aumentar os preços das provisões alimentares principalmente nos países em desenvolvimento. E a cereja sobre o bolo é um estudo do próprio Departamento de Agricultura: o preço do milho em cinco anos subiu 71%, enquanto o do petróleo "apenas" 55%.

 

 

Os detratores do Nobel deveria, no entanto, prestar atenção também à segunda parte da argumentação. Porquem se "foi equivocada a política dos subsídios maciços para o etanol de primeira geração", Gore está convicto de que o etanol de segunda e terceira geração, isto é, aquele produzido utilizando os detritos agrícolas que não incidem sobre os preços dos alimentos, continua sendo uma ótima alternativa. Pelo menos até a próxima autocrítica.

 

 

Outra Política, Internet, 30-11-10

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