No Brasil, Sem-Terra atacam OGM e deixam um dos seus
Converteu-se em martir de uma nova causa no Brasil: a luta conta o modelo de produção agrícola “neoliberal”. Valmir Mota era membro do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Ele foi morto o 21 de outubro, numa troca de tiros no campo experimental de OGM . O campo, localizado em Santa Tereza do Oeste (Estado do Paraná), pertence a um mastodonte europeu: o grupo suiço Syngenta, número 1 no mundo da agroquimica
Mota era um dos 200 militantes do MST e da Via Campesina, uma rede internacional de organizações camponesas, que haviam ocupado o campo. O confronto teve lugar enquanto os vigias – “fortemente armados” segundo o MST – da NF Segurança, uma empresa de vigilância, tentavam expulsá-los. Um vigia foi igualmente morto. O patrão da NF Segurança, interrogado, afirmou haver tomado ele mesmo a decisão de enviar seus homens. Entretanto, assegura que não teria feito nada disto sem consentimento de Syngenta. A multinacional assegura, por sua vez, que não autorizou o uso da força ou de armas.
O drama ilustra dolorosamente uma mudança na luta do Movimento Sem-Terra. Fundado em 1984, ele costuma ocupar propriedades para pressionar o governo a realizar exproprição e redistribuição de terra, num país onde 45% das terras cultiváveis se encontram concentradas nas mãos de 1% dos proprietários de terra. Desta vez, as suas motivações eram outras. Na sede do campo da Syngenta, o MST protestava conta as experiências “ilegais” realizadas pela multinacional. O Cultivo de OGMs está, a princípio, interditado naquele local, porque ele se encontra próximo do Parque do Iguaçu, inscrito no patrimônio da humanidade pela Unesco. Entretanto, Syngenta afirma possuir a autorização necessária para realizar estes cultivos.
ESTRATÉGIA
“O MST continua sua luta pelo acesso à terra", explica Roberto Baggio, membro da coordenação nacional. "O movimento decidiu, entratanto, atacar também as transnacionais que ameaçam a biodiversidade, propagando os OGM, e a agricultura em grande escala para exportação, cuja extensão coloca em risco a soberania alimentar e agrava a concentração da terra”. Entre os acusados está o governo de Lula, aliado histórico do MST, que hoje privilegia o “agronegócio”. O governo afirma ter assentado terras a 381.400 familias entre 2003, ano em que assumiu o poder, e 2006.
Chantal Rayes
(Tradução do francês: Daniel S. Pereira – São Paulo/SP)